Inundação de esgoto no RU da UFSC vira alvo de denúncia

Vazamentos de gás, incêndio de lâmpada e até inundação de esgoto na cozinha têm preocupado a comunidade que frequenta o RU (Restaurante Universitário) do campus Trindade da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Nesta quarta-feira (2), uma denúncia foi protocolada no MPT-SC (Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina) para que essas situações no RU da UFSC sejam investigadas.

Inundação de esgoto no RU da UFSC foi registrada na segunda semana de setembro deste ano – Foto: Sintufsc/Reprodução/ND

A denúncia foi feita pelo Sintufsc (Sindicato dos Trabalhadores da UFSC) e pelo Sindlimp-Fpolis (Sindicato dos Empregados em Asseio e Conservação de Florianópolis).

Segundo a denúncia, o RU enfrentou diversos incidentes em setembro, em que os trabalhadores e os usuários correram riscos de acidentes e passaram por perigos de contaminação alimentar, além de enfrentarem um possível incêndio, afirmou o Sintufsc.

Um vídeo, divulgado pelo próprio Sintufsc, mostra uma inundação de esgoto que atingiu o RU da UFSC. O registro foi feito na segunda semana de setembro, segundo o sindicato.

Problemas na estrutura da cozinha do RU da UFSC se acentuaram no último mês – Vídeo: Sintufsc/Reprodução/ND

Situação piorou ao longo do mês de setembro, segundo Sintufsc

Em setembro, a unidade do RU da UFSC Campus Trindade teve de ser fechada duas vezes por episódios de vazamento de gás na cozinha. No dia 24, estudantes relataram que uma lâmpada, localizada em cima do buffet, estourou e disparou o alarme de incêndio.

Trabalhador do RU da UFSC em meio à inundação – Sintufsc/Reprodução/ND

Ralo que não escoa a água suja – Sintufsc/Reprodução/ND

Ralo insuficiente para escoar água – Sintufsc/Reprodução/ND

Ralo com fiação elétrica submersa – Sintufsc/Reprodução/ND

Tampa de bueiro quebrada – Sintufsc/Reprodução/ND

O episódio de inundação de esgoto fez com que o Sintufsc se mobilizasse para denunciar formalmente os problemas de estrutura frente ao MPT. Segundo Giana Laikovski, coordenadora-geral do sindicato, a situação é urgente e os riscos podem aumentar.

“Decidimos apresentar a denúncia devido à falta de medidas emergenciais por parte da gestão e por conta da gravidade da situação. Queremos evitar que um acidente ainda mais grave aconteça”, afirma Giana.

10 mil refeições diárias

Segundo dados do próprio RU da UFSC, são cerca de 10 mil refeições servidas diariamente aos alunos do Campus Trindade, totalizando aproximadamente cinco toneladas de alimentos.

O site do RU informa que a instituição “favorece a manutenção da saúde de seus usuários através do fornecimento de uma alimentação balanceada e diversificada, produzida dentro de um padrão de controle qualidade.

Os preços das refeições são:

• Estudantes da UFSC: R$ 1,50
• Servidores e professores da UFSC: R$ 2,90
• Demais membros da comunidade universitária: R$ 6,10
• Estudantes da UFSC com renda bruta mensal per capita inferior a 1,5 salário mínimo: gratuito

Para Giana Laikovski, o RU é um dos principais instrumentos de permanência da UFSC, sendo importante para que os estudantes tenham condições de se manter dentro da Universidade.

“É indiscutível a importância do RU da UFSC na vida dos estudantes e de toda a comunidade acadêmica, justamente por ser o principal instrumento de permanência. Não podemos simplesmente fechar os olhos para os riscos a que estão sendo submetidos estudantes e trabalhadores, enquanto o RU segue colocando comida na mesa”, declara a coordenadora-geral do Sintufsc.

RU da UFSC serve cerca de 10 mil refeições e 5 mil toneladas de comida diariamente – Foto: Henrique Almeida/Agecom/Reprodução/ND

Laudo sanitário já mostrava precariedade da estrutura do RU da UFSC em julho

Uma perícia sanitária feita em julho avaliou as condições de trabalho e situação higiênica do RU da UFSC Campus Trindade.

