Megalópolis é obra imperfeita e hipnotizante de Coppola
Para o bem ou para o mal, portanto, “Megalópolis” é a manifestação do trabalho de um artista completamente sem filtros. Existe sinceridade e otimismo no mundo tecido por Coppola, mesmo que sua visão neste recorte seja por vezes ingênua, até mesmo enfadonha, mesmo que entregue num pacote grandioso.
Talvez falte uma certa leveza em sua realização, uma curiosidade na mistura dos elementos que a mão de um gênio tarde a assimilar.
Por outro lado, estamos falando do realizador de alguns dos filmes mais espetaculares da história, então Coppola sempre terá o benefício da dúvida. “Megalópolis”, afinal, passa a limpo tanto seu próprio legado como a história do cinema americano contemporâneo.
Ele traz o experimentalismo dos anos 1960 e a ousadia da carga politica e social dos anos 1970, os excessos e decadência dos anos 1980 e o embate de estilo sobre substância dos anos 1990 —tudo polido e brilhante com o artificialismo do novo século. Convenhamos, não é pouco ou para qualquer um.
A força das ideias de Coppola fica evidente com o timing da chegada de “Megalópolis” aos cinemas, no momento em que os Estados Unidos, nas palavras do próprio diretor, terão de escolher entre a manutenção da democracia e o abismo da ditadura. Se os paralelos são inevitáveis é porque o mundo teima em não alterar o jogo: ontem e hoje, o panorama da classe abastada preocupada com os próprios bolsos, e não com o povo que lhe coloca no poder, segue imutável.
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