Espanha não ofereceu ‘contrapartida’ a Maduro para retirar González Urrutia de Caracas, diz chanceler da Espanha




O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que a negociação para a retirada do opositor Edmundo González Urrutia da Venezuela não concedeu nenhuma contrapartida de reconhecimento ao regime de Nicolás Maduro. Em entrevista ao jornal El País, o ministro espanhol disse que o asilo concedido apenas por razões “humanitárias e políticas”.

“Não há nenhum tipo de contrapartida, não houve nenhum tipo de negociação política entre governos. A Espanha não mudou e nem mudará sua posição em relação ao resultado eleitoral de não reconhecê-lo sem as atas [de votação]”, disse o chanceler espanhol, em entrevista ao jornal.

González Urrutia desembarcou na base aérea de Torrejón, perto de Madri, no domingo, um dia após deixar a capital venezuelana em um avião militar espanhol. Alvo de um mandado de prisão e cinco acusações criminais movidas pelo Ministério Público — controlado pelo chavismo —, o opositor não era visto em público desde as eleições, realizadas em julho. De acordo com o ministro das Relações Exteriores da Holanda, Caspar Veldkamp, González ficou alojado por mais de um mês na Embaixada do país em Caracas, deixando o local no dia 5 de setembro.

A operação para a saída do opositor da Venezuela vinha sendo organizada há duas semanas, segundo fontes oficiais. As negociações contaram com a participação do ex-presidente espanhol José Luiz Rodríguez Zapatero e importantes autoridades venezuelanas, como o presidente da Assembleia Nacional do país, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente Delcy Rodríguez.

Base aérea de Torrejón, onde González Urrutia desembarcou na Espanha — Foto: Thomas Coex/AFP
Base aérea de Torrejón, onde González Urrutia desembarcou na Espanha — Foto: Thomas Coex/AFP

Albares confirmou ao jornal espanhol que González Urrutia esteve na residência oficial do país em Caracas, de onde saiu em direção à Espanha. O ministro também indicou que o ex-presidente Zapatero desempenhou “um papel positivo na libertação” , e que a Espanha agiu para garantir a retirada de González a pedido do próprio candidato opositor.

“Foi Edmundo González quem pediu ao governo da Espanha que fosse acolhido em nosso país. Não hesitamos em responder a este pedido”, disse Albares, que também ressaltou que a operação não foi guiada por “afinidades ideológicas” com Maduro.

José Manuel Albares, ministro das Relações Exteriores da Espanha — Foto: STEPHANE DE SAKUTIN / AFP
José Manuel Albares, ministro das Relações Exteriores da Espanha — Foto: STEPHANE DE SAKUTIN / AFP

Durante a entrevista, o ministro espanhol também afirmou que a única solução para a crise venezuelana seria uma negociação entre governo e oposição, uma vez que o acesso às atas de votação, via Conselho Nacional Eleitoral (CNE), parece pouco provável. Albares disse que sem as atas seria impossível reconhecer Maduro ou González como vencedor, e que uma imposição externa poderia replicar o cenário Juan Guaidó, em que o opositor foi reconhecido pela comunidade internacional, mas nunca chegou ao poder de fato.

“A única saída continua a ser uma solução pacífica entre os venezuelanos, uma fórmula genuinamente venezuelana”, disse o ministro, ao ser questionado sobre.

‘Portas abertas’ a María Corina

O ministro espanhol também comentou sobre a líder opositora María Corina Machado, que também é alvo de pressões institucionais e políticas. De acordo com Albares, a líder opositora seria bem-vinda ao país, mas não pediu asilo.

“A Espanha tem suas portas abertas para quem necessitar, mas quero deixar claro que María Corina Machado não solicitou nada”, disse o chanceler.

Líder da oposição venezuelana, María Corina Machado. — Foto: Gabriela Oraa / AFP
Líder da oposição venezuelana, María Corina Machado. — Foto: Gabriela Oraa / AFP

A líder opositora falou sobre o exílio do aliado no domingo. Em um comunicado publicado nas redes sociais, María Corina disse que a vida de González “corria perigo” e que, nesse contexto de “crescentes ameaças, intimações, mandados de prisão”, seu exílio era necessário para “preservar sua liberdade, sua integridade e sua vida”.

Crise na Embaixada da Argentina

Albares também comentou sobre a situação da Embaixada da Argentina em Caracas, que ficou sob custódia do Brasil desde a decisão do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de expulsar o corpo diplomático argentino do país. Questionado se a perda da proteção da embaixada antecipou à retirada de González do país, o diplomata negou.

“Não. Em todo caso, rechaçamos a situação em torno da Embaixada argentina sob gestão do Brasil”, disse.

No sábado, o regime venezuelano revogou a autorização para que o local ficasse sob custódia do governo do Brasil no país, alegando suposto planejamento de atos terroristas por “fugitivos da Justiça venezuelana que nela estão abrigados” no local. Uma fonte do governo brasileiro em Caracas disse que o governo recebeu “com surpresa” a notícia, e o Itamaraty afirmou, em nota, que só deixará a custódia quando outro país assumir o local.

Policiamento ao redor da Embaixada da Argentina em Caracas, neste sábado — Foto: Reprodução/Comando Venezuela
Policiamento ao redor da Embaixada da Argentina em Caracas, neste sábado — Foto: Reprodução/Comando Venezuela

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu a situação com a secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, número dois do ministro Mauro Vieira (em agenda no Oriente Médio).

As forças policiais do governo da Venezuela cessaram na tarde deste domingo o cerco que mantinham no entorno da Embaixada, após a saída de González Urrutia do país. (Com El País)












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