Vitória de Trump acende alerta para esquerda e fortalece palanques bolsonaristas no Brasil
A vitória de Donald Trump sobre Kamala Harris nas eleições presidenciais dos Estados Unidos deve impactar a disputa pelo Palácio do Planalto e a construção dos palanques estaduais em 2026. Desde 2016, quando o ex-presidente americano chegou pela primeira vez ao poder, há uma inusitada simbiose entre as eleições dos dois países.
Em sua primeira vitória, Donald Trump era o empresário que criticava o sistema político tradicional e venceu a democrata Hillary Clinton usando as redes sociais para chegar ao eleitor desencantado. A fórmula trumpista foi decalcada no Brasil na candidatura de Jair Bolsonaro, pelo nanico PSL, que conseguiu derrotar a polarização política de PT e PSDB, representados naquela disputa pelo petista Fernando Haddad e por Geraldo Alckmin.
Em 2020, Trump perdeu a reeleição contra o democrata Joe Biden, que venceu no colégio eleitoral e no voto popular. O resultado acirrado foi contestado por denúncias não comprovadas de fraude disseminadas por redes sociais. O episódio teve como ápice a invasão do Capitólio, quando eleitores inconformados com a derrota de Trump tentaram impedir a homologação da vitória de Biden.
Eu poderia praticamente reproduzir o parágrafo acima para falar sobre o que aconteceu nas eleições presidenciais brasileiras de 2022, quando Lula (PT) venceu Jair Bolsonaro (PL) por margem mínima de votos, em meio a questionamentos sobre o sistema eleitoral e que culminaram nas depredações em Brasília em 8 de janeiro de 2023.
Vitória de Trump acende alertas à esquerda brasileira
A vitória de Trump nos Estados Unidos enche de esperanças os bolsonaristas, chama a atenção dos partidos tradicionais e acende alertas à esquerda brasileira. Os antecedentes mostram que não se pode ignorar o que tem acontecido nas eleições americanas.
Trump venceu ao combinar seu já característico discurso conservador e anti-imigração com críticas diretas à condução da economia no governo de Joe Biden. Algo que basta olhar as redes sociais de Bolsonaro e de seus aliados para perceber que está em prática. Assim como Biden, Lula tem perdido a batalha da comunicação mesmo com o governo nas mãos. É o desafio dele e da esquerda como um todo aprender a jogar esse jogo.
Nos Estados Unidos, a estratégia trumpista resultou em uma vitória histórica dos Republicanos, não apenas vencendo a eleição presidencial, mas também maioria na Câmara dos Deputados e no Senado.
Ao ser transplantado para o Brasil, o cenário precisa de ajustes às condições locais. Lula e Bolsonaro podem polarizar os votos da disputa presidencial, mas não dominam as eleições legislativas com o mesmo apelo. O PT e o PL convivem com legendas de centro e direta que orbitam o poder através das bancadas que elegem no Congresso.
Hoje, Bolsonaro está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que considerou abuso de poder político a campanha sistemática que o ex-presidente fez contra o sistema eleitoral, que envolveu uma reunião com embaixadores de diversos países com críticas às urnas eletrônicas.
Bolsonaro garante que continua pré-candidato à presidência, não quer abrir debate sobre alternativas. Aposta em um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) e em mobilização popular. O interessante será observar como os partidos do Centrão vão se engajar nessa luta para tornar o pouco controlável ex-presidente elegível.
Palanques estaduais
Sem Bolsonaro no jogo, a direita tende a se dividir entre mais de uma candidatura. No PL, Valdemar da Costa Neto já disse que se o ex-presidente não concorrer, indicará o nome do candidato. Outros partidos têm governadores prontos para entrar no páreo: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-PR), Ratinho Junior (PSD) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO).
O número de candidatos viáveis na centro-direita vai definir os palanques estaduais, especialmente em Santa Catarina, pelo perfil conservador da maioria do eleitorado. O governador Jorginho Mello (PL) está de olho nesses movimentos e por isso tenta fortalecer a participação do MDB e do PP em seu governo. Não quer ser pego desprevenido por um desencaixe da eleição nacional. Estar no lugar certo na hora certa – o 22 em 2022 – foi fundamental para conquistar o governo do Estado.
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