A cruzada ideológica de Nikolas Ferreira

Nas últimas semanas de setembro, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) participou de eventos em Belém, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia, Governador Valadares, Juiz de Fora, Londrina, Manaus, Poços de Caldas e São Paulo. Quando está em seu gabinete na Câmara dos Deputados, recebe uma romaria de candidatos, quase todos do PL, ávidos para tomar emprestado um naco da força digital do parlamentar. Os pedidos não chegam apenas de pessoas menos conhecidas. “Não sei te falar, mas ele gravou [vídeos] para mais de dez [candidatos] que eu trouxe”, conta Luciano Zucco, deputado federal do PL pelo Rio Grande do Sul.

“Ele tem se empenhado demais”, diz Filipe Barros, deputado do PL mais votado pelo Paraná, referindo-se às gravações de apoio. Durante um evento em Belo Horizonte, seu berço político, Nikolas gravou 210 vídeos. Há metas, definidas entre ele e seu chefe, Valdemar Costa Neto, o presidente do PL. A principal é promover candidaturas em Minas Gerais, informa João Batista Jr. em seu perfil do deputado mineiro na edição deste mês da piauí. Nikolas precisa ajudar a eleger 150 prefeitos e vereadores. Entre eles, André Fernandes, que lidera as pesquisas para prefeito de Fortaleza, e Bruno Engler, que está embolado no segundo lugar para a Prefeitura de Belo Horizonte.

Filho de um pastor, Nikolas Ferreira, de 28 anos, é um fenômeno de votos e também um fenômeno digital. A pedido da piauí, a Palver, empresa de engenharia e análise de dados, examinou 80 mil grupos públicos de WhatsApp entre 10 de agosto e 9 de setembro, para medir o índice de menções a políticos da extrema direita. Nikolas desbancou todos os pesquisados – a saber, os deputados André Fernandes (PL-CE), Carla Zambelli (PL-SP) e Julia Zanatta (PL-SC) e o trio Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro.

Em meados de agosto, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, convidou Nikolas para comer uma pizza, junto com Ricardo Nunes (MDB), seu candidato a prefeito, que patinava nas pesquisas eleitorais, empatado com outro candidato da extrema direita, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB). A certa altura, Tarcísio apresentou seu pleito: queria que Nikolas usasse o canhão de suas redes sociais para pedir votos em favor de Nunes.

“Não”, respondeu Nikolas. Disparada à queima-roupa, a negativa incomodou o governador. Nikolas deixou claro que não apoiaria Nunes no primeiro turno. Fez uma conta pragmática: como seus seguidores desconfiam que Nunes tenha fraquezas esquerdistas porque apoiou a exigência do passaporte de vacina na pandemia, Nikolas não estava disposto a contrariá-los. “Eu mesmo me vacinei”, disse ele à piauí, no Salão Verde da Câmara, em Brasília. “Mas sou completamente contra que seja algo obrigatório e tire a liberdade das pessoas.”

Como a política é o território do fogo amigo, Nikolas não incomoda apenas o governador Tarcísio. “O Nikolas está pensando no umbigo dele, não quer se queimar com o seu público. Ele sabe que Marçal virou queridinho da direita”, diz um ex-ministro de Bolsonaro. Talvez por isso, Nikolas não diga nada sobre Marçal. Seu entorno, contudo, tem opiniões claras sobre o ex-coach. “Ele é um aproveitador”, diz um membro da equipe do deputado. “Subiu na vida dando golpe nos outros – e ganha dinheiro ensinando os outros a ganhar dinheiro?”

No Congresso, Nikolas adota um comportamento bem menos abrasivo. Dias depois de chamar o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) de “covarde” no ato na Avenida Paulista, esteve numa reunião com o presidente do Senado para entregar o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes. “Não deu um pio. Entrou e saiu calado”, diz um assessor presente à reunião. “Ele faz tudo calculado para as redes. Mas, sem câmeras, nem celular, vira outra pessoa.”

Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.



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