Educação infantil é alavanca para inclusão social – 11/10/2024 – Deborah Bizarria
A relação entre educação infantil e desenvolvimento econômico vai além do impacto nas crianças. Em muitos lares, especialmente os de baixa renda, a falta de acesso a cuidados infantis de qualidade limita a participação dos pais no mercado de trabalho. Esse cenário motivou o estudo de Humphries, Neilson, Ye e Zimmerman, que investigaram se a universalização da pré-escola em período integral pode aumentar os rendimentos familiares.
Em New Haven, Connecticut, os pesquisadores analisaram os efeitos da matrícula em um programa de pré-escola universal. Descobriram que as crianças inscritas tiveram um aumento de 11 horas semanais em cuidados infantis. Isso permitiu que os pais ampliassem suas jornadas de trabalho, resultando em um aumento de 21,7% nos rendimentos durante o período. Inclusive, esses ganhos se mantiveram por pelo menos seis anos após o término do programa.
Esses resultados destacam a pré-escola universal não apenas como um investimento educacional, mas também como uma ferramenta eficaz de política laboral. Cada dólar investido pelo governo gerou US$ 5,51 em benefícios para as famílias após impostos, principalmente devido ao aumento nos rendimentos dos pais. Comparado a outras políticas de emprego, esse retorno é substancial.
Por outro lado, o estudo observou impactos limitados nos resultados acadêmicos das crianças entre o jardim de infância e a 8ª série. O efeito positivo inicial parece diminuir ao longo do tempo, possivelmente porque as crianças migram para outros programas de qualidade semelhante, mas com menor carga horária.
Um aspecto crucial é a distribuição desigual dos benefícios. Os retornos sobre o investimento governamental foram maiores entre famílias nos dois terços superiores da distribuição de renda, enquanto no terço inferior foram próximos de zero. Isso sugere que os programas universais podem não alcançar efetivamente as famílias de menor renda, levantando a possibilidade de implementar critérios de renda para direcionar melhor os recursos.
No contexto brasileiro, onde as desigualdades socioeconômicas são profundas, esses achados têm implicações significativas. Ampliar o acesso a cuidados infantis de qualidade pode aumentar a participação dos pais no mercado de trabalho e melhorar os rendimentos familiares. Isso pode contribuir para a redução da pobreza e promover maior inclusão social.
Entretanto, qualquer ajuste na política deve ser feito com cuidado. Implementar critérios de renda exige planejamento para não excluir famílias que se beneficiariam do programa. É essencial equilibrar eficiência econômica com equidade social, assegurando que os recursos alcancem aqueles que mais precisam sem comprometer a efetividade geral.
Disponibilizar o acesso à pré-escola beneficia diretamente pais e filhos, aumentando os rendimentos familiares e promovendo o desenvolvimento social. Investir em educação infantil acessível fortalece a economia das famílias. Os municípios têm o dever de melhorar as políticas de modo a zerar as filas de creches. Nesse contexto, parcerias público-privadas podem ser um caminho, considerando a mudança demográfica do país. Reconhecer o impacto da educação infantil permite criar estratégias que atendam às necessidades da população.
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