Ilona Szabó Carvalho: O extremismo precisa ser superado – 12/11/2024 – Ilona Szabó de Carvalho

Uma semana após a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, a ameaça contra a democracia e o planeta que suas propostas representam já paira sobre Baku, no Azerbaijão, onde começou na segunda-feira a COP29, a Conferência do Clima da ONU, e sobre o Rio de Janeiro, onde os chefes de Estado do G20 se encontram na próxima semana.

O impacto global da decisão —irrefutável— do povo americano, que elegeu Trump, torna também global a tarefa de redobrar o compromisso contra o fortalecimento de lideranças extremistas que negam a ciência, os direitos e os bens públicos.

O Brasil ganha, assim, responsabilidade ainda maior em sua ambição de liderar a defesa do multilateralismo eficaz, e mostrar o caminho para uma transição ecológica justa. A presidência do G20, que o país encerra no fim do mês, nos trouxe protagonismo na negociação do financiamento das nações mais pobres pelas mais ricas para o desenvolvimento econômico verde e inclusivo.

Esse é um dos temas que a agenda trumpista rejeita. Espera-se que uma das primeiras medidas do novo governo americano seja romper novamente com o Acordo de Paris, que indicou o limite de 1,5°C para o aumento do aquecimento global. O discurso de explorar até a última gota de petróleo ajudou a eleger Trump e seu negacionismo climático.

A COP16, a Conferência da Biodiversidade, realizada há pouco menos de um mês em Cali, na Colômbia, terminou com impasses no financiamento da proteção e conservação da biodiversidade. E, sem financiamento, não haverá implementação.

A bem da verdade, o esvaziamento da COP em Baku, na qual essa arquitetura financeira também é o principal item da pauta, não fica na conta de Trump. A despeito de avanços sobre mecanismos do mercado de carbono global anunciado no primeiro dia da conferência, a ausência de importantes líderes globais pode resultar em um desfecho morno na conferência que precede a nossa COP de Belém, em 2025.

O governo brasileiro antecipou, na sexta passada, a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês), a meta para contribuir na redução do aquecimento global, cumprindo o acordo entre os países anfitriões deste triênio de COPs (Emirados Árabes, Azerbaijão e Brasil).

Mas o estabelecimento de uma banda para a meta, como nos modelos inflacionários, a falta de informações sobre o desmatamento zero e a lacuna sobre a transição dos combustíveis fósseis deixaram à mostra embates internos que deixam vulnerável a posição brasileira em momento tão decisivo para o mundo.

E decisivo para nós. Já em janeiro o Brasil assume a presidência dos Brics, e em novembro sedia a COP30. Em 2026, temos o horizonte de uma eleição presidencial que não pode ser mais a representação do voto de protesto e de ressentimento, mas de escolha informada sobre o que há de melhor na defesa do interesse público. Por isso, nossa margem de erro tem de ser mínima.

Para quem defende um mundo mais justo e sustentável, é tempo de sacudir a poeira e unir forças para dar a volta por cima.

É hora de alinhamento interno e de alianças entre os países do Sul e Norte Global que defendem a democracia, direitos humanos, financiamento e entrega de bens públicos. O Brasil tem a oportunidade de exercer, de fato, uma liderança à altura do papel do país nesta era em que o negacionismo e o extremismo precisam ser superados.


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