Aposentadoria de Rafael Nadal encerra uma era dourada no tênis – 11/10/2024 – Marina Izidro

No complexo de Roland Garros, uma frase está em destaque na quadra central: “A vitória pertence ao mais obstinado”. Poucos tenistas fazem jus a ela como Rafael Nadal.

Na quinta-feira (10), o espanhol de 38 anos anunciou que vai se aposentar em novembro, depois de defender a Espanha na Copa Davis. A notícia do adeus não surpreende, já que Nadal sofreu nos últimos anos com lesões, fez cirurgia no quadril e os indícios estavam claros. Não choca, mas entristece mesmo assim.

Nadal tem todas as qualidades admiráveis em um atleta: garra, talento, resiliência, caráter. Conquistou 22 títulos de Grand Slam —sendo 14 de Roland Garros, onde venceu impressionantes 112 das 116 partidas que disputou—, além de Copa Davis e o ouro olímpico em simples e duplas. Tive o privilégio de vê-lo jogar no Rio Open e em Wimbledon e de entrevistá-lo. Ganhando ou perdendo, sempre foi educado e profissional.

Em um vídeo emocionante, disse que, especialmente nos últimos dois anos, não conseguiu jogar sem limitações. E que, na vida, tudo tem princípio e fim e chegou a hora de encerrar uma carreira muito mais vitoriosa do que poderia imaginar. Agradeceu não só à indústria do tênis, à família, à equipe, aos fãs, mas também aos rivais. Por isso, sua despedida também marca o fim de uma era dourada no tênis masculino.

Quando Roger Federer se aposentou na Laver Cup, em 2022, a imagem dos dois juntos, chorando, foi impactante. Nadal, aos prantos, parecia que deixava ali uma parte de si e via a si mesmo em um futuro próximo. Como não se lembrar dos confrontos épicos entre os dois, como a final de Wimbledon de 2008, quando depois de 4h48 de partida, um jovem especialista em saibro destronou o rei da grama, encerrando a sequência de cinco títulos seguidos de Federer no torneio?

Durante os últimos 20 anos, Nadal, Federer e Novak Djokovic deixaram o tênis mais atrativo e catapultaram o esporte a fenômeno global. Não à toa, são chamados de “Big Three.” Agora, apenas o sérvio seguirá. E por que os três também se tornaram gigantes? Porque era justamente através da rivalidade entre eles que um jogava o outro para cima. Acho isso uma lição para as nossas vidas também.

Sempre me espelhei nos repórteres que tinham os melhores textos, eram mais criativos e dedicados. Eu olhava como se portavam, como trabalhavam e me inspirava. Tentava me nivelar por cima. Acho profissionais preguiçosos ou que não são apaixonados pelo que fazem altamente desinteressantes.

A despedida de Nadal deixa um buraco enorme e uma tremenda responsabilidade nos ombros da nova geração, além de dúvidas sobre os futuros ídolos no masculino. O também espanhol Carlos Alcaraz, 21 anos e quatro títulos de Grand Slam, parece ser o candidato mais forte em meio a outros tenistas talentosos, mas muitas vezes mimados e chiliquentos.

O legado de Nadal está seguro, no entanto. Seja pelo que faz fora de quadra, como no incrível centro de treinamento que tem em Mallorca, na Espanha, seja por seu estilo de jogo, que influenciou gerações. E ele continuará a fazer parte do mundo do tênis da forma que desejar. Mas, só para deixar todo mundo um pouquinho menos triste, terminou o vídeo com um “até breve”.

Ainda bem.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Post Comment

You May Have Missed