Como a cultura sul-coreana se tornou um fenômeno global? – 12/10/2024 – Ilustrada

A Coreia do Sul ganhou várias estatuetas do Oscar. Suas séries e grupos de k-pop são sucessos globais. A escritora Han Kang é a primeira mulher asiática a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Como este país se tornou uma potência cultural?

Confira, a seguir, alguns pontos para entender este fenômeno cultural.

O que é a Hallyu?

Na década de 1990, séries de televisão coreanas e bandas de k-pop começaram a entrar nos mercados de países asiáticos como China e Japão, dando início à Hallyu, a onda sul-coreana. O lançamento em 2012 do sucesso global “Gangnam Style”, do cantor Psy, consolidou o fenômeno.

Na década seguinte, “Babyshark” quebrou recordes de visualizações no YouTube e os membros do grupo de k-pop BTS tornaram-se superestrelas globais, conseguindo abrir espaços até em países de salsa, como Cuba, e monopolizando o mercado em toda a América Latina.

Em 2020, “Parasita” de Bong Joon-ho foi o primeiro filme não interpretado em inglês a ganhar o Oscar de melhor filme, e a série “Round 6” se tornou a série em idioma diferente do inglês mais vista na Netflix.

As exportações culturais da Coreia do Sul totalizaram US$ 13,2 bilhões em 2022, ou R$ 68,8 bilhões na cotação da época, mais do que eletrodomésticos ou veículos elétricos, mas a maior parte deste volume corresponde à indústria de jogos eletrônicos, que é muito popular na Índia e no Paquistão.

O seu governo pretende atingir US$ 25 bilhões até 2027, ou R$ 139 bilhões na cotação atual, com novos mercados como a Europa e o Oriente Médio na mira.

Por que a Coreia do Sul?

Para o diretor de “Parasita”, a chave do sucesso está no fato de todos os habitantes da Coreia do Sul terem vivido “tempos dramáticos”.

Após a Guerra da Coreia em 1950, que deixou Seul em conflito com Pyongyang, o país sofreu uma ditadura militar, antes de experimentar um crescimento econômico radical e a transição para a democracia.

Na Coreia do Sul, muitas pessoas “viveram turbulências e experiências extremas”, afirma Bong. “Nossos filmes não podem ser diferentes.”

Onda literária

O trabalho da romancista Han Kang, de 53 anos, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura na quinta-feira, foi a arte de transformar a história contemporânea em literatura.

Han disse que foi uma experiência transformadora saber mais sobre o massacre de 1980 na sua cidade natal, Gwangju, onde os militares reprimiram violentamente um protesto pró-democracia.

A autora contou que seu pai lhe mostrou fotos dos corpos, que inspiraram seu livro “Atos Humanos”.

Muitos autores sul-coreanos mergulharam no passado traumático do país, mas Han também conseguiu estabelecer uma “estética literária marcante” própria, disse Oh Hyung-yup, acadêmico da Universidade da Coreia e crítico literário.

O romance “A Vegetariana” descreve as consequências violentas e a rejeição brutal enfrentadas por uma mulher que decide parar de comer carne e é considerada um marco do “ecofeminismo”.

Han documentou comportamentos “que antes eram considerados simplesmente passivos e lhes deu um significado totalmente novo”, disse Kang Ji-hee, crítico literário sul-coreano, à AFP.

Qual é o papel do governo?

Este boom cultural, do cinema à alimentação, parece fazer parte de um plano, mas embora o governo sul-coreano tenha investido milhões para apoiar a sua indústria, os especialistas dizem que este sucesso ocorreu apesar, e não por causa do papel do Estado.

Han e Bong estiveram em uma “lista negativa” durante o mandato da ex-presidente Park Geun-hye, que governou entre 2013 e 2017, por criticarem o poder Executivo.

O governo teve algumas iniciativas, como o Instituto de Tradução Literária da Coreia, que podem ter dado frutos, ajudando a levar obras como a de Han a um público global. No entanto, ao mesmo tempo um número crescente de tradutores que ousaram escolher outros autores também contribuiu para trazer propostas mais ousadas ao mercado internacional.

O sucesso das bandas de k-pop também serviu de impulso para outros setores, uma vez que os hábitos de leitura desses cantores impulsionaram as vendas da literatura sul-coreana. Para Bong, outra chave é o hábito de beber dos seus compatriotas, que alimenta a sua criatividade.

“Somos um país de viciados em trabalho. As pessoas trabalham demais e, ao mesmo tempo, bebemos demais. Então, todas as noites, nos entregamos a rodadas de bebida excessiva e é tudo muito extremo”, disse ele.



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