‘Paraíso da impunidade’, diz atingido
Pouco antes de o julgamento no exterior começar, um acordo de repactuação de R$ 170 bilhões foi assinado no Brasil. A maior parte, 100 bilhões, será revertida para os governos federal, de Minas Gerais e Espírito Santo. O dinheiro tem que ser aplicado em medidas como reassentamentos, indenizações, infraestrutura e recuperação da bacia do rio Doce.
“Essa repactuação só favorece empresas e governos. Ela pode de fato reparar o estado e a segurança jurídica das empresas. Mas não vai beneficiar diretamente o atingido. Para os verdadeiros atingidos, que estão na calha do rio, a situação só piora. A injustiça se renova”, analisa Vieira.
“Aqui tudo pode”
A professora Andréa Zhouri, fundadora do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) se diz estarrecida. “A decisão não observa o direito fundamental à vida, mostra insensibilidade e desprezo pelas perdas e o sofrimento dos atingidos. É uma reafirmação da injustiça”, declarou à DW.
Como estudiosa dos desastres, a antropóloga afirma que a demora na reparação e no julgamento da ação sempre favorece as empresas acusadas, enquanto os atingidos têm urgência na reconstrução das suas vidas. “Do lado das empresas, o jogo é de prorrogação e de adiamento. A governança do tempo é instrumento da impunidade, e foi o que Samarco, Vale e BHP fizeram o tempo todo”, pontua Zhouri.
Para a pesquisadora, que acompanhou todo o desenrolar dos impactos do rompimento de Fundão, a sentença envia um recado à população brasileira e ao mercado internacional. “A nossa Justiça favorece as elites que não se importam que o Brasil vire uma zona de sacrifício da mineração, com o afrouxamento da legislação ambiental e a absolvição de réus criminosos. Aqui tudo pode”, critica.
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