Cresce a oferta de vinhos meio secos no Brasil .

Há vinhos bem feitos na categoria meio seco. Eles são macios, redondos e fáceis de beber – Foto: Vinotecarium por PixabayHá vinhos bem feitos na categoria meio seco. Eles são macios, redondos e fáceis de beber – Foto: Vinotecarium por Pixabay

Entre as muitas verdades, mitos e polêmicas que giram em torno do vinho, uma delas refere-se ao teor de açúcar. Cada dia o Brasil importa mais vinhos na categoria meio seco, ou seja, que contém um nível de açúcar residual maior do que o vinho seco. Muitos enófilos e consumidores desconfiam da qualidade desses vinhos. No entanto, pessoas que estão iniciando no mundo do vinho ou que têm dificuldades com sabores ácidos ou amargos acabam gostando desses rótulos, geralmente macios, redondos e fáceis de beber.

Uma das críticas mais comuns é a de que o açúcar encobre defeitos. É fato. O açúcar atenua gostos mais salientes como o ácido e o amargo, deixando a sensação de equilíbrio na boca. Outra desconfiança é se o açúcar residual é natural, da própria uva, ou se é açúcar de cana adicionado. Os vinhos meio secos podem ter açúcar adicionado (isso acontece geralmente com o vinho de mesa), mas também podem ter o açúcar da própria uva, que sobrou no vinho depois de fermentação.

A lei

A legislação brasileira prevê a seguinte classificação para os níveis de açúcar (glicose e frutose) de um vinho:

Seco: o vinho tem até 4 g de açúcar residual por litro.

Meio Seco ou Demi-Sec: o vinho tem entre 4,1 g e 25 g de açúcar residual por litro.

Suave ou Doce: de 25,1 a 80 g de açúcar residual por litro.

Mais ou menos doce

Sob o ponto de vista de sabor, o vinho meio seco pode se parecer muito com o seco ou mostrar-se mais a caminho do doce. Essa variação ocorre porque a faixa da quantidade de açúcar para esses vinhos é ampla.

Quanto mais próximo estiver o açúcar residual dos 4 g/l, fronteira entre o vinho seco e o meio seco, mais o vinho parecerá seco, a sensação do açúcar será menor ou praticamente imperceptível. Provo vinhos todos os dias. E já provei meio secos que pensei serem secos, pela taxa de açúcar ultrapassar muito pouco os 4% e também pelo índice de acidez que, mais elevado, reduz a sensação da doçura.

Por outro lado, quanto mais próxima a taxa de açúcar do vinho estiver dos 25g, linha divisória do meio seco e o doce, mais a sensação de doçura será saliente no paladar.

Como os contrarrótulos não trazem a informação dos teores de açúcar dos vinhos meio secos, muitos consumidores ficam receosos na hora de comprar uma garrafa com essa classificação. E o vinho acaba sendo visto com desconfiança. A saída é pedir auxílio do sommelier da loja ou mercado, para obter essa informação.

Lei europeia

Na Europa a legislação é diferente e muitos vinhos que lá são rotulados como secos aqui entram como meio secos. Cada país tem a sua legislação específica, mas, pela regra geral da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) o vinho é considerado seco com até 4 g de açúcar por litro, como no Brasil. No entanto, existe uma leitura diferente para os vinhos que ultrapassam essa linha. Essa leitura estabelece uma relação direta entre o açúcar residual e a acidez.

Por ela, um vinho será considerado seco com até 9 g de açúcar residual, desde que a acidez (ácido tartárico) desse vinho apresente uma diferença de pelo menos 2 g/l com relação ao teor de açúcar. Assim, um vinho com 9g/l de açúcar residual será considerado seco se tiver pelo menos 7 g/l de ácido tartárico.

Já provei, por exemplo, um Alvarinho considerado seco em Portugal e aqui foi rotulado como meio seco. Alguns Amarones de bons produtores também são rotulados como meio secos.

Vinhos fáceis

O fato é que os vinhos meio secos costumam ser a porta de entrada para muitas pessoas que estão iniciando no mundo dos vinhos. Eles são macios, redondos, fáceis de beber. Eu mesmo comecei a tomar vinho suave, feito em casa pelo meu pai. Minha mãe adorava os mais docinhos. Já adulto, eu levava vinhos secos quando ia visitar minha mãe e ela, diabética, acrescentava algumas gotas de adoçante ao seu copo. Sacrilégio? Ela bebia, gostava, e irradiava felicidade.

É natural que as pessoas, à medida que avançam no mundo do vinho, migram para os secos. Faz parte da evolução do processo. Mas conheço gente que bebe vinhos meio secos e meio doces há décadas e não abre mão dele.

Beba o que gostar

Cada um faz as suas escolhas. A pessoa está bebendo vinho. O importante é que seja um vinho de qualidade, com açúcar residual da própria uva, bem feito, agradável. Não tem uma máxima que diz que o melhor vinho é aquele que a gente gosta? Pois, cada que faça suas escolhas e seja feliz com aquilo que gosta. Saúde.

Provei essa semana um vinho meio seco agradável, macio, gostoso de beber, com um açúcar residual quase imperceptível. Divido com vocês as notas da prova:

Um meio seco português – Foto: João LombardoUm meio seco português – Foto: João Lombardo

Valle dos Barris 2022 – Adega de Palmela – Vinho Regional Península de Setúbal – Portugal

Uva Castelão. Passagem de quatro meses por barricas de carvalho. Teor alcoólico de 13%. Cor vermelho rubi. Aromas de frutas vermelhas, framboesas, amoras; de especiarias doces, um toque floral. Fresco e macio em boca, redondo, fácil de beber. Harmoniza bem com fiambres, queijos de media estrutura, massas com molhos de tomate e de carne, galeto, carnes grelhadas e assadas, bacalhau de forno. (Bistek).

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