Entenda como novo planeta foi descoberto por professores de SC
“Não é todo dia que se descobre um planeta”, celebra Roberto Saito, professor do Departamento de Física da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Ele e o estudante de graduação Vitor Fermiano participaram da descoberta de um exoplaneta gigante, localizado a mil anos-luz da Terra.
Apesar de parecer distante, os pesquisadores catarinenses explicam que o novo planeta não está tão longe assim. “Daqui até o meio da galáxia são cerca de 25 mil anos-luz. O exoplaneta está a mil anos-luz, então, está bem próximo da Terra”, aponta Vitor.
Um exoplaneta tem esse nome porque se encontra fora do sistema solar. O TOI-4562c, como foi batizado, foi descoberto por uma equipe internacional que colaborou no Brasil, Chile e Alemanha.
“É uma ciência nova, tem menos de 30 anos. É mais nova até que eu”, ri o professor Roberto Saito. O primeiro exoplaneta foi descoberto em 1995 por astrônomos suíços. Hoje, já são conhecidos mais de cinco mil.
O TOI-4562c tem 5,8 vezes a massa de Júpiter, o maior planeta do sistema solar. O gigante ainda leva cerca de 11 anos (3990 dias) para completar uma volta em torno da estrela TIC 349576261, que é o centro do sistema planetário.
O novo planeta, no entanto, não deve abrigar vida. É um corpo gasoso, não tem superfície sólida e a temperatura não é suficiente para ter água líquida, fator imprescindível para a vida como se conhece.
Como os pesquisadores descobriram o novo planeta?
O processo de descoberta foi longo, já que o novo planeta TOI-4562c não é visível nem por telescópios. Sem imagens, os pesquisadores se basearam em cálculos para determinar a existência do corpo celeste.
A investigação começou a partir da descoberta de outra equipe internacional. Cientistas já haviam constatado em 2023 que um planeta chamado TOI-4562b orbitava aquela estrela.
Eles perceberam, porém, que os trânsitos planetários não ocorriam nos instantes calculados pelos modelos. Esses atrasos e adiantamentos indicaram uma possível perturbação por um terceiro corpo.
“Quando só tem um planeta, ele deveria ser como um relógio e dar uma volta em torno da estrela em um tempo muito exato. Esse apresentava desvios da posição em que deveria estar. A única maneira de fazer isso é tendo um outro planeta que o empurra gravitacionalmente e muda seu centro de massa”, esclarece o professor Saito.
A existência de um segundo planeta, contudo, só poderia ser observada do hemisfério sul, mais especificamente no Chile ou no Brasil. O professor da UFSC mantinha contato com os pesquisadores chilenos desde 2009, quando fez pós-doutorado no país.
O estudante Vitor Fremiano, por sua vez, era aluno de iniciação científica de Roberto Saito desde 2021 e foi escolhido para se encarregar do projeto. “Foi uma oportunidade incrível que apareceu”, lembra.
No Chile, porém, não havia visibilidade para a observação. Os pesquisadores, então, analisaram dados coletados no telescópio brasileiro Zeiss, do Observatório do Pico dos Dias, em Minas Gerais, e pelo telescópio espacial TESS, da Nasa.
“É o melhor observatório que tem no Brasil, com os melhores telescópios. Tem um maior, de 1,6 metro, só que estava ocupado, e a gente usou o segundo maior telescópio do Pico dos Dias”, descreve Vitor.
Para constatar a presença do segundo exoplaneta do sistema, os cientistas utilizaram a técnica “Variação do Tempo de Trânsito”, conhecida pela sigla TTV, em inglês. A passagem do novo planeta em frente à estrela foi observada pela oscilação do brilho com o telescópio em Minas Gerais, em uma noite de novembro de 2023.
Descoberta de novo planeta ajuda a entender o sistema solar
A descoberta do novo planeta TOI-4562c pode ajudar a entender como surgiu a Terra e o sistema solar. Tudo indica que o sistema planetário estudado pelos acadêmicos da UFSC é jovem e ainda está em formação.
“Encontrar um segundo planeta permite que a gente consiga entender melhor, estudando esse sistema, como isso evolui para um sistema estável, como por exemplo o sistema solar”, garante Roberto Saito.
“A gente não consegue acompanhar isso, demora milhões de anos. Mas se você observa sistemas nesses diferentes estágios, vai montando as pecinhas e depois consegue entender como evoluiu lá do início até um sistema adulto e estável”, completa.
Os pesquisadores continuarão monitorando os trânsitos no sistema planetário e ressaltam que novos planetas poderão ser descobertos. Nesse caso, o corpo celeste seria batizado de TOI-4562d, pela ordem alfabética.
A sigla TOI significa, em inglês, “objeto de interesse do TESS”, telescópio da Nasa utilizado na descoberta do primeiro planeta do sistema.
“Até poderia apelidá-lo de Catarina, Manézinho, algo assim. Mas oficialmente, ele já está na enciclopédia de exoplanetas da Nasa e na Wikipédia de planetas descobertos em 2024 sempre com esse código, que é a maneira que outros astrônomos têm de achá-lo”, aponta o professor catarinense.
Já o estudante Vitor tem outra ideia: “Esse planeta tem uma massa bem parecida com a de Júpiter, está em uma região parecida, com uma órbita parecida e um período parecido. Poderia chamar de Júpiter 2.0”, brinca.
Um passo em direção ao desconhecido
Em setembro, o artigo científico que relata a descoberta do novo planeta foi aceito para publicação na revista internacional “Astronomy & Astrophysics”. O texto é de autoria do aluno Vitor Fermiano, sob orientação do professor Roberto Saito.
Assinam também o professor da UFSC Bernardo Borges e os egressos Thiago Ferreira dos Santos e Wagner Schlindwein. O artigo saiu na seção chamada “cartas ao editor”, que costuma ficar na abertura das revistas científicas para chamar a atenção dos leitores.
“É uma das melhores revistas do mundo que existem na área de astronomia, entre as respeitadas com maior fator de impacto. Foi bem gratificante”, celebra o professor Saito.
Além da equipe da UFSC, a descoberta do novo planeta contou com especialistas da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), pesquisadores do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do LNA (Laboratório Nacional de Astrofísica), além de instituições no Chile e Alemanha.
“Eu gosto de fazer ciência porque em algum momento só nós sabíamos que tinha um planeta lá e mais ninguém. Você dá aquele passo sempre em direção ao desconhecido. Acho que isso é o bonito da ciência, ir sempre ampliando os horizontes do conhecimento”, finaliza o professor da UFSC.
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