Morre Márcia Lage, carnavalesca da Mocidade, aos 64 anos, e deixa legado inesquecível

O universo do samba amanheceu de luto neste domingo, 19 de janeiro de 2025, com a triste notícia do falecimento de Márcia Lage, aos 64 anos. A renomada carnavalesca da Mocidade Independente de Padre Miguel, vítima de leucemia, deixa um vazio irreparável no carnaval carioca, onde seu trabalho marcou gerações e estabeleceu um padrão de excelência e inovação. Márcia estava internada em um hospital no Rio de Janeiro, lutando contra a doença, mas não resistiu.

Com décadas de dedicação à maior festa popular do Brasil, Márcia Lage foi uma das figuras mais emblemáticas da arte carnavalesca. Sua visão criativa, aliada ao talento inigualável, transformou os desfiles da Sapucaí em verdadeiras obras-primas. O anúncio de sua partida foi seguido por uma onda de homenagens e manifestações de carinho por parte de sambistas, fãs e amigos. A escola Mocidade decretou luto oficial, cancelando as atividades previstas para o dia.

Natural do Rio de Janeiro, Márcia Lage nasceu em 27 de fevereiro de 1960. Desde jovem, demonstrava talento artístico e paixão pelo carnaval. Ainda estudante da Escola de Belas Artes, encontrou no universo do samba um terreno fértil para sua criatividade. Foi ao lado de Rosa Magalhães, uma das maiores referências do carnaval, que Márcia deu seus primeiros passos como carnavalesca, integrando a equipe do Império Serrano em 1981.

Uma trajetória marcada por criatividade e ousadia

Ao longo de sua brilhante carreira, Márcia Lage assinou desfiles em algumas das escolas mais prestigiadas do Rio de Janeiro, como Portela, Mangueira, Salgueiro e Grande Rio. Contudo, foi na Mocidade Independente de Padre Miguel que ela encontrou seu maior palco. Ao lado de Renato Lage, seu marido e parceiro profissional, Márcia revolucionou os desfiles com enredos que mesclavam tradição e inovação.

Na década de 1990, os dois deram início a uma era de ousadia estética na Mocidade. Inspirados por temas futuristas e universos fantásticos, levaram para a avenida desfiles que entraram para a história, como “Criador e Criatura”, de 1996, que explorou a relação entre o homem e a tecnologia. Com Renato e Márcia à frente, a escola conquistou três títulos do Grupo Especial, consolidando-se como uma das principais forças do carnaval carioca.

O retorno à Mocidade e o enredo de 2025

Após um hiato, Márcia Lage e Renato retornaram à Mocidade em 2024, recebidos com entusiasmo pela comunidade. O casal assumiu o desenvolvimento do enredo “Voltando para o futuro – Não há limites para sonhar”, uma proposta arrojada que resgatava o espírito inovador da escola. A narrativa transportava o público em uma jornada intergaláctica, misturando elementos do passado e visões futuristas para refletir sobre os limites da humanidade e a importância dos sonhos.

A comunidade de Padre Miguel aguardava ansiosamente o desfile, visto como uma celebração do legado de Márcia e Renato. O projeto, que agora será apresentado sem a presença física de Márcia, ganha ainda mais significado como uma homenagem ao seu talento incomparável.

Homenagens emocionantes à carnavalesca

A notícia da morte de Márcia Lage mobilizou o mundo do samba e gerou manifestações de pesar. Diversos sambistas e representantes das escolas de samba destacaram sua contribuição para a cultura brasileira. Zé Paulo Sierra, intérprete da Mocidade, declarou que o desfile de 2025 será uma celebração à altura de Márcia: “Seguiremos honrando seu trabalho todos os dias. Que Deus te receba na luz e conforte nossos corações.”

Fabíola de Andrade, rainha de bateria da Mocidade, ressaltou a influência da carnavalesca: “Sua partida deixa um vazio profundo, mas sua luz permanecerá eternamente em nossas memórias. Descanse em paz.” Além disso, dirigentes de outras agremiações também expressaram solidariedade à família de Márcia e à comunidade da Mocidade.

