Sylvia Colombo: América Latina é lateral na eleição de EUA – 26/10/2024 – Sylvia Colombo
A América Latina nunca foi protagonista nas eleições norte-americanas, e nada leva a crer que desta vez será diferente. Porém, o contrário não pode ser dito. Para os países ao sul do rio Grande, o que ocorrer no próximo dia 5 de novembro no país do norte terá muito impacto com relação a distintas áreas.
De um modo geral, uma vitória de Donald Trump sobre Kamala Harris dará aval político e moral a líderes da extrema direita regional, tanto os já instalados no cargo, Nayib Bukele (El Salvador) e Javier Milei (Argentina), como os que estejam buscando chegar ou retornar a ele, como o equatoriano Daniel Noboa —que disputa a reeleição em 9 de fevereiro próximo— e Jair Bolsonaro.
Também vão receber fôlego os partidários de Milei, que irão buscar reforçar sua presença no Congresso nas eleições legislativas argentinas em 2025. Hoje, os chamados libertários são minoria no Parlamento argentino e precisam do apoio de outros partidos para ver leis aprovadas.
Se Kamala vencer, será um triunfo da representatividade da população negra, além de um impulso aos governantes que sejam a favor das pautas identitárias e da agenda verde.
Para o caos instalado em países do Caribe, como a crise financeira em Cuba e a social no Haiti, nenhum dos candidatos parece ter uma fórmula.
A relação com os países de centro e centro-esquerda da região, Brasil incluído, também deve ser mais amistosa com Kamala.
Não se devem esperar, porém, grandes mudanças do ponto de vista da posição do governo sobre a imigração, uma vez que a gestão Biden, da qual ela fez parte, realizou esforços para reduzir esse fluxo. Além disso, neste tema, costuma influenciar muito o Congresso. Kamala não se engajará na construção de um muro, mas tampouco facilitará os requisitos para a entrada de mais migrantes.
Se Trump vencer, algumas relações diplomáticas ao sul podem azedar. Isso inclui a Colômbia, país com o qual os EUA têm um vínculo estratégico histórico e ao qual ajudou a reforçar com armas e financiamento desde o início do Plano Colômbia —de 1999 a 2016, foram enviados ao país andino US$ 10 bilhões em ajuda militar. Esse dinheiro foi responsável pelo desmonte de cartéis e pelo enfraquecimento das guerrilhas, permitindo que o acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) tivesse lugar, com a bênção do democrata Barack Obama.
Agora, o quadro é outro. Há um recrudescimento da violência e a formação de novos grupos voltados ao narcotráfico e de características transnacionais. O primeiro líder de esquerda da Colômbia, Gustavo Petro, não é um fã do confronto direto com essas facções e tem tido dificuldades na implementação do seu plano de “paz total”, que inclui negociações com os grupos armados e eventuais indultos ou anistias.
Se Kamala pode ser mais simpática à ideia, o mesmo não poderá ser dito de Trump. O estilo de ambos os líderes também deve gerar confronto. Como Trump, Petro é desbocado e gera tensão com direitistas da região por meio de insultos usando as redes sociais.
A Venezuela seguirá sendo um problema, seja quem for eleito no próximo dia 5. Sendo herdeira de uma estratégia falida dos democratas para encerrar a ditadura no país, Kamala recebe pressão por mais sanções ao regime de Nicolás Maduro. Já com Trump, temos o histórico de uma aproximação com a ideia de uma invasão do país, que seria terrível para toda a região.
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