Pai de Marielle: “A pergunta é: quando serão condenados os mandantes?”
Seis anos e 7 meses após a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, as famílias devastadas pelo bruto assassinato conseguiram soltar o grito de indignação, saudade e do início de justiça. O tribunal do júri condenou, nesta quinta-feira (31/10), os assassinos confessos da vereadora e do motorista dela.
Ronnie Lessa foi condenado a 78 anos e 9 meses de prisão, além de 30 dias/multa. Élcio Queiroz a 59 anos e 8 meses de detenção, além de 10 dias/multa.
Após o julgamento, encerrado por volta das 18h30, no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, o pai de Marielle, Antônio Francisco, falou de justiça e pediu o prosseguimento das investigações e julgamento dos possíveis mandantes do crime contra a filha.
“Hoje tivemos uma resposta com a condenação dos réus confessos. Para nós, era de suma importância a condenação deles. Se a Justiça não tivesse condenado esses assassinos cruéis, não teríamos um minuto de sossego. Agora a pergunta que vamos fazer é: quando serão condenados os mandantes?”, afirmou o pai da vereadora.
Tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) ação penal contra os suspeitos de serem os mandantes dos assassinatos, ocorridos em 2018.
Os réus são: o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro Domingos Inácio Brazão; o irmão dele, deputado federal João Francisco Inácio Brazão, conhecido como Chiquinho Brazão; o delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior; o policial militar Ronald Paulo de Alves Pereira e Robson Calixto Fonseca.
Eles são réus por homicídio qualificado e por tentativa de homicídio no caso de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que estava no carro no momento do ataque.
Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, responde somente por organização criminosa. Todos foram tornados réus pela Primeira Turma do STF sob a suspeita de planejar o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018.
Recado
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) havia pedido condenação máxima de 84 anos para Lessa e Élcio. Nesta quinta, houve a manifestação da defesa e da acusação. Cada um teve tempo para argumentação, réplica e tréplica. A etapa dos debates entre defesa e acusação foi encerrada por volta das 16h50.
A juíza Lucia Glioche, que preside o 4º Tribunal do Juri, enviou um recado a outras pessoas que cometem crimes no Rio. “A sentença que será dada agora não responde à pergunta: quem matou Marielle? Todavia, a sentença que será dada agora se dirige aos acusados aqui presentes. Se dirige aos vários Ronnies e vários Élcios que existem na cidade do Rio de Janeiro”, afirmou a magistrada ao ler a sentença.
Todos os depoimentos foram realizados na quarta. Após as testemunhas de defesa, Lessa e Élcio falaram separadamente. Os jurados passaram a noite no 4º Tribunal do Júri para garantir que não tivessem contato com terceiros, e assim sofressem influência para a decisão.
Debates
Os debates foram realizados nesta quinta. O promotor Fábio Vieira classificou Lessa e Élcio como “sociopatas”. “Confessaram porque estão arrependidos? Não. Confessaram, porque vão ganhar um benefício de alguma forma. Então, isso é uma característica do sociopata, eles não têm emoção em relação ao outro, eles não têm sentimento, não têm empatia”, destacou.
Ainda na exposição, Vieira lembrou que os assassinos confessos foram treinados com recursos públicos para o manuseio de armamento. “Pessoas que aprenderam sua perícia na condução e nos disparos de armas de fogo nas fileiras das próprias agências de segurança, [pessoas] que ceifaram a vida de Marielle e Anderson e miraram na cabeça de Fernanda”, afirmou o promotor Fábio Vieira.
Defesa
A defesa dos réus começou falar às 12h33. O advogado de Lessa, Saulo Carvalho, afirmou acatar a condenação do réu confesso, mas que ela fosse feita “de forma justa”.
“Ronnie foi denunciado pela prática do homicídio contra a vereadora Marielle Franco por motivo torpe, e eu ouso discordar da acusação, porque não há nos autos a atuação de Ronnie Lessa, pesquisas de Ronnie Lessa contra a vereadora Marielle Franco em seu sentido político”, disse Carvalho.
A advogada Ana Paula, que defende Élcio, argumentou que ele teria apenas dirigido o carro, o que, para ela, imputaria menor participação no crime, e que o mesmo não sabia que o motorista da vereadora também seria morto. “Élcio, ao dirigir o veículo, acreditava que Ronnie mataria somente Marielle”, argumentou.
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