Brasil é grande mercado de uísque escocês e vendas podem crescer
A cada segundo, cerca de uma garrafa de uísque escocês é exportada ao Brasil e o país se consolidou como o oitavo maior consumidor do produto no mundo em termos de volume e o 16º em relação ao valor. Mas, em breve, os números podem aumentar.
Os dados são da Scotch Whisky Association (SWA), associação comercial chancelada pelo governo britânico que representa a indústria do uísque escocês e que protege o destilado a nível mundial.
Após esforços da SWA, o Brasil reconheceu a Indicação Geográfica (IG) para o uísque escocês em junho, fato que pode impulsionar a economia na casa dos 25 milhões de libras (cerca de R$ 180,3 milhões) nos próximos cinco anos, segundo o Ministério de Negócios e Comércio do Reino Unido.
Esta foi a mais recente indicação na forma de Denominação de Origem (DO) para um produto estrangeiro em território brasileiro desde 2019, quando a tequila mexicana foi reconhecida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
O que significa a Indicação Geográfica?
“Em termos gerais, a Indicação Geográfica facilitará a exportação para o Brasil, principalmente das pequenas empresas. O que provavelmente veremos nos próximos meses é mais variedade de uísque escocês no Brasil”, resume Mark Kent, CEO da Scotch Whisky Association, que veio ao Brasil em setembro para participar de reuniões com autoridades nacionais.
O reconhecimento da nova IG não quer dizer que haverá uma marca visual nas garrafas de uísque escocês vendidas no Brasil. O movimento tem um impacto maior nos bastidores.
“Significa uma garantia ainda maior para os brasileiros saberem que o uísque escocês é genuíno. Isso facilitará a proteção do uísque escocês, bem como a redução da burocracia. Você não notará uma mudança na própria garrafa, mas nos bastidores isso facilitará a proteção e a importação”, categoriza Lindesay Low, vice-diretor de assuntos jurídicos da SWA.
Brasil no top 10 do uísque escocês
A partir da Lei de Propriedade Intelectual, sancionada em 1996, pedidos de IG no Brasil começaram a ser solicitados também por estrangeiros a fim de proteger certos produtos em território nacional. O Vinho do Porto, de Portugal, o queijo Roquefort, da França, e o prosciutto San Daniele, da Itália, são alguns dos 10 produtos internacionais registrados no Brasil como Denominação de Origem.
“O uísque escocês tem proteção na União Europeia e em muitos outros países. Essa proteção é territorial, ou seja, só porque um produto tem Indicação Geográfica na Europa, não significa que ele tenha essa indicação em outras partes do mundo”, explica Lindesay.
A indústria do uísque escocês é fundamentalmente exportadora, com 90% da produção escoada a outros territórios, daí a importância em requerer o reconhecimento do produto em países estratégicos.
Além de China e da Índia, por exemplo, o Brasil também é um dos países-chave: no ano passado, o país importou cerca de 43 milhões de garrafas de uísque escocês de 700 ml, o que significou um valor de mercado avaliado em mais de 88 milhões de libras (R$ 643,3 milhões na cotação atual). Segundo Mark Kent, cerca de 75% de todo o uísque consumido no Brasil é uísque escocês.
“Além da importância em garantir melhor proteção legal, a IG também marca impostos para os exportadores de uísque escocês. Então, o que esperamos é que ela remova certificações extras, papelada e burocracia. Isso significa que o mercado brasileiro será mais atraente para os exportadores e que pequenas empresas entrarão no mercado brasileiro”, conta María José Kong, chefe de comércio da SWA para as Américas.
Outros pedidos do reconhecimento do uísque escocês estão em andamento em países como Argentina e em territórios da África.
Uísques escocês só pode ser… da Escócia
A Indicação Geográfica na modalidade Denominação de Origem reconhece, além do país ou região, que o produto possui características distintas devido aos fatores geográficos de onde é produzido.
“Para conseguir isso, tivemos que demonstrar ao Brasil que o uísque escocês é um produto que só pode ser feito na Escócia e que tem qualidades particulares que só podem ocorrer na Escócia, sejam elas ambientais ou até humanas”, diz Lindesay.
Com a IG, há uma maior proteção contra falsificações ou contra produtos que induzem ao erro. Um uísque feito em Santa Catarina dito como “escocês” não é, de fato, um uísque escocês, por exemplo.
Mark Kent defende que as falsificações tendem a ocorrer com produtos premium. “Assim como outros produtos, há mais incentivos entre a classe criminosa para se envolver em falsificações quando veem que ele faz muito sucesso. E é por isso que temos que prestar atenção”, diz o CEO da SWA.
Não há uma estimativa de quanto a indústria deixa de faturar com as falsificações, mas, na visão dos profissionais, as perdas vão além do prejuízo financeiro, como saúde, infringimento de propriedade e danos para a reputação da indústria.
E como saber se um uísque que se diz escocês é falso? “A primeira coisa é colocar isso em perspectiva: se os consumidores compram em pontos de venda estabelecidos, em bares e restaurantes normais, o risco de adquirir produtos falsificados é mínimo”, garante Lindesay Low.
Uma ferramenta que facilita a vida dos consumidores é o site da receita e da alfândega do Reino Unido, que permite a pesquisa de todas as marcas registradas de uísque escocês. O site pode ser acessado neste link. “Se a marca ou o proprietário não aparecer, isso pode ser motivo de preocupação e provavelmente não é uísque escocês. As pessoas podem contatar as autoridades e a nossa associação”, indica o vice-diretor de assuntos jurídicos da SWA.
O que é um uísque escocês?
Para ser chamado de uísque escocês (scotch whisky), a bebida deve, por lei, ser destilada e envelhecida na Escócia por um mínimo de três anos em barris de carvalho. O uísque escocês deve ser feito apenas com três ingredientes naturais: água, cereais e levedura. A bebida deve conter um teor alcoólico mínimo de 40%.
E qual a melhor forma de apreciá-la? “Com responsabilidade”, crava Mark Kent. “Além da forma responsável, não existe maneira certa ou errada de beber, mas sim como você gosta. Uma das grandes vantagens é que existem muitos tipos, sabores e perfis de uísque escocês que podemos experimentar”, diz o CEO da associação.
Segundo a SWA, a maior parte do uísque escocês consumido no mundo é da categoria Blended Scotch Whisky, uma mistura entre os uísques Single Grain e Single Malt. A Escócia é lar de 151 destilarias de uísque, o que corresponde a maior concentração desta produção no mundo.
Produzido no país há mais de cinco séculos, o uísque escocês é apontado pela Scotch Whisky Association como o destilado mais vendido no mercado internacional no mundo, com exportações para cerca de 168 países avaliadas em mais de 5,6 bilhões de libras em 2023. No mesmo ano, o produto representou 74% das exportações escocesas de alimentos e bebidas e 22% de todas as exportações de alimentos e bebidas do Reino Unido.
Em questão de valor, os Estados Unidos saem na frente como o primeiro mercado do uísque escocês, com exportações avaliadas em 978 milhões de libras em 2023. O cenário muda quando o assunto é volume, com a França saindo na liderança no mesmo período, com 174 milhões de garrafas de 700 ml adquiridas.
Top 5 mercados do uísque escocês em valor em 2023:
- Estados Unidos (978 milhões de libras)
- França (474 milhões)
- Singapura (378 milhões)
- Taiwan (341 milhões)
- China (235 milhões)
Top 5 mercados de uísque escocês em volume em 2023
- França (174 milhões de garrafas)
- Índia (167 milhões)
- Estados Unidos (127 milhões)
- Japão (60 milhões)
- Alemanha (59 milhões)
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