Uma idiota e um lunático – 12/11/2024 – Deirdre Nansen McCloskey
Foi dito sabiamente, pouco antes da eleição em que Donald Trump derrotou Kamala Harris, que a escolha era entre uma idiota e um lunático. Escolheram novamente o lunático. Deus nos ajude.
Harris não é uma idiota, não totalmente. É uma advogada inteligente. Mas, como advogada, acredita que todo problema social precisa de uma nova lei, um novo subsídio, uma nova coerção. Ela não é sensata sobre economia, quer dizer, a ordem espontânea dos mercados.
Ela queria, por exemplo, que o Estado impedisse o “aumento abusivo de preços”, também chamado de “o modo como um sistema de preços deve funcionar para alocar uma oferta repentinamente muito escassa e aumentar a oferta no futuro”. “Aumento abusivo” é conversa de advogado. Eu tinha um amigo economista que foi economista-chefe da comissão que regula o mercado de ações nos EUA. Ele me disse que passava o dia todo tentando fazer os advogados entenderem economia. Não adiantava.
Então os EUA, assim como o Brasil, fizeram uma má escolha. O colunista George Will observa que a escolha de 2024 foi a pior da história dos EUA. Minha teoria sobre o motivo disso é que temos um sistema “primário” para escolher candidatos. Desde os anos 1970, uma prévia —na qual só votam os entusiastas malucos do partido— define quem enfrentará o adversário na eleição geral.
Parece bem democrático para um advogado e é por isso que foi adotada. Mas o resultado foi que neste 2024, o pior caso, os lunáticos venceram e apresentaram um candidato maluco. (É verdade que Harris, que não é uma lunática, mas sim uma política democrata normal, foi promovida sem passar por uma primária.)
Antes da década de 1970, os candidatos eram escolhidos por políticos profissionais reunidos em salas cheias de fumaça. Esses políticos queriam vencer a eleição geral e, portanto, escolhiam candidatos que atraíssem o centro, onde as eleições são ganhas ou perdidas. Era melhor.
Mas a democracia é assim mesmo. Segundo Churchill, o pior sistema… exceto por todos os outros que experimentamos de tempos em tempos. Cito muitas vezes o grande jornalista norte-americano de um século atrás Henry L. Mencken, que era descrente da democracia. “À medida que a democracia é aperfeiçoada, o cargo de presidente representa, cada vez mais de perto, a alma interior da população. Em algum grande e glorioso dia, as pessoas simples da Terra alcançarão finalmente o desejo do seu coração, e a Casa Branca será ocupada por um maluco absoluto e um imbecil narcisista completo.” Pode-se duvidar de que Trump seja isso e de que o dia glorioso chegou?
E, para começar, ele é um autoritário, o que Mencken, escrevendo em 1920, antes de Mussolini, Stálin e Hitler, talvez não tenha percebido que é outra consequência da democracia quando os valores liberais não a infundem. Surpreendentemente, muitos “libertários” nos EUA apoiam Trump. São meus amigos, e têm tanto medo do socialismo rastejante que votam no fascismo galopante. Eles ignoram a história da Europa na década de 1920 e a história da América Latina sempre.
Esquecer a história nos condena a repeti-la.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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