Prêmios não importam? Ou só se a gente não ganhar? – 01/11/2024 – Marina Izidro
Foi impressionante a diferença de reações no Brasil e aqui na Europa, quase que opostas, sobre o prêmio de melhor do mundo da revista France Football ter ido para Rodri, e não para Vinicius Junior.
O talento de Rodri é indiscutível e isso foi unanimidade, dos dois lados. Mas, por aqui, vi uma percepção fria sobre o resultado. Em geral, a imprensa esportiva europeia acha que Rodri ou Vini poderiam ganhar, que o brasileiro era o favorito, mas que, como o espanhol é excelente jogador e conquistou Eurocopa, Premier League e Mundial de Clubes, mereceu e ponto.
Não concordo inteiramente com essa abordagem, pois deixou a discussão aqui rasa. Mas ela não surpreende. Acho pertinente considerar que a decisão pode ter sido, sim, afetada pelo fato de Vinicius incomodar o sistema ao se manifestar contra o crime de racismo que sofre.
Sobre o argumento de que finalmente se escolheu um meio-campista: se na maioria esmagadora das vezes a Bola de Ouro vai para um atacante, acho válido questionar por que justamente agora um meio-campista?
Outro ponto em que discordo da reação europeia foi considerarem extrema falta de espírito esportivo o Real Madrid ter boicotado a premiação. Ora, Cristiano Ronaldo não compareceu várias vezes quando soube que Messi levaria e não foi massacrado por isso. Mesmo estando claro que foi uma decisão do clube, li um tuíte de um renomado jornalista espanhol dizendo que Vini deveria ter “demonstrado respeito ao vencedor”.
E ainda há a parte política a se considerar, já que Real Madrid e Uefa não se bicam por causa da proposta de uma Superliga europeia… Mas, não, a culpa é do Vinicius. Típico.
Olhando para reações no Brasil, não acho maduro apenas falar mal da France Football e dizer que ela não presta. É como quando terminam um namoro com a gente e, para tentarmos nos convencer de que foi melhor assim, dizemos: “Ah, mas não me merecia mesmo”, “nem era tão bonito”, “não era legal”. Fica mais fácil desqualificar algo que tenha muita importância para conseguir perdê-lo.
É normal ficar frustrado ou chateado, ainda mais quando quase todo mundo te considerava favorito. Todos nós, em nossa trajetória profissional, somos movidos por reconhecimentos. Pode ser um aumento de salário, quando te escolhem para um projeto importante, um elogio do chefe. Para atletas, são vitórias, recordes, títulos, prêmios individuais, em equipe, uma honraria como a Bola de Ouro.
Só que, entre os critérios de votação, estão conquistas individuais e coletivas. O que vale mais, o que Vini ou Rodri fizeram e ganharam na temporada? Isso é passível de interpretação. Outro critério inclui ter “classe e fairplay”. O argentino Emiliano Martinez, eleito melhor goleiro pelo segundo ano seguido, coloca troféus em cima do próprio pênis e já deu uma pancada na câmera de um repórter cinematográfico, do nada, depois de uma partida.
Sendo assim, estaríamos dando importância exagerada a essas premiações? Provavelmente sim.
Isso não tira a frustração e a reflexão: se Vini não ganhou agora, o que mais precisa conquistar? Se tivesse “agradado” o mundo do futebol teria sido diferente? Sobre o resultado, ele se manifestou com um tuíte curto: “Eu farei 10x se for preciso. Eles não estão preparados”. Talvez não estejam mesmo.
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