Único técnico negro na Séria A, Roger reflete sobre racismo no futebol: "Minha cor me denuncia"


Técnico do Inter foi questionado sobre o assunto com a proximidade do Dia da Consciência Negra Não é de hoje que Roger Machado se tornou uma das principais vozes do futebol brasileiro na luta antirracista. Único técnico negro no comando de um clube da Série A do Campeonato Brasileiro, o treinador do Inter voltou a fazer uma reflexão sobre racismo no futebol e na sociedade após a vitória sobre o Fluminense, no Beira-Rio, na semana passada.
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“Futebol cristaliza o que somos como sociedade”, diz Roger sobre racismo
O assunto veio à tona pela proximidade do Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. Roger avalia que o tema deveria ser discutido com mais frequência e não apenas às vésperas da data. O treinador disse que enxerga alguns avanços, mas ainda pequenos, e o que futebol reflete o que somos como sociedade.
– É um tema muito importante, uma data importante, a Consciência Negra. Não deveria ser abordado somente neste mês. Penso que tivemos evoluções, o país começou a olhar para essa questão. Porém, vejo que os avanços ainda são pequenos – afirmou o técnico.
– Para mim, o futebol amplifica, cristaliza e aponta o que somos como sociedade. Se a gente imaginar o futebol como uma pirâmide social, na base está o campo. Sejamos pretos ou brancos, quem olha de cima da pirâmide enxerga todos pretos. Ou somos pretos pela cor da pele, ou pela mesma origem social, em sua maioria esmagadora – complementou.
Roger acredita que o racismo no futebol fica mais visível quando a carreira do jogador acaba. Para o técnico, isso ajuda a explicar o fato de poucos negros ocuparem um lugar de destaque como treinadores ou mesmo dirigentes dos grandes clubes do país.
– O racismo para mim se cristaliza quando o campo acaba e a gente consegue perceber indivíduos de diferentes cores ascenderem socialmente em diferentes velocidades. É quando os filtros começam. O ex-atleta branco consegue se esconder. Eu não consigo. A minha cor me denuncia – refletiu.
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O discurso de Roger recordou também a história do país com a escravidão, abolida apenas em 13 de maio 1888, com a promulgação da Lei Áurea. O treinador citou a Lei dos Sexagenários e a comparou com a Lei Pelé, que substituiu a antiga Lei do Passe, que regia a relação trabalhista dos jogadores com os clubes.
– Um país que foi criado em cima de 400 anos de escravidão é impossível que a gente não traga vestígios dele até esse momento. Para quem não lembra, a legislação que regia minha carreira como jogador, que depois se transformou na Lei Pelé, era assim: eu era propriedade do clube. Se me comportasse bem, aos 28 anos começava a ganhar um percentual do meu passa e aos 35, mais ou menos, eu conseguia o livre arbítrio de escolher para onde eu queria ir – explicou Roger.
– Na escravidão, existiu uma lei muito parecida, chamada Lei do Sexagenário. Aos 60 anos, o escravo conseguia sua liberdade. Porém, a expectativa de vida era de 40. Aos 35 anos, eu, como jogador de futebol, também já estava morto para o esporte. Novamente, o esporte repete o que nós somos como sociedade. É importante falar sim – completou.
Roger Machado é uma voz no futebol na luta contra o racismo
Ricardo Duarte/Divulgação, Internacional
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