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A ministra Anielle Franco não expôs “as insinuações embaraçosas e as importunações” que sofreu por parte do ex-ministro Silvio Almeida à Veja, conforme o veículo noticiou e estampou em capa da revista nesta sexta-feira (04).
Nas breves falas cedidas à Matheus Leitão, Anielle fez o oposto: criticou duramente o “cerco dos jornalistas” e afirmou que “traumas não são entretenimento”, ao se referir à importunação sexual sofrida pelo ex-ministro Almeida.
Mas os primeiros parágrafos que antecedem a entrevista, escritos pelo jornalista, indicavam que Anielle falaria sobre a violência vivida – constando verbalmente na própria chamada da publicação imprensa -, o que não ocorreu.
Mais: Leitão usou a instância para chamar Almeida de “predador“, falar que “Anielle não consegue esconder o constrangimento“, além de expor informações que não foram cedidas pela ministra na entrevista.
“É a primeira vez que a ministra fala publicamente sobre os longos meses em que conviveu com o colega, que parecia ter duas personalidades. Em público, comportava-se como o professor brilhante e defensor de causas socialmente importantes. Reservadamente, agia como um predador. Anielle não consegue esconder o constrangimento ao ser instada a comentar as experiências traumáticas que vivenciou nesse período, particularmente o episódio em que o problema ganhou dimensões terríveis. As investidas de Almeida haviam atingido o ponto mais alto da escalada de baixarias quando ele, no meio de uma reunião, tentou um contato físico mais íntimo. Indignada, a ministra o chamou para conversar, falou de seu incômodo com a situação e pediu que ele parasse. O ministro reconheceu os exageros, se desculpou, mas, ao se despedir, sussurrou uma frase chula no ouvido dela.”
Matheus Leitão, na Veja.
Nada disso esteve nas falas de Anielle Franco.
Logo no início da entrevista, a ministra deixou claro que não entregaria esse “entretenimento” ao jornal, que prestou todos os esclarecimentos às autoridades investigativas e que não entraria “em detalhes” sobre os crimes aos quais foi vítima:
“Apesar da dor, da violência e da decepção, falei todo o necessário nas instâncias devidas, conforme me comprometi a fazer. Publicamente não quero entrar em detalhes, para preservar as investigações em curso e também porque não quero repetir, repetir e repetir a violência. Traumas não são entretenimento.”
“EU SÓ QUERIA QUE PARASSE”, também manchetou a Veja, em caixa alta, no título da publicação. Ao se tratar de violência sexual, a fala gera diversas interpretações. Na entrevista, Anielle falava em contexto geral do crime de assédio e importunação sofrido:
“Ninguém se sente à vontade ficando em silêncio em uma situação assim. Mas eu não queria a minha vida exposta e atravessada mais uma vez pela violência. Sou muito mais do que isso e me orgulho da minha trajetória. Só queria que aquilo parasse de acontecer. Como uma pessoa que sempre teve muita fé, acreditava que em algum momento aquilo acabaria e eu conseguiria seguir a minha vida”, relatou.
Ao jornalista, a ministra ressaltou, mais de uma vez, que não queria a exposição:
“Estava atravessada pela forma como as notícias saíram e pelo cerco dos jornalistas. Sei que vivemos nesse mundo de internet, em que tudo é muito rápido e todo mundo quer saber de tudo, mas nenhuma vítima, de qualquer tipo de violência que seja, tem a obrigação de se expor, falar quando as pessoas querem que ela fale. As vítimas têm de falar na hora em que elas se sentirem confortáveis.”
Publicada nas vésperas das eleições municipais 2024, a capa da revista também remete, diretamente, à imagem do governo Lula sobre o combate às violências de gênero e defesa das mulheres. O presidente é padrinho político de candidatos decisivos em diversas capitais e cidades brasileiras.
Mas os elogios de Anielle Franco a atuação do governo Lula no episódio e em políticas para as mulheres não foram inseridos na apresentação e introdução da entrevista. “Conviver e acompanhar de perto o compromisso político e a dedicação do presidente Lula também é inspirador”, disse Anielle, em determinado momento da entrevista.
“O governo tem dado as respostas necessárias ao problema do assédio, que atinge milhões de mulheres todos os anos?”, questionou Leitão.
Ao que a ministra respondeu afirmativamente em primeira pessoa, ‘nós’: “O governo criou um programa de prevenção e enfrentamento do assédio e da descriminação para fortalecer as políticas de defesa dos direitos das mulheres. Também temos um grupo de trabalho que está tratando exclusivamente desse problema na administração pública. É um esforço que busca medidas concretas de transformação.”
A ministra também agradeceu à postagem da primeira-dama Janja, que publicou uma foto abraçando-a e dando um beijo na ministra. “A postagem simboliza mais do que solidariedade. É uma manifestação de apoio e de compromisso com a agenda de proteção às mulheres, de tolerância zero à violência e à opressão.”
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