O tempo máximo que pode deixar seu filho no celular conforme a idade
Manter a vigilância sobre os conteúdos acessados pelas crianças e adolescentes na internet não é uma tarefa simples e com a pressa do dia-a-dia, deixar o filho no celular para distraí-lo parece uma boa alternativa. Contudo, especialistas têm associado o uso desenfreado das novas tecnologias ao aumento de delitos cometidos por menores infratores no Brasil.
Em entrevista ao Globo, a juíza Vanessa Cavalieri, titular da maior Vara da Infância e Adolescência do país, revela que o número de crianças e adolescentes envolvidos com pornografia infantil e crimes de ódio na internet só cresce com o passar dos anos.
“São casos investigados pela Interpol, com ligações internacionais, em que meninos de 15, 16 anos estão com material chocante. Também está aparecendo muito mais violência entre pares: agressões, ameaças, violência de gênero. Estou cheia de adolescentes com medida protetiva da Maria da Penha contra meninas”, apontou.
A juíza criou o protocolo Eu Te Vejo, que visa prevenir violência nas escolas e incentiva o uso adequado de tecnologias digitais, e também é mãe de duas adolescentes.
Além de defender o tempo de tela definido pela Sociedade Brasileira de Pediatria para cada idade, Vanessa destaca que a importância desse tempo on-line ser vigiado.
“Cada família vai estabelecer de acordo com seus valores, com suas regras e com a idade da criança. Claro que uma criança de 10 anos vai ter muito mais conteúdo restrito do que um adolescente de 16. Na minha casa, minhas filhas não podem usar o Discord, que é uma terra de ninguém e nenhum adolescente deveria acessar, e bets”, disse.
A juíza aconselha os pais a manterem todas as senhas e redes sociais dos filhos armazenadas nos próprios celulares, além de deixar o telefone bloqueado durante a noite. “Inclusive, o ideal é o celular carregando fora do quarto da criança”.
Os riscos que seu filho no celular corre
Vanessa argumenta que as redes sociais e jogos on-line são viciantes, e provocam efeitos cognitivos negativos nos cérebros das crianças que ainda estão em desenvolvimento.
“Milhares de pesquisas comprovam que o efeito no cérebro é igual ao das drogas”, argumenta. No entanto, o principal perigo é em como a internet pode expor vulneráveis a pedófilos e aliciadores.
“A rede social é uma praça pública escura cheia de estranhos. Quando a pessoa entender isso, vai conseguir se comportar numa rede digital igual ela se comporta na vida real, porque ninguém deixa uma criança numa praça pública e vai embora. As mães não fazem isso porque é perigoso”, ressaltou.
Para elucidar a gravidade dos casos que atende, Vanessa deu dois exemplos de crianças que começaram acessando conteúdos inocentes no TikTok e foram atraídas para comunidades obscuras.
“Um caso é de uma menina de 16 anos que está respondendo por incentivar o suicídio de outras no Discord. Quando ela tinha 12 anos, ela usava o TikTok para ver dancinhas, como todas as outras meninas da sua idade, e o For You (aba em que o aplicativo oferece conteúdos de perfis que a pessoa não segue) do TikTok sugeriu uma comunidade de automutilação para ela. Foi assim que ela chegou nesse servidor”, afirmou.
“Outro caso é de um menino que estava numa comunidade do Discord de supremacia branca e ódio contra mulheres. Ela também foi sugerida pelo For You do TikTok, que ele tinha 11, 12 anos. Ou seja, o TikTok joga adolescentes e crianças em comunidades de conteúdo criminoso do Discord. Por isso as big techs precisam restringir o acesso a conteúdos inadequados”, completou.
A juíza ainda ressalta que para a Interpol, bastam seis frases em média para um pedófilo conseguir uma foto de uma criança, com nudez ou pouca roupa, e detalha como funciona o processo.
“Para os meninos, eles se passam por treinador de futebol e pedem uma foto de sunga para avaliar a parte física da criança. E para as meninas a história é que ele está buscando alguém com o perfil dela para uma série e aí pedem uma foto de biquíni ou calcinha e sutiã. Então, tem que desabilitar o chat desses jogos”.
Tempo de tela conforme a idade, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria:
- De 0 a 2 anos: não devem ser expostos;
- De 2 a 5 anos: uma hora por dia;
- De 6 a 10 anos: duas horas por dia;
- A partir dos 10 anos: três horas por dia.
Além disso, Vanessa destaca que a idade mínima para criar uma conta na maioria das redes sociais é 13 anos, e que essa idade deveria ser respeitada.
“Se as bigtechs dizem que não é seguro antes disso, ninguém deveria deixar seus filhos usarem. Se precisar dar um aparelho antes disso por algum motivo, compre os dumbphones. Aqueles telefones que não são smartphones. Algumas empresas estão relançando modelos antigos para atender essas famílias”, explicou.
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