Gols, confusão e comemoração à la Viola: relembre dérbis regionais "malucos" no início do século
Ex-atacante ajuda avivar lembranças de dois jogos quentes entre Prudentino e Ranchariense que terminaram com vitórias dos visitantes; assista às reportagens da época Eh, saudade! O torcedor do Oeste Paulista não tem a oportunidade de acompanhar um dérbi regional desde 2022, quando Grêmio Prudente e Osvaldo Cruz se enfrentaram pelo Campeonato Paulista da Segunda Divisão – quarto patamar estadual, na época. Mais de 20 anos antes, houve dois jogos “malucos”, com gols, confusão e vitórias dos visitantes.
Dérbi regional entre Ranchariense x Prudentino, em Rancharia, teve confusão e cinco gols
Um ex-atacante reativou as lembranças e colaborou com detalhes das partidas disputadas em 2001. Julio Luiz foi um dos personagens principais desses dérbis. Levou cartão vermelho, balançou as redes em ambos os duelos e até comemorou inspirado em Viola – tetracampeão com a Seleção em 1994.
A temporada teve o Prudentino e a Ranchariense duelando pelo Campeonato Paulista Série B3 – o sexto degrau do estado. Conforme enfatizou Julio, atacante do time de Rancharia na ocasião, a divisão não tinha limite de idade, e atletas inativos após a A2 e A3 davam colaboração para que o “bicho pegasse” mesmo.
Uma partida foi realizada no Francisco Franco, casa da Ranchariense, e outra no Prudentão. Os dois placares registraram 3 a 2. Outro ponto em comum nos duelos diz respeito ao clima pegado, principalmente no encontro em Rancharia.
Foi uma loucura. Eles foram lá, e a gente perdeu. No jogo de volta, descontamos o placar. Lembro-me de falarem, ao ganhar em Rancharia, que iriam amassar no Prudentão, que a gente não ia ver a cor da bola. Fui até expulso. Não fiz nada. Tomei vermelho direto e nem entendo a razão. Fiz uma falta de jogo, e o árbitro entendeu que era lance perigoso
Reencontro entre Prudentino e Ranchariense, no Prudentão, repetiu agito do primeiro jogo
A partida no Francisco Franco começou cinco minutos atrasada em razão da falta de policiamento. A equipe da casa abriu o placar com Julio. O Cavalo do Oeste virou. Anderson, autor do segundo gol visitante, se desentendeu com Tales, e o defensor da Ranchariense saiu com o nariz fraturado – assista na reportagem acima.
O atleta do Prudentino recebeu cartão vermelho, e a confusão começou a seguir. As cenas lamentáveis envolveram jogadores, comissões técnicas e torcedores dos dois times nas arquibancadas. Quando a bola voltou a rolar, os visitantes ampliaram, e os rancharienses descontaram.
No Prudentão, o time da casa saiu na frente. A Ranchariense empatou e virou com Julio marcando de novo. Só que ele acabou expulso antes do intervalo. Na volta do descanso, os mandantes empataram. Lúcio fez o segundo dele, outra vez de falta, e a equipe visitante fechou a conta – reveja também na reportagem acima.
Dérbi regional fez o “bicho pegar” em 2001
TV Fronteira/Reprodução
Julio comemorou no Prudentão inspirado em Viola. O tetracampeão teve passagens por Corinthians, Vasco, Palmeiras, Santos, Turquia e Espanha. Também ficou conhecido pelas comemorações inusitadas e provocativas.
– Eu fiz o gol. Enchi o pé esquerdo, e o goleiro foi pegar lá no fundo das redes. Até gritei: “Pega lá no fundo.” Saí correndo rumo ao orelhão para dizer que fui ligar para minha mãe. Já tinha avisado para o pessoal que ia fazer, imitar o Viola. Começou na resenha, com o jogo de ida. Na época, a Ranchariense tinha o zagueiro prudentino Ronaldão, hoje trabalha na segurança de um shopping. A gente brincava: “Ronaldão, vou esculachar na sua cidade.” Ele dava risada. Ficou na arquibancada na volta, tinha tomado amarelo e disse quando fui ao orelhão: “Você é maluco mesmo”.
