Juíza que favoreceu PM que matou estudante prendeu mãe por furto
São Paulo — A mesma juíza que, na terça-feira (14/1), negou a prisão preventiva do policial militar Guilherme Augusto Macedo, que matou o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta durante abordagem em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo, manteve presa, em 2021, uma mãe de 5 filhos que furtou R$ 21,69 em mercadorias de um minimercado da rede Oxxo na mesma região, na zona sul da capital paulista.
O que se sabe
- Marco Aurélio foi baleado e morto no dia 20 de novembro pelo PM Guilherme Augusto Macedo (imagem da abordagem na foto de destaque);
- No dia 3 de janeiro, foi concluído o inquérito policial que investigava o caso e, por meio do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), a Polícia Civil pediu a prisão do policial militar;
- No dia 14 de janeiro, a Justiça negou a prisão preventiva do PM;
- Na decisão, a juíza Luciana Menezes Scorza, entendeu que, nos termos da lei processual penal vigente, a prisão preventiva de Guilherme não é cabível. Segundo ela, “os elementos constantes dos autos não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade”;
- Em 2021, a mesma juíza manteve a prisão de uma mãe de 5 filhos que furtou comida em um minimercado.
Procurado pelo Metrópoles, o Tribunal de Justiça de São Paulo informou que não se manifesta sobre questões jurisdicionais. Segundo o órgão, “os magistrados têm independência funcional para decidir de acordo com os documentos dos autos e seu livre convencimento”.
Em carta divulgada nesta terça-feira sobre o pedido da prisão do PM ter sido negado, o pai do estudante de medicina, Julio Cesar Acosta Navarro condenou a decisão da juíza. “Para pobres que roubam por fome, a juíza é duríssima, mas para policiais assassinos pagos pelo Estado, tem um decisão de mãezona… Meu Deus, que pesadelo sem fim”, disse o médico em uma parte do texto.
Mãe presa por furto
No dia 29 de setembro de 2021, uma mãe de 5 filhos foi presa em flagrante pelo furto de duas garrafas de Coca-Cola, de R$ 3,80 cada; um suco em pó da Tang sabor limão, de R$ 1,09; e dois pacotes de macarrão instantâneo Cup Noodles, de R$ 6,50 cada.
- Segundo o boletim de ocorrência, obtido pela reportagem, a mãe de 5 filhos correu ao perceber a viatura e foi pega no Terminal Vila Mariana. Ao ser capturada, ela afirmou que “roubou mesmo, porque estava com fome”;
- O pedido de conversão da prisão em flagrante para preventiva foi realizado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), que alegou que a medida seria imprescindível como forma de preservação da ordem pública
- O órgão também citou a reincidência e o agravante, tendo em vista a situação de calamidade pública de saúde provocada pela pandemia do coronavírus.
- Em 30 de setembro, a juíza Luciana Menezes Scorza acatou o pedido do MPSP, afirmando que, em liberdade, a mulher colocaria em risco a ordem pública, agravando o quadro de instabilidade que havia no país na época;
- Na decisão, a magistrada converteu a prisão para preventiva;
- O processo foi arquivado em outubro de 2021.
Segundo o processo, um pedido de habeas corpus foi indeferido liminarmente em 7 de outubro de 2021 e outro foi apresentado em 11 de outubro. Uma promotora de Justiça analisou todos os processos cíveis e criminais pendentes contra a mãe e observou que ela era dependente química. A defesa da acusada solicitou a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar, alegando que a mulher é mãe de 5 filhos.
Estudante de medicina morto por PM
O pai do estudante que foi morto por um policial militar em 20 de novembro de 2024 assistiu, na sexta-feira (10/1), pela televisão, às imagens das câmeras corporais dos agentes que participaram da abordagem que aconteceu em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo. Julio César lamentou a execução “covarde” de seu filho e disse estar vivendo “tempos de guerra da maldade, da criminalidade contra a nação, contra os inocentes”.
“Acabo de ver, pela televisão, como foi executado o meu filho, covardemente, e não foi socorrido por esse lixos desses soldados. Quero que saibam que eles merecem a pena de morte, pela lei”, lamentou o médico. “O uso de arma de um militar contra os inocentes é crime”, acrescentou o pai do jovem em áudio.
O Metrópoles teve acesso ao material das câmeras corporais dos dois policiais militares envolvidos na ação.
