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31 Mar 2025, Mon

Comentei nesta quinta-feira o último duelo das quartas-de-final da Sul-Americana, em Avellaneda, entre Defensa y Justicia e Junior Barranquilla – ao lado de Bernardo Edler, para o Sportv. Na ida, os colombianos haviam vencido em casa por 2 a 0 e a galinha parecia inteiramente depenada. Não estava. O time argentino faz uma temporada boa, era o 3º colocado no Apertura – lembrando que Boca e River só pensam na Libertadores – invicto, e tem de novo no comando o inquieto Sebastian Beccacece, que parece ter nascido para essa função. Os colombianos acabaram se salvando por um golzinho conseguido quando perdiam por 3 a 0. Mas os muchachos argentinos saíram aplaudidos porque deram uma aula de empenho, apesar do amargo gosto de injusticia com que foram dormir.

 

Os argentinos esperaram 10 minutos para ver qual era a do Barranquilla – se sofressem um gol, teriam de fazer 4. Como o time colombiano não queria nada com o jogo, o Defensa Y Justicia fez o que costuma fazer, a não ser contra Boca e River: ataca. Em alta velocidade, com a criatividade de Blanco e Miranda, a movimentação inteligente de Fernandez. O Junior ficou tonto e aos 18 minutos tomou o primeiro direto. Puxada de contra-ataque, a bola sobe e cai no bico da área, onde estava Miranda. Com tempo para ajeitar o corpo e calcular a batida. Saiu um chutaço indefensável: 1 a 0. 

 

Mais dez minutos de pressão e o Defensa acabava com a vantagem colombiana. Bola na área, e bola cai no pé de Fernandez. O ímpeto numa bola daquelas seria encher o pé e estufar a rede. Mas o atacante mostrou calma e categoria para avançar um passo e colocar onde não havia ninguém – o caos na zaga do Junior era tal que se Fernandez não dominasse, Rius dificilmente perderia: Defensa 2 a 0

 

Não se sabia ali se o Junior não queria mesmo sair para o jogo ou se não conseguia. Aos 43, Fernandez recebeu entre os beques, tocou na saída do goleiro e fez o que parecia ser o 3 a 0. Entrou então em cena o VAR. O árbitro brasileiro Raphael Claus foi alertado sobre uma possível falta de Molina em Pico, no momento em que o Defensa recuperou a bola. No replay em velocidade normal, eu não tenho condições de afirmar se o toque, que de fato houve, foi suficiente para configurar falta. Nessa mesma imagem, o árbitro está a dois passos do lance, de frente para o lance, e ao ver o lance, faz o gesto de seguir o jogo. Mas ao ver o lance, desiste do que ele mesmo vira e anula o gol. De novo: no lance em slow, ou câmera lenta, claro que se vê Molina encostando a mão em Pico. Só que futebol não é em câmera lenta. Se o critério for esse, quase todos os gols do mundo serão anulados. 

 

Na volta do segundo tempo, o Defensa continuou enlouquecedor. E aos 9 minutos, num bate-e-rebate, a bola sobrou para Fernandez bater para o gol da pequena área. Não havia nada em que o VAR pudesse pitacar e o gol agora valeu. Ali eliminava-se a possibilidade de pênaltis e aos colombianos restava marcar um gol – ainda que isso acontecesse, o já não seria tão dramática para o Defensa, que precisaria também de apenas mais um.

 

Mas aí surgiu um adversário para os anfitriões melhor do que o time colombiano: o técnico uruguaio Julio Comesaña. Ele conseguiu transformar de novo numa equipe o bando do Barraquilla, com substituições incomuns. Tirou o meia Hernandez, que não marcava nem criava, e colocou… um zagueiro, Sanchez, que fechou o buraco na entrada da área onde os argentinos brincavam. E tirou Moreno, que não impunha o respeito de Téo Gutierrez e não criava nada, e colocou Gonzalez para puxar contra-ataques, reter a bola e agrupar os colombianos.

 

E, para tristeza dos que se empolgavam com a superação argentina, deu certo. Aos 27, Diaz, que mal tocara na bola até ali, recebeu na linha da área. Não houve falha do Defensa, ele estava bem cercado. Mas num belo reflexo, ele dominou e bateu rápido no gol, de trivela, indefensável.

 

O Defensa havia feito 3 gols en 54 minutos, média de um a cada 18 minutos. E agora tinha 18 minutos para fazer mais um. Portanto, algo perfeitamente possível. Mas nos 18 minutos que decidiriam a vaga, o Defensa Y Justicia estava mais cansado, havia tomado um contra-golpe com o gol colombiano e, mais importante, não tinha mais o espaço para trabalhar e correr, e não tinha mais o fator surpresa. Tinha diante de si um time, se não brilhante ou ameaçador, mas um time.

 

Ainda assim, o Defensa teve a bola do jogo com Aliseda, no fim do jogo. Mas desperdiçou. Acontece. O título do post faz um trocadilho com o nome do simpático clube argentino. Mas, sendo rigoroso, os colombianos fizeram sua parte no jogo de ida, foram buscar um gol em situação extremamente adversa, e agora farão uma bela semifinal doméstica com o Santa Fé.

 

Mas que, para o jogo que foi, o Defensa merecia um pouco mais de justicia, lá isso merecia mesmo…



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