Lula trata crise de deportados internamente sem afrontar Trump



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu nesta segunda-feira (27) com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para definir qual será o tom do Brasil na crise sobre os brasileiros deportados pelos Estados Unidos (EUA) nos últimos dias. Politicamente, o petista tenta evitar um embate direto contra o presidente norte-americano, Donald Trump, a exemplo do ocorrido com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. 

Durante o encontro, que também contou com a presença do assessor de Lula para Assuntos Internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, ficou acertado que uma nova reunião seria realizada ainda nesta terça com a presença do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A partir daí, o Palácio do Planalto pretende se manifestar apenas por meio de uma nota oficial do Itamaraty.

“Não queremos provocar o governo americano, até porque a deportação está prevista num tratado que vige há anos entre Brasil e EUA”, disse Lewandowski mais cedo durante um encontro com empresários em São Paulo. 

 A expectativa, segundo assessores do governo ouvidos pela reportagem, é de que as questões sobre as políticas migratórias adotadas por Trump sejam tratadas apenas no campo da diplomacia, sem uma manifestação pública de Lula neste momento. O presidente, por exemplo, não deve viajar para Honduras, onde será realizada a reunião de emergência da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na próxima quinta-feira (30). 

O encontro foi convocado pela atual titular do bloco, Xiomara Castro de Zelaya, presidente de Honduras, justamente para tratar sobre a política de deportação de imigrantes adotada por Trump. O governo ainda avalia se Lula vai participar de forma virtual da reunião, que também terá como pauta o meio ambiente e a “unidade latino-americana”. 

A avaliação interna dentro do Palácio do Planalto é de justamente tentar evitar uma nova crise diplomática para Lula em meio à queda de popularidade do governo. Desde a posse de Trump, o petista tem amenizado o tom em relação ao presidente norte-americano e disse recentemente não querer “briga com os EUA”.  

“O Trump foi eleito para governar os Estados Unidos, e eu, como presidente do Brasil, torço para que ele faça uma gestão profícua, para que o povo brasileiro, o povo americano melhore e para que os americanos continuem a ser os parceiros históricos que são do Brasil”, disse Lula na semana passada. 

Derrota de Petro na Colômbia serviu de recado para o Brasil 

As deportações realizadas pelo governo Trump passaram a ser acompanhadas de perto pelo Planalto neste domingo (26), após o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, recusar a chegada de dois aviões militares americanos com migrantes deportados. Aliado de Lula, o colombiano alegou que “os Estados Unidos não podem tratar os migrantes do seu país como criminosos” e defendeu que os deportados fossem transportados em aviões civis com dignidade. 

Integrantes do governo petista, ouvidos pela reportagem, avaliam que o episódio envolvendo o presidente colombiano foi uma derrota diplomática e política para a esquerda contra Trump.

Na esteira da crise do país vizinho, o Brasil recebeu, no último sábado (25), o primeiro voo, com cerca de 160 pessoas deportadas dos EUA, desde a posse do novo chefe da Casa Branca.  

Itamaraty vai tentar contato diplomático com o governo dos EUA 

Ainda no final de semana, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, divulgou uma nota classificando o transporte de brasileiros com algemas como um “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”. Esse transporte por algemas de deportados acontece desde 2021 e o acordo prevê a remoção a partir do momento que o avião entra em solo brasileiro. 

Após as denúncias de supostos maus-tratos durante a viagem, relatadas à PF pelos viajantes, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o tratamento aos deportados brasileiros foi “degradante” e informou que pediria explicações ao governo norte-americano. O Itamaraty disse ainda que tomaria providências para evitar situações semelhantes em futuras repatriações. “O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas”, informou a pasta. 

Nesta segunda-feira (27), o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, foi convocado a prestar esclarecimentos sobre a deportação de brasileiros ao Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. Escobar é o responsável pela representação diplomática até a nomeação de um novo embaixador pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

Ele teve uma reunião com a secretária de Comunidades Brasileiras no Exterior e Assuntos Consulares e Jurídicos do Itamaraty, a embaixadora Márcia Loureiro. Na conversa, a diplomata reiterou o posicionamento brasileiro sobre a condutada “inaceitável” em que os brasileiros chegaram ao Brasil após deportação realizada pelo governo norte-americano.

Apesar da movimentação do campo diplomático, políticos próximos ao Planalto admitem que o Brasil não deve, por exemplo, conseguir uma mudança sobre o protocolo das algemas, usadas desde o governo Joe Biden, que era considerado um presidente mais próximo de Lula. Nos cálculos dos petistas, a estratégia de tratar a crise de forma interna tem como objetivo justamente evitar um embate direto com Trump, como o ocorrido na Colômbia. 

“Essa deportação tem que ser feita em respeito aos direitos fundamentais das pessoas, sobretudo os que não são criminosos. Nós não queremos provocação, não queremos afrontar quem quer que seja, mas queremos que os brasileiros que são inocentes, que foram lá procurar trabalho, queremos que eles sejam tratados com a dignidade que merecem”, disse Lewandowski. 

