Como polícia descobriu que PMs faziam escolta de delator do PCC
São Paulo — A Corregedoria da Polícia Militar descobriu que quatro PMs faziam escolta para Antônio Vinícius Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), semanas antes de ele ser morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos na última sexta-feira (8/11). A descoberta deu origem a um inquérito policial militar, em outubro, envolvendo outros agentes que também estariam atuando para o crime organizado.
Gritzbach, réu por homicídio e acusado de lavar dinheiro para a organização criminosa, era jurado de morte pelo PCC. Em seu acordo de delação, o empresário prometia entregar planilhas de pagamento, contratos e conversas de WhatsApp sobre seus negócios com a facção. Ele pedia ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) mais proteção: “Vocês estão falando com um morto-vivo”.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse que a suspeitas sobre a atuação dos PMs foram descobertas a partir de uma audiência de instrução no tribunal do júri, no processo ao qual Gritzbach responde pelo homicídio de Anselmo Becheli Santa Fausta, vulgo “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, vulgo “Sem Sangue”.
Segundo o secretário, o empresário chegou ao Fórum da Barra Funda acompanhado de uma equipe de seguranças que despertou suspeitas em um assessor judiciário.
“Quando esse réu por duplo homicídio foi ser ouvido na audiência de instrução do tribunal do júri da Barra Funda, um PM que fazia escolta dos réus nas audiências achou estranho a postura dos seguranças dele [Gritzbach], parecia de policiais. Ele então registrou fotograficamente e fez uma denúncia na Corregedoria”, afirmou o secretário da segurança, em entrevista coletiva nessa segunda (11/11).
“Os PMs terão que explicar o que faziam, porque o simples fato de realizar um serviço extra corporação já configura uma contravenção disciplinar, que não é permitida. Além disso, estavam fazendo isso para um indivíduo criminoso”, disse o secretário.
Os quatros policiais militares foram afastados e são investigados por suspeita de envolvimento no homicídio. Eles tiveram os celulares apreendidos.
Corregedoria da Polícia Civil
Guilherme Derrite afirmou que, em paralelo à investigação na Corregedoria da PM, corria uma investigação na Corregedoria da Polícia Civil. O procedimento, também instaurado em outubro, teria tido como ponto de partida trechos da delação de Gritzbach compartilhados com a corporação pelo MPSP.
Entre os trechos, citações a delegados de diferentes delegacias da capital que teriam de alguma maneira atuado em extorsões.
“A primeira atitude da Corregedoria da Polícia Civil foi ouvir o Vinícius para que ele pudesse apontar ali os nomes e quais práticas delituosas e quais desvios de conduta esses policiais civis teriam cometido”, disse Derrite — que não soube informar se os policiais civis mencionados já teriam sido afastados.
Execução
Antônio Vinícius Gritzbach, de 38 anos, foi morto com tiros de fuzil após desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na última sexta-feira (8/11). Homens encapuzados desembarcaram de um carro na área de embarque e desembarque e começaram a atirar. Além do empresário, também morreu o motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais.
Quatro policiais militares eram responsáveis pela segurança de Gritzbach no momento do ataque. Todos estão afastados e são investigados pelo crime. Eles serão ouvidos novamente nesta segunda-feira (11/11).
Nos primeiros depoimentos prestados, eles disseram que, momentos antes do ataque ao empresário, pararam em um posto de combustíveis para lanchar, enquanto aguardavam a chegada do empresário, que voltava de uma viagem a Maceió.
Segundo eles, quando decidiram ir em direção ao aeroporto, uma das caminhonetes em que estavam não funcionou. Apenas um dos PMs teria ido até o local.
Morte de chefão do PCC
Gritzbach fechou acordo de delação premiada com o MPSP, homologado pela Justiça neste ano.
Em seu relato, ele fala sobre lavagem de dinheiro para personagens como Anselmo Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Claudio Marcos de Almeida, o Django. Eles foram sócios da empresa de ônibus UpBus, que opera linhas na zona leste da capital e está sob intervenção da prefeitura paulistana após ter sido alvo de uma operação por suposta ligação com o PCC.
Executado em dezembro de 2021, Cara Preta era membro do alto escalão do PCC e, sobre ele, recaía a suspeita de manter movimentações de até R$ 200 milhões. Investigadores atribuem a morte dele a Gritzbach, em razão de um desentendimento entre os dois. Segundo o MPSP, o empresário teria mandado matar o traficante após ser cobrado por uma dívida em um investimento em bitcoins.
Quando foi preso e antes de fazer delação premiada, em 2022, Gritzbach afirmou ter conhecido Django e Cara Preta como bicheiros e agentes de atletas de futebol. Ele negou ser o mandante do crime.
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