Viola chegou a imitar um porco ao marcar pelo Corinthians em jogo decisivo contra o Palmeiras. Homenageou Ayrton Senna na morte do piloto em 1994 e realizou a comemoração responsável por inspirar a celebração de 2001, em Prudente. Ainda pelo Timão, balançou as redes diante do Juventus em 1993, correu em direção ao orelhão atrás de um dos gols do Pacaembu e mandou um alô para a torcida alvinegra.
Viola comemora gol no orelhão do Pacaembu em 1993
Reprodução
Trajetória do “Viola” ranchariense
O ex-atacante nasceu em Bastos, na região de Marília e colada à região de Presidente Prudente, pois seu pai era profissional no mundo da bola. Dentre as passagens, João Luiz ficou um tempo no Paraguaçuense, fato que ajudou a criação de raízes no Oeste Paulista. Interessado no irmão de Julio, um grupo de empresários foi a Paraguaçu Paulista.
– Veio esse grupo, na mesa de casa, eles perguntaram: “E esse menino, joga?” Eu nem jogava, mas falei: “Claro que jogo.” Meu pai me ensinou durante seis meses os fundamentos básicos. Meu primeiro clube foi a São-Carlense, que era desse grupo. Cheguei lá para, na verdade, acompanhar um menino da escolinha do meu pai. Ele jogava muita bola. Dei sorte de fazer gols em dois coletivos. Eu fiquei, e o menino foi embora. Caí de paraquedas lá. Na época, eu tinha 17 anos, em 1997.
Júlio marca para a Ranchariense em 2001 no Prudentão
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A profissionalização ocorreu no Tupã, no fim da década de 90. Passou pelo futebol português, porém a adaptação não saiu como o planejado. Devido a uma grave lesão no ombro, encerrou a carreira em 2005, no Blumenau (SC). Gazeta de Ourinhos e Operário (PR) também são clubes pelos quais atuou.
A velocidade era uma das principais características em campo. Logo, ao parar no futebol, teve a chance de se dedicar ao atletismo e seguiu em frente. O destaque obtido na região de Marília fez com que surgisse um convite para treinar em Prudente.
Velocista nos 100m e nos 200m, Julio chegou a pegar a reta final do quarteto prata olímpica em Sydney, em 2000, na equipe prudentina. Dentre as conquistas, está um pódio no Troféu Brasil com o revezamento 4x100m.
– Como não queria ficar longe do esporte, eu conheço um menino em Bastos, na época era treinador de atletismo. Ele me treinou por um mês, para ir para os Jogos Regionais, em Assis. Todo ano, Prudente e Marília brigam por quem ganha mais medalha. Aí eu entrei no meio do bolo entre as duas cidades nos 100m e 200m. O Inaldo Sena [ex-velocista e treinador] me viu, me trouxe para cá, e estou desde 2006 [em Prudente].
Julio acabou expulso ainda no primeiro tempo no Prudentão
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Perto de deixar o atletismo, ele ainda desempenhou a função de atleta-guia da velocista paralímpica Jerusa dos Santos, recentemente ouro nos 100m e 200m T11 (deficiência total da visão) nas Paralimpíadas de Paris. A sequência envolveu dedicação ao estudos, e a vida profissional agora segue como personal trainer.
Seus pais morreram no período da pandemia da Covid-19, há aproximadamente três anos. A pouco mais de 100km de Prudente, em Tupã – também na região de Marília – vive Anderson Luiz, irmão de Julio e outro ex-atacante da família. Anderson é dois anos mais velho e jogou até meados de 2010.
A carreira tem passagens pelo futebol do Oriente Médio, Japão, China e Portugal, onde defendeu o tradicional Benfica. No Brasil, destaque para a passagem pela Ponte Preta, clube onde ajudou o centroavante Finazzi a dar trabalho aos grandes paulistas. Em Tupã, é fisioterapeuta e presta serviços no ramo de festas com o buffet que abriu.
