Opinião: até aqui, Portuguesa demonstra sérios riscos de jogar 2025 no lixo


Clube deveria estar totalmente focado na preparação para ano em que terá elite estadual e divisão nacional, mas está tomado por disputa política e apuro financeiro.
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A Portuguesa terá em 2025 uma temporada que há vários anos sonhava. O clube vai disputar pelo terceiro ano consecutivo a elite do Paulistão e voltar a jogar, após quatro anos, uma competição nacional: a Série D do Campeonato Brasileiro.
Permanecer na primeira divisão estadual é fundamental tanto pelo lado financeiro, com uma cota de participação expressiva, quanto pelo lado esportivo, já que não cair é quase que automaticamente garantir uma vaga na quarta divisão nacional no ano seguinte.
Enquanto isso, estar na Série D é fundamental para as pretensões de uma Lusa que sonha um dia voltar a se consolidar no cenário nacional. Seria o primeiro passo de uma longa jornada. Desde 2017, quando pela primeira vez ficou sem divisão, a Portuguesa só conseguiu voltar a jogar a Série D em 2021, quando caiu na segunda fase.
Isso mostra o quanto a temporada 2025 não tem nada de trivial. E pode até ser mais especial. Se o título da Série B deste ano ficar com Santos ou Novorizontino, e se tanto Palmeiras quanto São Paulo terminarem o Brasileirão com vaga na Libertadores, a Lusa herda um lugar na Copa do Brasil pela classificação dela no último Paulistão.
Estádio do Canindé, casa da Portuguesa
Anderson Romão / Portuguesa
O objetivo no estadual de 2025 seria ficar na elite mais uma vez, garantir-se na Série D de 2026 por segurança e quem sabe beliscar uma das cinco vagas que a competição dá na Copa do Brasil do ano seguinte. Já na Copa do Brasil, se de fato disputar, o objetivo é financeiro: jogar a primeira fase rende R$ 750 mil, passar já vale quase R$ 1 mi.
Por fim, o objetivo na Série D é óbvio. Tentar, a todo custo, subir para a Série C. Para, assim, não ficar sempre com o risco de deixar o cenário nacional. Mas exemplos há aos montes de clubes que levaram dois, três, quatro, cinco anos ou mais para conseguir.
Traçar esse cenário é necessário para entender o quanto 2025 é fundamental para um clube (ou ao menos uma torcida) que anseia por uma reconstrução. Deveria ser óbvio dizer que todas as atenções e todos os esforços precisam ser concentrados nesse ano.
Só que, infelizmente, não é isso que se vê na Portuguesa neste momento. Três meses e meio separam este texto da estreia rubro-verde no Paulistão. Tempo enorme para a torcida, ansiosa por voltar a ver o time em campo, justo para a diretoria, que precisa montar quase tudo para o campeonato, mas quase nada para o cenário de indefinições.
O foco das discussões no Canindé em outubro não é a comissão técnica que comandará a Lusa, os potenciais reforços que estão na mira para a temporada, os patrocinadores que precisam chegar para ampliar as receitas, enfim, a preparação para 2025.
A discussão preponderante é política, mais precisamente se a Portuguesa transformará o futebol em SAF, se a área do clube dará lugar a um projeto imobiliário de grandes proporções, se um desses caminhos renderá o investimento tão necessário, e por aí vai.
Estádio do Canindé, casa da Portuguesa
Anderson Romão / Portuguesa
A situação, liderada pelo presidente Antônio Carlos Castanheira, defende um projeto focado em SAF, tendo como investidores Grupo Águia, Lyon Capital e Sports Hub Brasil, que apresentaram uma proposta formal incluindo administração do futebol, construção de arena, reforma do CT e um processo de recuperação judicial.
Já a oposição, no dia em que se ia votar essa proposta, apresentou outro plano. O foco seria um projeto imobiliário no terreno do clube, não deixando de incluir uma arena, melhorias no CT, investimento no futebol e recuperação judicial. Uma sociedade, com a Lusa gerindo o futebol e os parceiros a parte imobiliária, com receitas 50% a 50%.
O projeto é capitaneado pelo conselheiro Armando Gonçalves que, com autorização dos poderes do clube, havia contratado meses atrás o escritório do ex-deputado Vicente Cândido para captar investidores. O político levou ao clube uma carta de intenção de um fundo inglês. Que, para deliberar sobre uma proposta formal, fez alguns pedidos.
Um é o balanço financeiro de 2023 (ainda em debate no Conselho Deliberativo), outro é uma diligência prévia, e por fim um plano de negócios da Lusa para os próximos cinco anos. Esse é o estágio após cinco reuniões do Conselho de Orientação e Fiscalização.
O que mais fez barulho foi o vazamento do valor do projeto da oposição: R$ 1,5 bi. É o que pede o projeto desenhado pela oposição junto com um escritório de arquitetura. Cerca de cinco vezes o que previa o projeto da situação. Quase inédito no país.
Entre integrantes da oposição se ouve que o projeto da situação é frágil, tem valores irrisórios e inconsistentes, daria a administração de tudo aos investidores por tempo demais, sem grandes garantias em foco no futebol, com risco ao patrimônio.
Entre integrantes da situação se ouve que o projeto da oposição surgiu apenas para melar o anterior, que os valores são fora de qualquer realidade, que carta de intenção não é proposta, que as exigências servem mais à política que ao investidor sigiloso, etc.
Estádio do Canindé, casa da Portuguesa
Anderson Romão / Portuguesa
Fato é que, pelo estágio atual dessa disputa política, três meses e meio não são nada. Até porque, ainda que se aprove algum projeto, a Portuguesa teria um novo comando. Seja do clube em si, seja do futebol. Um trabalho começando do zero. Tudo novo.
Se nenhum plano for aprovado, e a Lusa seguir como está, o cenário não se torna mais certo ou claro. Até porque as contas do clube voltaram a ser bloqueadas em meio à revisão do acordo na Justiça do Trabalho, já explicado aqui em outra coluna. Isso compromete recursos de patrocinadores, cota da Federação Paulista de Futebol, tudo.
Ou seja, a Portuguesa está exageradamente distante de uma situação ideal para encarar a temporada mais importante para o clube na última década. Se o problema fosse “só” não ter grande base de elenco ou comissão técnica definida estaria relativamente “fácil”. Ao contrário de definições, o que se ouve é até que vem terceira proposta de SAF aí.
Estádio do Canindé, casa da Portuguesa
Anderson Romão / Portuguesa
Enquanto deveria estar com todos os esforços, recursos e energias voltados para a próxima temporada, a Lusa (para variar) está ilhada pela disputa política e asfixiada pelo apuro financeiro. Demonstrando, até aqui, um sério risco de jogar 2025 no lixo.
*Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.



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