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2 Apr 2025, Wed

Reprodução da capa da Veja deste 04/10/24

A ministra Anielle Franco não expôs “as insinuações embaraçosas e as importunações” que sofreu por parte do ex-ministro Silvio Almeida à Veja, conforme o veículo noticiou e estampou em capa da revista nesta sexta-feira (04).

Nas breves falas cedidas à Matheus Leitão, Anielle fez o oposto: criticou duramente o “cerco dos jornalistas” e afirmou que “traumas não são entretenimento”, ao se referir à importunação sexual sofrida pelo ex-ministro Almeida.

Mas os primeiros parágrafos que antecedem a entrevista, escritos pelo jornalista, indicavam que Anielle falaria sobre a violência vivida – constando verbalmente na própria chamada da publicação imprensa -, o que não ocorreu.

Mais: Leitão usou a instância para chamar Almeida de “predador“, falar que “Anielle não consegue esconder o constrangimento“, além de expor informações que não foram cedidas pela ministra na entrevista.

“É a primeira vez que a ministra fala publicamente sobre os longos meses em que conviveu com o colega, que parecia ter duas personalidades. Em público, comportava-se como o professor brilhante e defensor de causas socialmente importantes. Reservadamente, agia como um predador. Anielle não consegue esconder o constrangimento ao ser instada a comentar as experiências traumáticas que vivenciou nesse período, particularmente o episódio em que o problema ganhou dimensões terríveis. As investidas de Almeida haviam atingido o ponto mais alto da escalada de baixarias quando ele, no meio de uma reunião, tentou um contato físico mais íntimo. Indignada, a ministra o chamou para conversar, falou de seu incômodo com a situação e pediu que ele parasse. O ministro reconheceu os exageros, se desculpou, mas, ao se despedir, sussurrou uma frase chula no ouvido dela.”

Matheus Leitão, na Veja.

Nada disso esteve nas falas de Anielle Franco.

A EXPOSIÇÃO

Logo no início da entrevista, a ministra deixou claro que não entregaria esse “entretenimento” ao jornal, que prestou todos os esclarecimentos às autoridades investigativas e que não entraria “em detalhes” sobre os crimes aos quais foi vítima:

“Apesar da dor, da violência e da decepção, falei todo o necessário nas instâncias devidas, conforme me comprometi a fazer. Publicamente não quero entrar em detalhes, para preservar as investigações em curso e também porque não quero repetir, repetir e repetir a violência. Traumas não são entretenimento.”

“EU SÓ QUERIA QUE PARASSE”, também manchetou a Veja, em caixa alta, no título da publicação. Ao se tratar de violência sexual, a fala gera diversas interpretações. Na entrevista, Anielle falava em contexto geral do crime de assédio e importunação sofrido:

“Ninguém se sente à vontade ficando em silêncio em uma situação assim. Mas eu não queria a minha vida exposta e atravessada mais uma vez pela violência. Sou muito mais do que isso e me orgulho da minha trajetória. Só queria que aquilo parasse de acontecer. Como uma pessoa que sempre teve muita fé, acreditava que em algum momento aquilo acabaria e eu conseguiria seguir a minha vida”, relatou.

Ao jornalista, a ministra ressaltou, mais de uma vez, que não queria a exposição:

Estava atravessada pela forma como as notícias saíram e pelo cerco dos jornalistas. Sei que vivemos nesse mundo de internet, em que tudo é muito rápido e todo mundo quer saber de tudo, mas nenhuma vítima, de qualquer tipo de violência que seja, tem a obrigação de se expor, falar quando as pessoas querem que ela fale. As vítimas têm de falar na hora em que elas se sentirem confortáveis.”

LULA E O EFEITO ELEITORAL

Publicada nas vésperas das eleições municipais 2024, a capa da revista também remete, diretamente, à imagem do governo Lula sobre o combate às violências de gênero e defesa das mulheres. O presidente é padrinho político de candidatos decisivos em diversas capitais e cidades brasileiras.

Mas os elogios de Anielle Franco a atuação do governo Lula no episódio e em políticas para as mulheres não foram inseridos na apresentação e introdução da entrevista. “Conviver e acompanhar de perto o compromisso político e a dedicação do presidente Lula também é inspirador”, disse Anielle, em determinado momento da entrevista.

“O governo tem dado as respostas necessárias ao problema do assédio, que atinge milhões de mulheres todos os anos?”, questionou Leitão.

Ao que a ministra respondeu afirmativamente em primeira pessoa, ‘nós’: “O governo criou um programa de prevenção e enfrentamento do assédio e da descriminação para fortalecer as políticas de defesa dos direitos das mulheres. Também temos um grupo de trabalho que está tratando exclusivamente desse problema na administração pública. É um esforço que busca medidas concretas de transformação.”

A ministra também agradeceu à postagem da primeira-dama Janja, que publicou uma foto abraçando-a e dando um beijo na ministra. “A postagem simboliza mais do que solidariedade. É uma manifestação de apoio e de compromisso com a agenda de proteção às mulheres, de tolerância zero à violência e à opressão.”

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