Julio Luiz hoje é personal trainer
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Campeonato Paulista da Série B3 de 2001
Se hoje a nomenclatura das cinco divisões do Campeonato Paulista são A1, A2, A3, A4 e Segunda Divisão, 23 anos atrás havia a A1, A2, A3, B1, B2 e B3. Prudentino e Ranchariense foram os representantes regionais na edição de 2001 do sexto patamar estadual, iniciada em maio e finalizada em dezembro.
Naquela temporada, o Corinthians de Prudente até estava na lista de participantes da B1, mas foi excluído por pendências financeiras. A equipe nunca mais apareceu no cenário do futebol profissional. O título da A1 ficou com o homônimo famoso, que venceu o Santos na semi, com o gol de Ricardinho aos 48 minutos, e o Botafogo, de Ribeirão Preto, na final.
Prudentino venceu em Rancharia, e visitantes deram o troco no Prudentão
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Voltando à Série B3 de 2001, 27 times entraram na disputa, como União Suzano e Vocem, os quais estão em atividade atualmente. O Corinthians B se sagrou campeão. Também subiram Montenegro, Joseense, Ponte Preta B e Paulista (de Caieiras, ex-Campo Limpo Paulista).
O Prudentino chegou perto do acesso. Na segunda fase, os participantes foram divididos em três grupos de quatro clubes cada, e o Cavalo do Oeste ficou só dois pontos atrás do Joseense. A Ranchariense parou na primeira fase, inclusive perdendo pontos no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD).
Temporada 2001 teve Prudentino e Ranchariense como representantes do Oeste Paulista no cenário profissional do futebol; ambas sairiam de cena anos depois
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Prudentino
O Prudentino Futebol Clube foi a quarta equipe profissional da história da modalidade em Prudente. Surgiu em 2001, contando com a ajuda do empresariado local, após a ausência do extinto Corintinha. Antes dele, além do Alvinegro, estão na história a Prudentina (Apea) e o Presidente Prudente Esporte Clube, o qual durou apenas duas temporadas na década de 1970.
O clube saiu do cenário em 2005. Logo depois, foi criado o Oeste Paulista, o Opec, e outro Presidente Prudente, o PPFC, se profissionalizou. Vida rápida também teve o Grêmio Prudente, o ex-Barueri, em 2010 e 2011. No ano seguinte, o atual Grêmio Prudente adquiriu os direitos federativos do Opec. Em 2019, houve a troca para a atual gestão.
As partidas contra a Ranchariense não foram os únicos episódios inusitados proporcionados pelo Prudentino FC. Em 2001, a equipe participou da última disputa por pênaltis vista no Prudentão (relembre). Nesse período, um artilheiro vivenciou experiências com a camisa prudentina e ranchariense (relembre também).
Ângelo Pretti, técnico do Prudentino FC em 2001
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Ranchariense
Fundada em 20 de janeiro de 1943, a Associação Atlética Ranchariense começou a participar das disputas profissionais federadas em 1978. Anteriormente, defendia o futebol da cidade nas disputas amadoras até em nível estadual. Nesse período, Rancharia também teve a Associação Atlética Matarazzo.
A última aparição com o time de cima nas competições da Federação Paulista de Futebol (FPF) foi na quarta divisão de 2008, quando caiu na segunda fase. Chegou ainda a participar das disputas da FPF na base até 2012. A partir disso, as atividades se limitaram a disputas na base, em torneios alternativos.
Em 2016, o clube participou da Taça Paulista e conquistou o campeonato organizado de forma independente das tradicionais entidades do futebol. Um “novo” Corinthians de Prudente também se arriscou e levou o caneco. Na época, criou-se expectativa acerca de adequações no Francisco Franco, inaugurado junto com o clube em 1943, mas o estádio segue sem receber competições federadas.
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Polaco, técnico da Ranchariense em 2001
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