Em 2024, ainda sob a gestão Biden, 17 voos realizaram a deportação de aproximadamente 2,1 mil brasileiros. O número supera os 14 voos que ocorreram em 2023, quando cerca de 1,4 mil indivíduos foram repatriados. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu nesta segunda-feira (27) com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para definir qual será o tom do Brasil na crise sobre os brasileiros deportados pelos Estados Unidos (EUA) nos últimos dias. Politicamente, o petista tenta evitar um embate direto contra o presidente norte-americano, Donald Trump, a exemplo do ocorrido com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. 

Durante o encontro, que também contou com a presença do assessor de Lula para Assuntos Internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, ficou acertado que uma nova reunião seria realizada ainda nesta terça com a presença do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A partir daí, o Palácio do Planalto pretende se manifestar apenas por meio de uma nota oficial do Itamaraty.

“Não queremos provocar o governo americano, até porque a deportação está prevista num tratado que vige há anos entre Brasil e EUA”, disse Lewandowski mais cedo durante um encontro com empresários em São Paulo. 

 A expectativa, segundo assessores do governo ouvidos pela reportagem, é de que as questões sobre as políticas migratórias adotadas por Trump sejam tratadas apenas no campo da diplomacia, sem uma manifestação pública de Lula neste momento. O presidente, por exemplo, não deve viajar para Honduras, onde será realizada a reunião de emergência da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na próxima quinta-feira (30). 

O encontro foi convocado pela atual titular do bloco, Xiomara Castro de Zelaya, presidente de Honduras, justamente para tratar sobre a política de deportação de imigrantes adotada por Trump. O governo ainda avalia se Lula vai participar de forma virtual da reunião, que também terá como pauta o meio ambiente e a “unidade latino-americana”. 

A avaliação interna dentro do Palácio do Planalto é de justamente tentar evitar uma nova crise diplomática para Lula em meio à queda de popularidade do governo. Desde a posse de Trump, o petista tem amenizado o tom em relação ao presidente norte-americano e disse recentemente não querer “briga com os EUA”.  

“O Trump foi eleito para governar os Estados Unidos, e eu, como presidente do Brasil, torço para que ele faça uma gestão profícua, para que o povo brasileiro, o povo americano melhore e para que os americanos continuem a ser os parceiros históricos que são do Brasil”, disse Lula na semana passada. 

Derrota de Petro na Colômbia serviu de recado para o Brasil 

As deportações realizadas pelo governo Trump passaram a ser acompanhadas de perto pelo Planalto neste domingo (26), após o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, recusar a chegada de dois aviões militares americanos com migrantes deportados. Aliado de Lula, o colombiano alegou que “os Estados Unidos não podem tratar os migrantes do seu país como criminosos” e defendeu que os deportados fossem transportados em aviões civis com dignidade. 

Integrantes do governo petista, ouvidos pela reportagem, avaliam que o episódio envolvendo o presidente colombiano foi uma derrota diplomática e política para a esquerda contra Trump.

Na esteira da crise do país vizinho, o Brasil recebeu, no último sábado (25), o primeiro voo, com cerca de 160 pessoas deportadas dos EUA, desde a posse do novo chefe da Casa Branca.  

Itamaraty vai tentar contato diplomático com o governo dos EUA 

Ainda no final de semana, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, divulgou uma nota classificando o transporte de brasileiros com algemas como um “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”. Esse transporte por algemas de deportados acontece desde 2021 e o acordo prevê a remoção a partir do momento que o avião entra em solo brasileiro. 

Após as denúncias de supostos maus-tratos durante a viagem, relatadas à PF pelos viajantes, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o tratamento aos deportados brasileiros foi “degradante” e informou que pediria explicações ao governo norte-americano. O Itamaraty disse ainda que tomaria providências para evitar situações semelhantes em futuras repatriações. “O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas”, informou a pasta. 

Nesta segunda-feira (27), o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, foi convocado a prestar esclarecimentos sobre a deportação de brasileiros ao Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. Escobar é o responsável pela representação diplomática até a nomeação de um novo embaixador pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

Ele teve uma reunião com a secretária de Comunidades Brasileiras no Exterior e Assuntos Consulares e Jurídicos do Itamaraty, a embaixadora Márcia Loureiro. Na conversa, a diplomata reiterou o posicionamento brasileiro sobre a condutada “inaceitável” em que os brasileiros chegaram ao Brasil após deportação realizada pelo governo norte-americano.

Apesar da movimentação do campo diplomático, políticos próximos ao Planalto admitem que o Brasil não deve, por exemplo, conseguir uma mudança sobre o protocolo das algemas, usadas desde o governo Joe Biden, que era considerado um presidente mais próximo de Lula. Nos cálculos dos petistas, a estratégia de tratar a crise de forma interna tem como objetivo justamente evitar um embate direto com Trump, como o ocorrido na Colômbia. 

“Essa deportação tem que ser feita em respeito aos direitos fundamentais das pessoas, sobretudo os que não são criminosos. Nós não queremos provocação, não queremos afrontar quem quer que seja, mas queremos que os brasileiros que são inocentes, que foram lá procurar trabalho, queremos que eles sejam tratados com a dignidade que merecem”, disse Lewandowski. 

Em 2024, ainda sob a gestão Biden, 17 voos realizaram a deportação de aproximadamente 2,1 mil brasileiros. O número supera os 14 voos que ocorreram em 2023, quando cerca de 1,4 mil indivíduos foram repatriados. 



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