No primeiro vídeo, é possível ver o soldado da PM Guilherme Augusto desembarcar do carro após o estudante dar um tapa no retrovisor da viatura. Ele corre atrás do rapaz e dá ordem para que ele pare. Marco Aurélio entra no hotel e fica encurralado. As imagens são fortes. O jovem tenta pegar a perna do outro PM e é alvejado por um disparo. Veja:
No segundo vídeo, é possível ver a câmera do soldado Prado, que está ao volante. Ele acompanha de dentro da viatura a perseguição do colega ao estudante. Em seguida, ele para a viatura e entra no hotel. Na sequência, ouve-se o disparo. Então, o policial sai e pede apoio. Depois, ele solicita uma unidade de resgate. Veja:
Veja imagens:
Um relatório de investigação sobre a morte do estudante mostrou que o jovem, de 22 anos, foi encurralado pelos policiais militares antes de ser baleado pelo policial militar Guilherme Augusto Macedo. O documento, que mostra as imagens captadas pelas câmeras corporais acopladas às fardas dos agentes, afirma que as últimas palavras de Marco Aurélio teriam sido: “Tira a mão de mim”.
Prisão negada
A juíza Luciana Menezes Scorza entendeu que, nos termos da lei processual penal vigente, a prisão preventiva de Guilherme Augusto Macedo não é cabível no caso. Segundo ela, “os elementos constantes dos autos não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade.”
Ao Metrópoles, o pai de Marco Aurélio, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, disse que a decisão da juíza foi um golpe duro. “Esse pesadelo nunca acaba”, desabafou.
A decisão também reitera que Guilherme Augusto Macedo está realizando funções administrativas, exercendo atividades diferentes da Operacional, e sendo fiscalizado por seu comando. O PM, segundo o texto, é primário e portador de bons antecedentes, além de não ter interferido nas investigações.
Com o pedido de prisão preventiva negado, Guilherme deverá comparecer mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades e manter seu endereço residencial atualizado. Ele está proibido de se ausentar da região onde mora por mais de 8 dias sem autorização judicial, frequentar bares e festas, e manter qualquer tipo de contato com familiares da vítima e testemunhas da acusação.
São Paulo — A mesma juíza que, na terça-feira (14/1), negou a prisão preventiva do policial militar Guilherme Augusto Macedo, que matou o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta durante abordagem em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo, manteve presa, em 2021, uma mãe de 5 filhos que furtou R$ 21,69 em mercadorias de um minimercado da rede Oxxo na mesma região, na zona sul da capital paulista.
O que se sabe
- Marco Aurélio foi baleado e morto no dia 20 de novembro pelo PM Guilherme Augusto Macedo (imagem da abordagem na foto de destaque);
- No dia 3 de janeiro, foi concluído o inquérito policial que investigava o caso e, por meio do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), a Polícia Civil pediu a prisão do policial militar;
- No dia 14 de janeiro, a Justiça negou a prisão preventiva do PM;
- Na decisão, a juíza Luciana Menezes Scorza, entendeu que, nos termos da lei processual penal vigente, a prisão preventiva de Guilherme não é cabível. Segundo ela, “os elementos constantes dos autos não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade”;
- Em 2021, a mesma juíza manteve a prisão de uma mãe de 5 filhos que furtou comida em um minimercado.
Procurado pelo Metrópoles, o Tribunal de Justiça de São Paulo informou que não se manifesta sobre questões jurisdicionais. Segundo o órgão, “os magistrados têm independência funcional para decidir de acordo com os documentos dos autos e seu livre convencimento”.
Em carta divulgada nesta terça-feira sobre o pedido da prisão do PM ter sido negado, o pai do estudante de medicina, Julio Cesar Acosta Navarro condenou a decisão da juíza. “Para pobres que roubam por fome, a juíza é duríssima, mas para policiais assassinos pagos pelo Estado, tem um decisão de mãezona… Meu Deus, que pesadelo sem fim”, disse o médico em uma parte do texto.
Mãe presa por furto
No dia 29 de setembro de 2021, uma mãe de 5 filhos foi presa em flagrante pelo furto de duas garrafas de Coca-Cola, de R$ 3,80 cada; um suco em pó da Tang sabor limão, de R$ 1,09; e dois pacotes de macarrão instantâneo Cup Noodles, de R$ 6,50 cada.
