Marília Mendonça: sertanejo falha em preservar seu legado – 01/11/2024 – Gustavo Alonso
No próximo dia 5 completará três anos da trágica morte da cantora Marília Mendonça. Todos se lembram com saudades da sertaneja e ainda lamentam sua despedida repentina. No entanto, esse imenso capital simbólico é incapaz de se traduzir na preservação institucional de sua memória.
Antes de morrer, Marília não era apenas o maior nome do feminejo, subgênero que ajudou a difundir, mas de toda a música sertaneja. Depois da morte, Marília virou um mito. Ainda mais do que em vida, Marília Mendonça foi abraçada por diversas tendências, das feministas aos cantores do piseiro, dos sertanejos a nomes da música internacional.
No último dia 26 ela foi homenageada em pleno show de Bruno Mars em Brasília. Imagens e áudio da cantora apareceram no telão e a música “Infiel” foi tocada ao vivo pelo tecladista de Bruno Mars e entoada pela multidão.
Sabemos cultuar nossos ídolos, mas essa memória quase sempre é celebrada em performances que se esvaem ao sabor de uma noite. Ou, no máximo, num desfile de carnaval. O Brasil é um país com muita dificuldade de institucionalizar a memória. Não somos lá muito fãs de museus. Em geral, os marcos celebratórios são vistos como algo distante da população.
Não é um drama exclusivo de artistas sertanejos. Nunca tivemos um museu à altura da bossa nova, por exemplo. Afinal, onde estão o piano de Tom Jobim e o violão de João Gilberto? Como patrimônios culturais brasileiros, deveriam estar expostos a todos nós.
No caso da música sertaneja essa ausência de preocupação com a memória é ainda mais gritante! Com público massivo e sucesso nacional, espanta que os capitalistas do sertão ainda não tenham aprendido a lucrar com a memória coletiva.
Goiânia, por exemplo, que se auto intitula a capital sertaneja do Brasil, não tem um museu digno do gênero que exporta para os quatro cantos do país. É curioso que a música sertaneja se espelhe esteticamente tanto nos americanos, mas quando se trata da preservação da memória, nem tenta fazer algo que chegue perto.
A capital da country music dos EUA, Nashville, no Estado do Tennessee, tem o impressionante Country Music Hall of Fame, um museu moderno e interativo de fazer inveja a qualquer museólogo, historiador ou cidadão comum.
Alguns dirão: fãs sertanejos não vão a museus, mas a bares. Ok, pode até ser. Mas por que não há no Brasil algo do tipo Hard Rock Café? A cadeia norte-americana de restaurantes temáticos une fast food e museu, com memorabilia pendurada nas paredes e material histórico do rock enquadrado para os fãs do gênero.
Enquanto isso, os sertanejos brasileiros, em vez de imitarem os bons exemplos de fora, preferem gastar dinheiro investindo nas bets da vida. Há vários escândalos envolvendo grandes nomes da música sertaneja e as casas de aposta.
A furtividade das apostas vale mais para os sertanejos do que a preservação histórica de seu próprio legado. Diante disso, uma gigante como Marília Mendonça segue sem um museu para chamar de seu. Uma pena.
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