Body by Beth: série com Marisa Orth só tem graça por ela – 31/10/2024 – Luciana Coelho
Marisa Orth é daquelas atrizes que conseguem tirar graça ou drama até da leitura de uma bula de remédio. Pouca gente na comédia brasileira tem um timing mais aguçado que o dela, e isso já seria razão suficiente para assistir “Body by Beth”, sitcom de dez episódios curtos recém-lançada na TNT e na Max em que ela faz a personagem-título.
Nem todo o talento de Marisa nem o elenco de apoio descente, contudo, dão conta de segurar o texto sofrível assinado por Carolina Castro.
A premissa é boa: a comediante é Beth Aguiar, uma estrela da ginástica aeróbica que fez sucesso com vídeos de exercícios nos anos 1980 e vive imersa no sucesso passado enquanto os negócios fitness evoluem e a academia que leva seu nome definha.
Há um quê da deliciosa “Schitt’s Creek”, com a história de uma família que já viveu dias melhores tentando revitalizar um negócio moribundo, e de “Armação Ilimitada”, com seu visual de Rio de Janeiro oitentista no auge da comédia besteirol —esse segundo aspecto é reforçado pela trilha sonora e pelos nomes de episódios que aludem a canções da época.
Como em “Schitt’s Creek”, há certo conforto familiar em um modelo de sitcom que não mira maiores inovações e se ampara em comediantes veteranos, caso de Marisa e de Diogo Vilela, outro egresso de “TV Pirata” (possivelmente o melhor programa de humor que a televisão brasileira já produziu). A presença dos dois em cena é sempre um deleite, e talvez a única justificativa para encarar a série.
O elenco de apoio —Verônica Debom e Victor Lamoglia na pele dos filhos do ex-casal Beth e Ri-Man (o personagem de Vilela, um ex-halterofilista convertido em iogue), Guilherme Weber como o namorado zen de Ri-Man e Ana Hikari interpretando uma influencer fitness/instrutora de academia— também encara bem seus personagens, embora sem livrá-los das amarras caricaturescas imposta pelo texto, façanha que só os dois protagonistas conseguem.
Mas as piadas, normalmente em cima do confronto de gerações e da insistência de Beth em tentar manter seu mundo como era 40 anos antes, soam tão ultrapassadas quanto a academia que a protagonista dirige, sem contudo assumir o charme nostálgico ao qual poderia apelar.
Os demais coadjuvantes são tipos quase grotescos, mal rascunhados no roteiro, e a insistência em fazer do personagem de Weber um contraponto ao de Marisa tropeça em clichês sobre a turma new age e sobre mulheres em posição de comando.
Existe uma certa graça saudosista em tratar como paleolítica a época em que Jane Fonda fazia sucesso com vídeos de fortalecimento de coxa e glúteos, mostrando como os modismos “fitness” são efêmeros.
E há também um esforço claro em se abordar questões mais atuais, como o debate sobre o que é um “corpo saudável”, dos limites para intervir na própria saúde e a discussão sobre o culto à magreza, personificada nas personagens de Marisa e Debom —a filha que a mãe considera gorda demais e que enfrenta obstáculos para ser aceita na indústria da moda.
Poderia ser um caminho a seguir, pela via do humor mesmo, mas as tiradas rápidas da atriz mais experiente frente ao proselitismo vazio da personagem da mais jovem tornam o debate desigual.
Os cinco primeiros episódios de “Body by Beth” estão disponíveis no Max; os cinco demais estreiam dia 25 de novembro
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