O que economia pode fazer por Kamala e loucura por Trump – 30/10/2024 – Vinicius Torres Freire
A economia americana vai bem. Mas a popularidade de Joe Biden foi mal e Kamala Harris pode perder a eleição por uma ninharia de votos —ou ter mais eleitores do que Donald Trump no país inteiro e perder a eleição por causa de umas dúzias de distritos em meia dúzia de estados.
No entanto, “economia” é uma palavra vaga para pensar o que se passa na vida do eleitorado e nos seus tantos grupos diversos. Além do mais, vivemos em um tempo em que “economia”, em qualquer sentido ou aspecto, pode fazer pouco efeito relevante. Para usar outra frase lunática de Trump como metáfora: “Poderia parar no meio da Quinta Avenida [Nova York], atirar em alguém e ainda assim eu não perderia votos”, disse o candidato republicano em 2016.
A revista britânica The Economist está animada com Kamala e com a economia. “A gloriosa economia americana deve ajudar Kamala Harris. Eleitores começam a notar as boas notícias bem a tempo da eleição”, era o título de um texto da publicação, no domingo (27). O modelo estatístico da Economist, que agrega pesquisas diversas, indicaria que a candidata democrata subiu para algum lugar mais perto da vitória, escreveram, nesta quarta (30).
A economia dos Estados Unidos tem crescido bem mais do que a de seus pares ocidentais ricos. De 2019 (inclusive) até o final desde 2024, a renda (PIB) per capita americana terá aumentado 12%. O ritmo de aumento dos salários, porém, é menos brilhante e menor do que nos anos melhores dos também democratas Bill Clinton e Barack Obama.
O salário médio do pessoal empregado (na produção e que não estão em cargos de supervisão) aumentou 4,4% de setembro de 2019 a setembro de 2024, em termos reais (além da inflação, aqui calculada pelo CPI). Não é lá ruim. É o mesmo ritmo anual do período entre 2006 e 2019. Mas é a metade do crescimento registrado de 2012 a 2019.
Salário médio também não é indicador lá preciso —seria necessário considerar ainda impostos, transferências e outros benefícios sociais em forma de renda direta ou indireta. É preciso levar em conta a distribuição, social, regional etc.
Segundo nota de Abigail Wozniak e colegas, do Fed de Minneapolis, o aumento de renda mais rápido dos 50% mais pobres, na saída da pandemia, passou. Voltou o padrão dos anos imediatamente anteriores. Os ganhos salariais para mais ricos ou mais pobres ficaram parecidos, “em contraste com períodos como o final dos anos 1990 e 2010, quando pessoas de salários mais baixos tiveram ganhos relativos”, escrevem Wozniak e colegas.
Enfim, houve o grande trauma inflacionário pós-Covid. O salário médio passou a crescer em termos anuais e reais apenas a partir de junho de 2023 (o mediano, um pouco antes). Uma inflação inédita em 40 anos, desconhecida da maioria da população, comeu a renda. Foi um choque, uma facada de cicatriz ainda aberta.
Sim, o desemprego é o mais baixo em meio século. A proporção das pessoas empregadas e da “prime age” (25-54 anos) é das mais altas de que se tem notícia, segundo Bobby Kogan e Brendan Duke, do Center for American Progress. Mesmo com a alta de juros, não houve recessão ou nada perto disso.
Mas o índice de confiança econômica do Gallup está em um dos menores níveis desde 1996. Apenas não é pior do que na Covid e em 2008-09, da Grande Recessão e da catástrofe econômica, social e política causada pela finança.
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