Ar-condicionado é salvador ou vilão climático?

Tais ondas de calor impactam gravemente a saúde pública, em especial grupos vulneráveis, como pessoas idosas, crianças e pessoas com condições de saúde preexistentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre 2000 e 2016, 125 milhões de pessoas foram expostas a ondas de calor. Em 2022, na Europa, mais de 61 mil mortes foram atribuídas ao calor extremo. No Brasil, entre 2000 e 2018, mais de 48 mil mortes devido à ondas de calor foram registradas. A mortalidade por hipertermia, resulta principalmente da desidratação intensa decorrente do mecanismo de transpiração acionado para fazer frente a elevada temperatura ambiente. A falta de acesso a ambientes climatizados durante as ondas de calor é um fator crítico que contribui para esses números alarmantes.

O uso do ar-condicionado aumenta significativamente durante ondas de calor, sendo essencial para garantir o conforto térmico. Seu uso não deve ser visto como um luxo, mas sim como algo vital para preservar a saúde e o bem-estar da população, o que tem reflexos positivos para a economia e a produtividade no trabalho. Estima-se que o número de unidades de ar-condicionado em uso globalmente pode chegar a 5,6 bilhões até 2050, em comparação com o 1,6 bilhão registrado em 2018. Esse aumento implica em 10 novos aparelhos de ar-condicionado a cada segundo pelos próximos 30 anos! Tal crescimento irá requerer um aumento da geração de energia elétrica equivalente à atual de EUA, União Europeia e Japão somados, causando ainda mais emissões.

No Brasil, a posse de ar-condicionado pelas famílias passou de 1% em 2002 para 20% em 2017 e, num cenário de baixo crescimento econômico, projeta-se que, em 2050, entre 7% e 35% das residências possuam pelo menos um equipamento de ar-condicionado, dependendo da região. Há, portanto, uma margem de expansão futura muito significativa, mas ambientes climatizados ainda serão pouco disponíveis para a população em suas residências.

Isso nos coloca ante um dilema: se, por um lado, o ar-condicionado é essencial para combater o calor extremo, garantir o conforto e evitar mortes durante ondas de calor; por outro, seu funcionamento intensivo implica no aumento do consumo de energia elétrica e, por conseguinte, das emissões de gases de efeito estufa. Além disso, seu uso intensifica o fenômeno das “ilhas de calor” em áreas urbanas densamente povoadas causando um aumento adicional da temperatura ambiente local em +2°C.

Diante desse cenário, é crucial o desenvolvimento e a adoção de tecnologias de climatização mais sustentáveis, o que envolve:

O aumento da eficiência dos sistemas de ar-condicionado, graças à adoção de controle inteligente, trocadores de calor eficientes, mancais magnéticos, detecção e diagnóstico de falhas, entre outros;



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