O legado da merendeira que transforma a escola em espaço de aprendizado e afeto — Agência Gov
Gilda Rosângela Cordeiro de Souza, de 45 anos, trabalha como merendeira na Escola de Referência em Ensino Fundamental e Médio (EREFEM) Juazeiro, em Tacaratu, Pernambuco, há 12 anos. Mas a ligação dela com essa função começa bem antes: filha de uma merendeira que atuou por 21 anos, Gilda cresceu vendo o impacto positivo que o preparo das refeições tem na vida dos alunos. Inspirada pela dedicação materna, seguiu o mesmo caminho e hoje assume com orgulho a responsabilidade de alimentar e cuidar da saúde de centenas de crianças.
“Nas minhas recordações de merendeiras que fizeram parte da minha vida, tem a minha mãe, que foi merendeira por 21 anos, inclusive na mesma escola em que trabalho até hoje”, conta Gilda. “Veio dela essa garra, a força de vontade e o amor pelo que faz, e isso despertou em mim a vontade de ser merendeira também”.
Uma experiência transformadora
Gilda guarda com carinho as experiências de sua trajetória. Um dos momentos mais marcantes foi sua participação no concurso “Melhores Receitas da Alimentação Escolar”. “Uma das minhas maiores e melhores experiências foi quando participei do concurso,” relembra. “Foi onde pude interagir com os alunos na construção de hortas orgânicas na escola, e aí todos compartilharam, meteram a mão na massa e ajudaram para que tivéssemos uma alimentação mais saudável”.
O projeto da horta deu tão certo que a escola foi convidada a participar de um programa de educação empreendedora promovido pelo Sebrae. “Por meio desse projeto de horta escolar, fomos desenvolvendo mais. Participamos da educação empreendedora e ficamos em segundo lugar. Isso é algo que me orgulha demais”, compartilha Gilda.
Laços de afeto com os alunos
Para Gilda, a relação com os alunos é uma das partes mais gratificantes de seu trabalho. “Minha relação com os alunos é maravilhosa, é incrível”, afirma. “Tem aquele momento especial da chegada, quando vou recebê-los na entrada da escola, e aí eles vão me abraçando. Um me chama de mãe Gilda, outro de tia Gilda, e a maioria me chama de mãe. É um momento maravilhoso, um sentimento que vou levar para a vida toda”.
Esse vínculo afetivo já a levou a viver momentos inesquecíveis. Ela lembra com emoção a despedida de uma turma do Ensino Médio, quando precisou mudar de horário para atender alunos mais novos. “Foi um momento único na minha vida. A maioria dos alunos chorou, me dava bilhetinhos, foi um abraço coletivo. Alguns até disseram que iam fazer greve para eu não mudar o horário. Não sabia que era tão amada a esse ponto, isso me enche de orgulho e vou levar para sempre no coração”.
O papel essencial das merendeiras e merendeiros
No Brasil, o dia 30 de outubro é dedicado aos merendeiros e merendeiras, profissionais que, como Gilda, alimentam diariamente mais de 40 milhões de estudantes em escolas públicas. Esses profissionais, além de suas atividades na cozinha, são referências de afeto e segurança para muitos alunos, ajudando na formação de hábitos alimentares saudáveis e contribuindo para o aprendizado nutricional.
“A gente não só cozinha, mas educa”, afirma Gilda. “Todos os dias eu explico para os alunos a importância de uma alimentação saudável, falo das verduras e dos benefícios de cada uma. Alguns vêm até dizer que tentaram fazer em casa o que aprenderam na escola, e isso me deixa muito feliz”.
A data é muito mais que uma celebração, é uma oportunidade de valorizar o trabalho das merendeiras e merendeiros como agentes de educação e saúde. Desde 2015, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e o Ministério da Educação (MEC) promovem concursos de receitas e ações para reconhecer a importância desses profissionais. “Ver que nosso trabalho é valorizado, que podemos crescer, mostra o quanto esse papel é essencial”, acrescenta Gilda.
O PNAE e a evolução da alimentação escolar
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é o maior programa de alimentação escolar do Brasil, garantindo cerca de 50 milhões de refeições diárias para mais de 154 mil escolas. Criado para assegurar o Direito Humano à Alimentação Adequada, o PNAE fornece refeições, integrando uma visão educativa que promove a formação de hábitos alimentares saudáveis.
Com a Lei nº 11.947, de 2009, o PNAE passou a exigir que pelo menos 30% dos alimentos comprados sejam oriundos da agricultura familiar, valorizando os hábitos alimentares regionais e promovendo o desenvolvimento sustentável.
A importância educativa dos profissionais que preparam a merenda
As merendeiras e os merendeiros do PNAE desempenham um papel educativo fundamental na formação dos alunos. Ao servir refeições saudáveis, eles incentivam os alunos a adotarem hábitos alimentares equilibrados, que terão impacto ao longo da vida. “Quando a gente é aluno, não conhece as dificuldades que a escola enfrenta para sempre garantir o melhor”, explica Gilda. “Hoje, como merendeira, faço de tudo para melhorar a comida para eles, seja plantando um coentro ou buscando novas ideias de receitas”.
Esses profissionais são fundamentais para o sucesso do PNAE ao promoverem um ambiente onde a alimentação saudável é incentivada e vivenciada de maneira ativa. “ Nós somos os primeiros a ver as mudanças nos alunos, a ver eles aprenderem o que é saudável e o que não é. É gratificante saber que contribuímos para o futuro deles”, afirma Gilda.
Alimentação escolar e o impacto no aprendizado
O trabalho das merendeiras e dos merendeiros é uma das partes fundamentais para o desenvolvimento biopsicossocial e o desempenho escolar dos alunos. Com ações de educação alimentar e nutricional (EAN) e o incentivo à compra de produtos da agricultura familiar, o PNAE transforma a rotina escolar em um espaço de valorização da cultura alimentar local e de promoção da saúde, além de fomentar à agricultura familiar.
“Ver os alunos felizes e bem alimentados é gratificante,” compartilha Gilda. “Eles são o futuro, e saber que meu trabalho contribui para o crescimento deles me dá muito orgulho”.
Neste 30 de outubro, ao comemorar o Dia da Merendeira e do Merendeiro, celebramos o impacto do trabalho de todos esses profissionais que, como Gilda, se dedicam a nutrir, educar e cuidar das próximas gerações.
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