Uma eleição em que a bala comeu no país inteiro – 28/10/2024 – Alvaro Costa e Silva

A eleição de 2024 ficará marcada pelo caixa 2 cobrado a empresários em troca de oferta de contratos (apesar da derrama de verbas públicas destinada aos candidatos), pela compra de votos que faz o Brasil retornar aos tempos da República Velha e pela modernidade que representa a infiltração de organizações criminosas.

Para ficar apenas em São Paulo: órgãos de inteligência noticiaram ao TRE-SP que 70 candidatos são suspeitos de ligação com o crime. Dez foram eleitos vereadores e dois levaram prefeituras.

Com bandidos na disputa, é natural que a bala comesse solta no país inteiro. Um levantamento do Grupo de Investigação Eleitoral da Unirio apontou que, de janeiro a outubro, houve 525 casos de violência política (76 assassinatos), número que, em comparação com 2020, é mais que o triplo. Em Natal, a PF investiga uma ameaça de morte contra Natália Bonavides, a candidata da esquerda que não se elegeu.

Na campanha a prefeito de São Paulo não houve tiros, mas quase. Uma lasca de civilidade limitou as agressões a cadeirada e soco. Por sorte não se registrou deputados federais correndo de arma em punho nas ruas, como na véspera da votação para presidente em 2022. Mas não faltou um golpe baixo do governador Tarcísio de Freitas, ao dizer, com as urnas ainda abertas e sem apresentar provas, que o PCC orientou o voto em Guilherme Boulos.

Entre os otimistas —ou mal-informados— havia a esperança de que o segundo turno mostrasse uma discussão aprofundada das prioridades da metrópole. Veio o inacreditável apagão e quase tudo nos debates se resumiu a ele. O mais importante ficou de fora: discutir a crise climática e apresentar soluções para um cenário que se tornará cada vez mais adverso. Segundo o Datafolha, quase a metade dos brasileiros avalia que as prefeituras não estão fazendo nada para enfrentar uma situação que desabriga e mata.

Nas urnas, deu Ricardo Nunes. Com jeito de amigo da onça, ele fez valer uma confortável posição no centro do espectro político, para a qual havia sido empurrado pelo cometa Pablo Marçal. No mapa geral, perdeu Lula, perdeu Bolsonaro —e perdeu a polarização.


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