Lucro no Brasil virá com o tempo, diz CEO do Tomorrowland – 12/10/2024 – Painel S.A.

O Brasil é o único país além de Bélgica e França a receber anualmente um festival com a marca e a estrutura do Tomorrowland, que chega aos 20 anos em 2024 sendo considerado o principal da música eletrônica no mundo. Apesar disso, o evento que acontece neste fim de semana em Itu (SP) ainda não dá lucro.

Quem conta é Bruno Vanwelsenaers, CEO global do Tomorrowland, que diz não ver as contas no azul como prioridade agora e afirma que o investimento no país é de longo prazo. “O Brasil é nossa segunda casa e queremos crescer como fizemos na Bélgica. Estamos aqui para ficar por anos”, disse em entrevista ao Painel S.A. por videoconferência.

Ele considera a edição deste ano no Brasil –que terá DJs como Alok, Lost Frequencies e Alesso– como crucial para a marca após os transtornos com a chuva no ano passado e vê potencial no Brasil para elevar receitas com vendas de ingressos para empresas. “Com o tempo, o faturamento e o lucro virão”, afirma.

Qual é a receita do Tomorrowland Brasil em comparação com o Tomorrowland?

Em geral, não falamos muito sobre receita e números. Mas a grande diferença, e posso ser franco sobre isso, é que na Bélgica temos lucro. No Brasil, investimos uma quantia significativa de dinheiro porque estamos aqui a longo prazo. A lucratividade é importante para uma empresa, mas não é nossa prioridade neste momento no Brasil. Queremos organizar um festival no nível que fazemos na Bélgica.

Mas você tem uma projeção sobre quando chegará ao lucro?

Acho que em alguns anos, pois está seguindo o mesmo caminho do festival na Bélgica. A diferença é que na Bélgica temos dois fins de semana e cerca de 80 mil pessoas por dia, enquanto no Brasil é um fim de semana e 60 mil pessoas por dia. Em termos de receita diária, fica em torno da metade. É importante entender que construímos o Tomorrowland Bélgica ao longo de anos, e há muitos elementos que compõem o faturamento [no país europeu] que ainda precisamos desenvolver no Brasil, como pacotes para empresas [comprarem ingressos para funcionários] e pacotes de viagens. Precisamos convencer brasileiros, fãs, patrocinadores, governo e não apenas o Brasil, mas toda a América do Sul, de que o Tomorrowland Brasil é algo único. E então, com o tempo, o faturamento e o lucro virão.

O preço dos ingressos ainda afasta o público latino-americano, com menor renda que o europeu?

Ajustamos nossos preços para o mercado local e comparamos com outros festivais. É um bom custo-benefício considerando as 12 horas de entretenimento [R$ 550 a R$ 1.100 por dia]. Fazemos pesquisas e conversamos com nossos fãs, e é assim que eles percebem também.

O Brasil é o único país além da Bélgica e da França que sedia o festival anualmente, certo? Por que isso acontece?

Sim. Escolhemos em 2015 vir para o Tomorrowland Brasil por causa dos fãs, das pessoas, do povo brasileiro, que são realmente entusiasmados com a marca Tomorrowland Brasil. Realmente sentimos uma conexão. Então é por isso que, apesar de termos parado por alguns anos, voltamos no ano passado. Os brasileiros têm no DNA isso de aproveitar a vida, festejar, se unir. E esse também é o DNA do Tomorrowland. Amamos estar aqui e isso é realmente importante para nós.

A cena da música eletrônica parece ter crescido nos últimos anos no Brasil. Você vê isso refletido nos números do festival?

O mercado de música eletrônica está em crescimento no Brasil e tem nos ajudado com isso, porque está recebendo mais atenção e está se tornando mais popular entre os jovens brasileiros. Em 2023, os ingressos se esgotaram. Em 2024, estamos perto de esgotar –mas ainda temos alguns. Temos que ser abertos sobre isso. O ano passado foi uma edição difícil para nós devido ao clima [a chuva pesada danificou a estrutura, gerou o apelido de Tomorrowlama na internet e levou ao cancelamento de um dia inteiro do festival]. Acho que 2024 é para nós uma edição muito importante. Fizemos de tudo para estar prontos e garantir ao Brasil e ao mundo que o Tomorrowland Brasil está no mesmo nível que o da Bélgica.

No Brasil, artistas tiveram que cancelar turnês recentemente por pouca venda de ingressos. Mas festivais como Rock in Rio e The Town atraem grandes multidões. Isso é uma tendência vista globalmente também?

Festivais têm um bom custo-benefício. Você vê muitos artistas por um ingresso. E a energia em um festival é diferente de um show solo. As pessoas chegam a partir de sexta-feira, veem os artistas, aproveitam para beber, comer juntas, se conectar com novas pessoas. Hoje em dia elas estão procurando essa conexão, o que acontece em um festival. Não acontece em um show solo onde você chega, assiste e vai embora. Aí que está a tendência dos festivais, que estão se saindo bem globalmente. Além disso, em um festival você pode ouvir diferentes estilos de música. Você pode ir ao palco principal, ao secundário. E é isso também que as pessoas querem hoje em dia. Não apenas um estilo ou apenas um artista.

Festivais como esse não podem soar como uma fuga da realidade em um mundo cheio de problemas, como conflitos e aquecimento global? Como você vê isso?

É interessante você fazer essa pergunta. O que é a loucura do mundo? É o Tomorrowland, com seus fogos de artifício, ou são os outros 362 dias onde as pessoas não podem conversar umas com as outras, onde as pessoas brigam? [No festival] as pessoas festejam juntas. Mas de repente, quando saem de nosso festival, não conseguem mais conversar umas com as outras. O espírito do Tomorrowland é a única coisa que não podemos enviar em um contêiner. É algo que criamos. Por isso fazemos na Bélgica, na França, no Brasil, e é por isso que estamos pensando em ir para a Tailândia. Para que haja mais dias assim.

Raio-X

Bruno Vanwelsenaers, 48

CEO do Tomorrowland há quase três anos, após mais de nove como diretor internacional da empresa. Antes, ficou quase oito anos na produtora de alimentos veganos Alpro. Também foi consultor sênior do Boston Consulting Group. Formado em engenharia comercial pela Universidade da Antuérpia e em administração pela Insead.

Com Diego Felix.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Post Comment

You May Have Missed