Céu de brigadeiro para as aéreas, turbulências para os passageiros – 05/11/2024 – Maria Inês Dolci

As companhias aéreas podem comemorar céu de brigadeiro nos últimos meses, mas os passageiros continuam ao sabor das turbulências. Uma amiga testemunhou um exemplo disso. O passageiro não queria despachar a bagagem de mão. Obviamente, para não ter de esperar junto à esteira em que são retiradas as malas. Como ele não havia pagado o assento, foi obrigado a sair da fila e soube que seria o último a entrar no avião. Esse abuso acontece em quase todos os voos.

Para as companhias aéreas, passageiro é quem, além de adquirir um bilhete aéreo caro, também paga pelo assento e para despachar suas malas. Caso contrário, será um cliente de segunda categoria.

A alegação, sempre, é que o avião está lotado. Ou que há questões de segurança. Não há, contudo, qualquer transparência nesse processo. Como o voo pode estar tão lotado que não haja lugar nos compartimentos superiores nem sob o assento?

Essa situação poderia melhorar muito se houvesse, como em outros países, uma espécie de Custo Efetivo Total das passagens aéreas, inclusive em sua propaganda. Não é aceitável que muitos dos custos para o passageiro somente sejam apresentados, no site ou no aplicativo, na hora da compra.

Para quem já foi cliente da Varig, no Brasil, é chocante como decaíram o serviço e o conforto das viagens. O argumento para cobrar pelas bagagens despachadas, pela marcação do assento, pela comida e bebida, era baratear as passagens. Mas elas continuam caras, e os serviços se foram.

Durante a pandemia de coronavírus, realmente as empresas tiveram de fazer malabarismo para continuar no mercado, pois o distanciamento social esvaziou os aviões. Mas a aviação comercial brasileira teve seu melhor mês de setembro este ano, com quase 10 milhões de passageiros.

Conforme a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), é provável que 2024 bata o recorde de movimentação de passageiros, com 145 milhões, três milhões a mais do que em 2019, até então o melhor ano da série. Para isso, bastará que repita, em outubro, novembro e dezembro, os números de passageiros registrados nesses meses em 2023. E segundo a Iata (Associação Internacional de Transportes Aéreos), o Brasil já é o quarto maior mercado de voos domésticos do mundo.

É muito bom que isso aconteça. Também é muito positivo que o governo federal esteja dialogando com governos e empresas para ampliar a oferta de voos para o Brasil.

Ainda há, contudo, grandes gargalos. Um deles, já citado neste texto, é uma espécie de divisão de passageiros em A e B. Como A compra mais serviços, recebe tratamento bem melhor, enquanto B é convidado a ficar no final da fila.

Além disso, um país de dimensões continentais como o Brasil ainda carece de voos regionais com preços acessíveis.

As companhias low cost (de baixo custo) que operam no Brasil fazem percursos internacionais, a preços competitivos e sem qualquer serviço. Ainda aguardamos as low cost para os voos domésticos. Quem sabe um dia teremos essa opção?


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