O laudo identificou que, em relação às condições de trabalho, existe alto nível de ruído na cozinha, excesso de calor e de umidade, bem como a manipulação de produtos químicos sem a devida proteção.

Em relação à estrutura, observou-se a falta de ventilação, de escoamento de água, termômetros e lâmpadas quebradas, poucas janelas e ausência de equipamentos de segurança para manipulação de produtos químicos e refrigerados.

Por fim, o laudo também concluiu que “as condições higiênico-sanitárias apresentam riscos para a saúde e a integridade física dos trabalhadores”.

Quadro de energia sendo atingido pelo vapor das fritadeiras – Sintufsc/Reprodução/ND

Mofo nas paredes – Sintufsc/Reprodução/ND

Moto no teto – Sintufsc/Reprodução/ND

Representantes do RU da UFSC solicitaram melhorias das condições

No dia 13 de setembro, uma comissão formada por representantes do RU e da PRAE (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis) da UFSC apresentou um relatório à Reitoria descrevendo os problemas enfrentados e sugerindo discussões para melhorias.

Os principais problemas apresentados no relatório são:

• “Rede sanitária: O volume de alimentos preparado provoca constantes extravasamentos de resíduos na área de produção do RU. Esta situação coloca em risco a segurança higiênico-sanitária dos alimentos e demanda constantes realizações de serviço de desentupimento.”
• “Rede elétrica: A incompatibilidade das instalações elétricas com a quantidade de equipamentos necessária para atender o volume de produção do RU resulta na recorrente desativação de disjuntores e DRs, assim como na inviabilidade do uso de diversos equipamentos imprescindíveis para o preparo, armazenamento e distribuição dos alimentos.”
• “Edificações: Goteiras, infiltrações e mofo estão presentes nos vestiários, cozinha e almoxarifado. Acrescenta-se ainda as condições de climatização/ventilação do refeitório, da cozinha, do almoxarifado e da sala da chefe de cozinha, bem como problemas na distribuição de gás que é prejudicada ao usar equipamentos de cocção simultaneamente, além de outros relacionados a pisos, portas, e telas.”
• “Equipamentos: A constante sobrecarga dos equipamentos aliada à falta de manutenção preventiva e corretiva e a morosidade para execução dos serviços resultam em diversos equipamentos inoperantes.”
• “Gestão: A insuficiência de servidores capacitados para realização das atividades na secretaria e no almoxarifado prejudica a qualidade das atividades, do atendimento interno e externo e sobrecarrega os poucos servidores que lá atuam.”

Segundo o relatório, a situação dos equipamentos do RU da UFSC é “bastante crítica”, com uso intenso e falta de manutenção preventiva e corretiva.

Os representantes do RU alegam que, nas atuais condições, a estrutura de equipamentos é incapaz de produzir as 10 mil refeições diárias com “qualidade nutricional para o elevado público atendido pelo RU”.

“Assim como a estrutura, os equipamentos do RU, mesmo que estivessem todos em pleno funcionamento, são subdimensionados em relação à demanda de atendimento dos nossos usuários. Além disso, muitos dos equipamentos disponíveis estão em uso há muito tempo, motivo pelo qual encontram-se desgastados, danificados e obsoletos”, consta o relatório.

A comissão alerta que “o RU da UFSC precisa ter sua estrutura recuperada com a máxima prioridade diante dos riscos de contaminação alimentar, de acidentes de trabalho e de prejuízos com o descarte de alimentos estragados por conta do armazenamento inadequado (perecíveis e não perecíveis). Todos eles trazem riscos à segurança alimentar e, portanto, não podem ser admitidos, gerenciados ou tolerados”.

Reitoria da UFSC e direção do RU ainda não se pronunciaram sobre a denúncia

O ND Mais entrou em contato com a direção do RU, mas não obteve retorno até o momento da publicação da matéria. O Gabinete da Reitoria da UFSC informou que terá um posicionamento oficial em breve. O espaço segue aberto para manifestação das partes.