- Segundo o boletim de ocorrência, obtido pela reportagem, a mãe de 5 filhos correu ao perceber a viatura e foi pega no Terminal Vila Mariana. Ao ser capturada, ela afirmou que “roubou mesmo, porque estava com fome”;
- O pedido de conversão da prisão em flagrante para preventiva foi realizado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), que alegou que a medida seria imprescindível como forma de preservação da ordem pública
- O órgão também citou a reincidência e o agravante, tendo em vista a situação de calamidade pública de saúde provocada pela pandemia do coronavírus.
- Em 30 de setembro, a juíza Luciana Menezes Scorza acatou o pedido do MPSP, afirmando que, em liberdade, a mulher colocaria em risco a ordem pública, agravando o quadro de instabilidade que havia no país na época;
- Na decisão, a magistrada converteu a prisão para preventiva;
- O processo foi arquivado em outubro de 2021.
Segundo o processo, um pedido de habeas corpus foi indeferido liminarmente em 7 de outubro de 2021 e outro foi apresentado em 11 de outubro. Uma promotora de Justiça analisou todos os processos cíveis e criminais pendentes contra a mãe e observou que ela era dependente química. A defesa da acusada solicitou a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar, alegando que a mulher é mãe de 5 filhos.
Estudante de medicina morto por PM
O pai do estudante que foi morto por um policial militar em 20 de novembro de 2024 assistiu, na sexta-feira (10/1), pela televisão, às imagens das câmeras corporais dos agentes que participaram da abordagem que aconteceu em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo. Julio César lamentou a execução “covarde” de seu filho e disse estar vivendo “tempos de guerra da maldade, da criminalidade contra a nação, contra os inocentes”.
“Acabo de ver, pela televisão, como foi executado o meu filho, covardemente, e não foi socorrido por esse lixos desses soldados. Quero que saibam que eles merecem a pena de morte, pela lei”, lamentou o médico. “O uso de arma de um militar contra os inocentes é crime”, acrescentou o pai do jovem em áudio.
O Metrópoles teve acesso ao material das câmeras corporais dos dois policiais militares envolvidos na ação.
No primeiro vídeo, é possível ver o soldado da PM Guilherme Augusto desembarcar do carro após o estudante dar um tapa no retrovisor da viatura. Ele corre atrás do rapaz e dá ordem para que ele pare. Marco Aurélio entra no hotel e fica encurralado. As imagens são fortes. O jovem tenta pegar a perna do outro PM e é alvejado por um disparo. Veja:
No segundo vídeo, é possível ver a câmera do soldado Prado, que está ao volante. Ele acompanha de dentro da viatura a perseguição do colega ao estudante. Em seguida, ele para a viatura e entra no hotel. Na sequência, ouve-se o disparo. Então, o policial sai e pede apoio. Depois, ele solicita uma unidade de resgate. Veja:
Veja imagens:
Um relatório de investigação sobre a morte do estudante mostrou que o jovem, de 22 anos, foi encurralado pelos policiais militares antes de ser baleado pelo policial militar Guilherme Augusto Macedo. O documento, que mostra as imagens captadas pelas câmeras corporais acopladas às fardas dos agentes, afirma que as últimas palavras de Marco Aurélio teriam sido: “Tira a mão de mim”.
Prisão negada
A juíza Luciana Menezes Scorza entendeu que, nos termos da lei processual penal vigente, a prisão preventiva de Guilherme Augusto Macedo não é cabível no caso. Segundo ela, “os elementos constantes dos autos não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade.”
Ao Metrópoles, o pai de Marco Aurélio, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, disse que a decisão da juíza foi um golpe duro. “Esse pesadelo nunca acaba”, desabafou.
A decisão também reitera que Guilherme Augusto Macedo está realizando funções administrativas, exercendo atividades diferentes da Operacional, e sendo fiscalizado por seu comando. O PM, segundo o texto, é primário e portador de bons antecedentes, além de não ter interferido nas investigações.
Com o pedido de prisão preventiva negado, Guilherme deverá comparecer mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades e manter seu endereço residencial atualizado. Ele está proibido de se ausentar da região onde mora por mais de 8 dias sem autorização judicial, frequentar bares e festas, e manter qualquer tipo de contato com familiares da vítima e testemunhas da acusação.
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