Quem era motorista que morreu em trágico acidente na BR-376
Ricardo Leal da Cunha é descrito como alguém que tinha vontade de viver. Nos 52 anos de vida, colecionou viagens e diversas experiências que ficarão na lembrança da família e amigos. Ricardo era o motorista que conduzia a van atingida por um caminhão na BR-376 no último domingo (20). Ele e mais oito pessoas morreram no trágico acidente.
Ricardo trabalhava como motorista há, pelo menos, 20 anos. No início da carreira, era moto-táxi e possuía um ponto na Avenida Duque de Caxias, no bairro Fragata, em Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Para ampliar as oportunidades, Ricardo decidiu subir a categoria da sua CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e comprou uma van. “Depois disso, nunca mais parou de trabalhar como motorista”, conta Francielly Tavares da Cunha, filha de Ricardo.
‘Pai excepcional’
Francielly relembra que seu pai tinha muita vontade de viver, praticava esportes e adorava viajar. “Para mim ele era um amigo, sempre preocupado comigo e dando uma palavra de incentivo no meu trabalho”, conta.
Mesmo com a correria entre viagens, o motorista encontrava tempo para conviver com a família. Além de Francielly, Ricardo ainda tinha outro filho, um menino de apenas oito anos.
“Era um pai excepcional para o meu irmão, sempre brincando muito com ele e oferecendo apoio quando necessário”, conta. Francielly ainda lembra que Ricardo foi o responsável por ensiná-la a andar de bicicleta, algo que ficará marcado em sua memória como um dos momentos mais especiais ao lado do pai.
“Me dava algumas dicas, ia me visitar no consultório quando eu tinha tempo livre e ele também. Quando criança eu morei com ele somente até os dois anos, porque após isso houve a separação dele e da minha mãe, mas ele fez o que pôde.”
Viagem a SP com equipe de remo
Ricardo visitou a filha dois dias antes de levar a equipe do projeto “Remar para o Futuro” para o Campeonato Brasileiro de Remo Unificado, em São Paulo. “Ele foi me visitar no meu consultório e disse que tinha uma viagem que não sabia se iria acontecer, porque eles estavam fazendo ‘vakinha’ para conseguir viajar”, lembra Francielly.
O trabalho foi proposto a Ricardo pelo amigo e vizinho Athos Tarouco Simões, que, inicialmente, seria responsável por levar a equipe para a competição.
Athos transportava os atletas há mais de três anos e já havia feito mais de 20 viagens com eles. “Essa foi a primeira viagem para fora do estado. Normalmente, eles iam de avião, então eu os levava até o aeroporto ou para competições em Porto Alegre”, relatou em entrevista ao portal ND Mais.
“O coordenador do projeto, Oguener Tissot, com quem eu tinha um bom relacionamento, demorou para me dar uma resposta por conta de questões com patrocinadores. Nesse intervalo, minha agenda foi preenchida, e acabei sem disponibilidade. Então, indiquei um colega. A gente sempre se apoiava, um trocando viagem com o outro. Ele se dispôs a fazer essa viagem no meu lugar”, explicou Athos.
Francielly recorda que o pai contou que ficaria muitos dias na capital paulista com a equipe. “Me avisou quando chegou lá e disse que voltava dia 20.”
Trágico acidente na BR-376
Após o campeonato finalizar e a equipe conquistar diversas medalhas, eles iniciaram o trajeto de volta a Pelotas no domingo (20). O grupo faria uma parada em Joinville, no Norte catarinense, para passar a noite e voltar à estrada na segunda-feira (21) pela manhã.
“Falei com ele duas horas antes do ocorrido, ele me mandou um áudio dizendo que estava tudo bem, que estavam prestes a jantar e que logo chegariam a Joinville para descansar”, lembrou o amigo Athos.
No entanto, por volta das 21h40 de domingo, um caminhão atingiu a van na descida da BR-376, na região de Guaratuba (PR). O veículo foi projetado para a frente e bateu na traseira de um automóvel. Segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal), a van rodou e a carreta a arrastou para fora da pista tombando sobre ela.
Ricardo, o coordenador do projeto, Oguener Tissot, e sete adolescentes morreram no momento do acidente.
Despedida
“Parece que estamos vivendo o mesmo dia desde segunda, está muito difícil assimilar as coisas”, contou Francielly à reportagem do portal ND Mais.
Os corpos das vítimas foram conduzidos pela FAB (Força Aérea Brasileira) até Pelotas dois dias após o acidente. Familiares e amigos realizaram um velório coletivo para se despedirem das vítimas.
A cerimônia foi marcada por grande emoção e homenagens, com familiares e amigos entoando a canção “Prossigo”, do Centro Sião de Adoração.
Depoimento do caminhoneiro
O motorista responsável por dirigir o caminhão envolvido no trágico acidente prestou depoimento à Polícia Civil na tarde de terça-feira (22). Nicollas Otilio de Lima Pinto, de 30 anos, alegou problema mecânico, que o teria impedido de reduzir as marchas ou utilizar o freio motor do veículo.
O motorista é natural de Pelotas, no Rio Grande do Sul, a mesma cidade das vítimas. “Isso é uma das causas que fragiliza muito ele. Além da tragédia, ele acabou se envolvendo num episódio terrível com conterrâneos”, contou o advogado responsável pelo caso, Richard Noguera.
O delegado da Polícia Civil do Paraná Edgar Santana relembrou que “durante seu interrogatório, em alguns trechos, ele [Nicollas] chorou e demonstrou uma total tristeza em relação ao fato que ocorreu.”
Veja quem são as vítimas fatais do acidente com atletas de remo
- Samuel Benites Lopes, 15 anos;
- Henri Fontoura Guimarães, 15 anos;
- João Pedro Kerchiner, 17 anos;
- Helen Belony, 20 anos;
- Nicole da Cruz, 15 anos;
- Angel Souto Vidal, 16 anos;
- Vitor Fernandes Camargo, 17 anos;
- Oguener Tissot (coordenador), 43 anos;
- Ricardo Leal da Cunha (motorista), 52 anos;
- Sobrevivente: João Milgarejo, 17 anos.
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