Uma esquerda que aceita moralizar o debate sobre drogas perdeu seu rumo

Quem está atento sabe que não existe guerra às drogas e que esse é apenas um modo para que o assassinato de corpos periféricos continue a ser praticado sem que o Estado precise responder por ele. Se houvesse interesse em acabar com o tráfico, o poder público iria atrás das reais lideranças, que estão bem longe das favelas.

Quando a esquerda aceita a narrativa de que droga é uma questão moral, ela está entregue ao fracasso, às normas e à linguagem da extrema direita.

Quem usa drogas no Brasil? As classes alta e média fazem uso constante de drogas lícitas e ilícitas sem que haja sobre elas nenhum tipo de julgamento moral. Rico viciado está doente. Pobre viciado é bandido.

Por que pessoas vulneráveis não podem consumir drogas como fazem os ricos desse país? Será que as drogas não são uma rota de escape para as durezas da vida? Quando tudo está perdido e não existe mais horizonte, o que pode aliviar o desespero?

Lembro de minha mãe dizer que não dava esmola porque “ele vai gastar em cachaça”. Hoje sei que a única resposta possível para esse julgamento moral é: e daí? E daí se a pessoa em situação de rua quiser usar o dinheiro para beber e aliviar a dor? Ela teria que usar o dinheiro para quê? Comer? Comer uma refeição sabendo que não haverá a próxima?

“Experimenta nascer preto, pobre na comunidade/Cê vai ver como são diferentes as oportunidades/E nem venha me dizer que isso é vitimismo/Não bota a culpa em mim pra encobrir o seu racismo.” Salve, Bia Ferreira.



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