EUA: Desindustrialização é desafio no oeste da Pensilvânia – 31/10/2024 – Mundo

No coração do chamado Cinturão da Ferrugem, a cidade de McKeesport chegou a ser uma das maiores produtoras de tubos de aço do mundo e empregar 10 mil pessoas na indústria. Hoje, no local onde estava a siderúrgica US Steel, funciona a empresa de cultivo de maconha medicinal Trulieve Cannabis, umas das maiores (e poucas) empregadoras da cidade.

O centro desta cidade no oeste da Pensilvânia é o retrato dos efeitos da desindustrialização que varreu essa região a partir dos anos 1980. “Aqui era uma loja de sapatos; ali, uma farmácia; neste prédio aqui, tinha uma loja de departamentos grande”, diz um morador, apontando para prédios atualmente vazios, a não ser por uma lojinha de smoothies e uma banca de tatuagem.

A cidade chegou a instalar uma máquina de vender de naloxona, substância usada para reverter overdoses de opiáceos –sinal da epidemia de fentanil e heroína que ainda grassa na região.

Com a decadência industrial na região, a população da cidade encolheu 53% desde a década de 1980. Das pessoas que vivem lá hoje, 32,9% estão abaixo da linha de pobreza.

McKeesport e outras cidades do oeste da Pensilvânia indicam o desafio dos democratas neste estado-pêndulo essencial para vencer a eleição. Elas fazem parte do chamado Cinturão da Ferrugem, região americana onde se concentravam siderúrgicas e outras indústrias que fecharam por causa da concorrência asiática e deixaram um rastro de desemprego e pobreza.

A falta de perspectivas é um dos motivos por trás da migração de vários eleitores do Partido Democrata para o Partido Republicano nessas regiões apelidadas de “deixadas para trás”.

Em 2016, o republicano Donald Trump venceu na Pensilvânia por 44 mil votos –a primeira vez que um republicano venceu no estado desde 1988. Em 2020, Joe Biden levou o estado com uma vantagem de 80 mil. Agora, as pesquisas mostram empate entre a democrata Kamala Harris e Trump.

Chris Briem, economista regional na Universidade de Pittsburgh, relata que a região foi o maior centro industrial do mundo durante 50 anos. “Mas o futuro pós-industrial dessas cidades ainda é um desafio”, diz.

Enquanto Pittsburgh voltou a ser próspera com grandes investimentos em educação, serviços médicos e financeiros, e o leste e o centro da Pensilvânia encontraram novos caminhos, o sudoeste continua na pobreza. “A discrepância entre as regiões que superaram a desindustrialização e as que são ‘deixadas para trás’ explica, em parte, porque locais antes solidamente democratas estão se tornando republicanos”, diz Briem.

“Muitos passaram a votar nos republicanos como um rechaço ao governo, que não os ajudou quando precisavam”, diz Jason Togyer, diretor do Tube City Almanac, publicação de McKeesport.

Investimentos em tecnologia verde e transição energética, com incentivos fiscais da lei de redução da inflação (IRA, na sigla em inglês), criado por Biden, eram a esperança de um novo motor de desenvolvimento para a região –e de trazer de volta votos aos democratas. O pacote prevê US$ 1,2 trilhão ao longo de uma década para turbinas de usinas de energia eólica, baterias, painéis solares e carros elétricos.

Em Turtle Creek, o grande projeto veio da empresa EOS, que montou uma fábrica de baterias com investimento estimado em US$ 500 milhões e geração de 300 empregos.

A Folha esteve na fábrica nesta semana e viu a linha de produção, altamente automatizada. A direção da empresa não quis se pronunciar.

Para Briem, é cedo para avaliar o impacto desses investimentos, que são de longo prazo.

Segundo Stephanie Eson, gerente de operações do centro de Serviços Humanos de Mon Valley, a população da região não tem as habilidades exigidas nos empregos que têm surgido. “Para que sejam treinadas, elas precisam deixar de trabalhar, pagar alguém para cuidar de seus filhos, arrumar uma carona até Pittsburgh, tudo isso é difícil”.

Enquanto isso, a US Steel anunciou que terá de fechar algumas plantas se não puder concretizar o acordo de venda de suas usinas para a Nippon Steel, algo que sofre oposição de Kamala, de Trump e do sindicato.

Falta entusiasmo entre os eleitores da região, aponta Matthew Gergely, deputado estadual do partido Democrata. “A economia é a principal preocupação, além de estradas melhores e mais transporte público”.

Na segunda-feira (28), a consultora em saúde mental Marion Hart reclamava da inflação enquanto recebia implantes capilares em um salão. “A broa de milho, que custava 59 centavos, agora está US$ 1,79!”, disse ela, que vai votar em Kamala e diz que a inflação não é culpa dela.

Muitos não acham que a eleição presidencial vá afetar a situação nessas cidades “deixadas para trás”.

“Para a gente, não faz a muita diferença quem ganha a presidência”, diz Jonathan Stark, 42, que é dono de uma loja de armas e comprou dois prédios vazios no centro de McKeesport para reformá-los. “Nem o programa [de incentivo a investimento] de Trump, nem o de Biden [IRA] tiveram impacto.”

Para outros, é hora de mudar.

Rashid Malik disse que vai ter que fechar a loja de conveniência que abriu no ano passado no centro de McKeesport —não há movimento. Ele trabalhou dez anos como engenheiro de testes de software e perdeu o emprego quando sua função foi terceirizada para a Índia. “Durante o governo democrata terceirizaram empregos e a economia piorou”, diz ele, que está mandado currículos para voltar ao setor, sem sucesso. “Sempre votei em democratas, mas estou pensando em votar em Trump desta vez”.



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