A importância do carnaval como expressão cultural

O carnaval é uma das maiores manifestações culturais do Brasil, atraindo milhões de espectadores todos os anos. Como carnavalesca, Márcia Lage desempenhou um papel crucial ao transformar as escolas de samba em plataformas de criatividade e reflexão. Seus enredos iam além do entretenimento, promovendo discussões sobre temas sociais, históricos e artísticos.

Durante sua trajetória, Márcia contribuiu para a evolução do carnaval como espetáculo. Seus desfiles, marcados pela riqueza de detalhes e pela inovação visual, inspiraram uma nova geração de artistas. Cada detalhe, desde as alegorias até as fantasias, refletia sua dedicação e talento.

Momentos marcantes na carreira de Márcia Lage

• Em 1992, na Mocidade, Márcia participou do aclamado desfile “Vira, virou, a Mocidade chegou”, que conquistou o título com um enredo repleto de elementos lúdicos e criativos.
• O enredo de 1996, “Criador e Criatura”, é considerado um marco na história do carnaval, explorando de maneira pioneira a relação entre homem e tecnologia.
• Em 2001, ao lado de Renato, desenvolveu o desfile da Grande Rio sobre o tropicalismo, mesclando música, cultura e política de maneira inovadora.
• O retorno à Mocidade em 2024 foi marcado pela expectativa de resgatar a essência da escola, com a proposta de um desfile que unisse tradição e modernidade.

O último adeus

O velório de Márcia Lage será realizado nesta segunda-feira, 20 de janeiro, no Cemitério e Crematório Memorial do Carmo, no Caju, às 13h30. Amigos, familiares e fãs poderão prestar suas últimas homenagens à carnavalesca, que tanto contribuiu para a valorização do carnaval carioca.

Entre os sambistas que confirmaram presença estão representantes das escolas de samba onde Márcia trabalhou, evidenciando o respeito e a admiração que ela conquistou ao longo de sua trajetória.

Curiosidades sobre Márcia Lage

1. Márcia iniciou sua carreira como desenhista no Império Serrano, onde colaborou com Rosa Magalhães.
2. Ao lado de Renato Lage, foi responsável por revolucionar o uso de elementos tecnológicos nos desfiles.
3. Em 2018, recebeu o prêmio “Estandarte de Ouro” por sua contribuição ao carnaval.
4. Sua paixão pelo carnaval era alimentada desde criança, quando assistia aos desfiles pela televisão.
5. Além de carnavalesca, Márcia também era pintora e escultora, habilidades que influenciavam sua visão artística.

A relevância dos carnavalescos no Brasil

Os carnavalescos são os verdadeiros arquitetos do maior espetáculo a céu aberto do mundo. Márcia Lage destacou-se como uma das figuras mais influentes nesse campo, unindo arte, história e inovação. Sua dedicação exemplifica o papel fundamental desses artistas no sucesso do carnaval, que movimenta bilhões de reais e gera milhares de empregos todos os anos.

Estatísticas sobre o carnaval no Brasil

• O carnaval carioca movimenta cerca de R$ 3 bilhões anualmente, com impacto significativo no turismo e na economia local.
• Mais de 70 mil pessoas estão diretamente envolvidas na organização dos desfiles, desde costureiras até artistas plásticos.
• Em 2024, a Mocidade estimava atrair mais de 40 mil pessoas aos ensaios técnicos, reflexo da expectativa gerada pelo retorno de Márcia Lage.

Desafios e contribuições

Márcia enfrentou desafios ao longo de sua carreira, incluindo orçamentos limitados e a pressão para inovar constantemente. No entanto, sua resiliência e paixão pelo trabalho resultaram em desfiles memoráveis que elevaram o padrão artístico do carnaval carioca.

Sua contribuição vai além das alegorias e fantasias; ela ajudou a consolidar o carnaval como um símbolo da cultura brasileira e como um espaço de resistência e celebração.

Um legado que transcende o carnaval

Márcia Lage será lembrada não apenas por suas conquistas no samba, mas também por sua visão artística e pela inspiração que proporcionou a colegas e sucessores. Sua ausência será profundamente sentida, mas seu legado viverá em cada desfile que encanta e emociona milhões de pessoas.