Moodys eleva a nota, mas o mercado não compra a ideia: o que está por trás dessa reação? – 08/10/2024 – De Grão em Grão
Na semana passada, quando a Moody’s anunciou a elevação da nota de crédito do Brasil, a expectativa de uma reação positiva dos mercados era inevitável. Com o país sendo classificado como menos arriscado, o cenário esperado incluía um dólar em queda, a bolsa em alta e juros mais baixos. Contudo, passados sete dias, a realidade frustrou esses prognósticos. O dólar subiu de R$5,45 para R$5,54, o Ibovespa caiu de 131.816 para 131.511 pontos, e os juros de 10 anos subiram de 12,08% para 12,16% ao ano. A contradição é clara: uma notícia que deveria trazer otimismo acabou sendo recebida com desconfiança.
O mercado financeiro é regido por uma lógica que, muitas vezes, vai além de previsões óbvias. Quando um país melhora sua nota de crédito, a tendência é que investidores enxerguem nele uma oportunidade mais segura, aumentando a demanda por ativos locais e, com isso, pressionando o dólar para baixo e elevando a bolsa. No entanto, o que se esperava não se concretizou. Então, por que os mercados não reagiram conforme o esperado?
Uma explicação pode estar na antecipação dos fatos. Em muitas situações, o mercado já precifica mudanças antes mesmo de elas serem oficialmente anunciadas. No caso da Moody’s, é possível que essa elevação de nota já estivesse, em parte, refletida nos preços dos ativos. Afinal, em maio passado, a Moody’s já havia elevado a perspectiva para positiva, sinalizando que a revisão da nota era apenas uma questão de tempo.
Além disso, há fatores internos e externos que continuam pesando nas decisões dos investidores, como o cenário fiscal brasileiro e as incertezas no ambiente econômico global.
Outro ponto relevante é que a simples melhora na nota de crédito não é suficiente para dissipar todos os riscos percebidos pelo mercado. Investidores podem continuar preocupados com questões como o controle da inflação, a política fiscal do governo e a sustentabilidade de medidas de curto prazo. Essas preocupações podem sobrepujar os efeitos positivos de uma elevação na classificação de risco, pelo menos no curto prazo.
Por isso, é fundamental cautela ao tomar decisões de investimento baseadas apenas em mudanças de nota de crédito. Revisões como essa tendem a ter um impacto mais significativo no médio e longo prazo, mas, no curto prazo, o mercado pode ser influenciado por uma série de variáveis. O fluxo de notícias diárias, tensões políticas e expectativas sobre a economia global podem, muitas vezes, anular ou até reverter os efeitos esperados de uma elevação de nota.
O comportamento do mercado financeiro nos ensina que ele é movido não só por fatos, mas também por expectativas e, muitas vezes, pela imprevisibilidade. Mesmo quando a lógica sugere que uma boa notícia deveria resultar em ganhos, a percepção dos investidores e os fatores que influenciam suas decisões pode seguir outro caminho. Isso reforça a importância de analisar o cenário como um todo antes de apostar em uma tendência e, quando investir em risco, ter horizonte de longo prazo.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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