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Protestos indígenas, gargalos logísticos e a sombra de Trump ofuscam ambições de Helder Barbalho – Daniel Camargos – CartaCapital
A escolha de Belém como sede da COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, representa para o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), uma oportunidade de projetar seu nome nacionalmente e, quem sabe, se cacifar como um possível candidato à vice-presidência na chapa petista em 2026.
O caminho para transformar o encontro mundial em estratégia para suas ambições políticas, contudo, está cheio de obstáculos. Protestos indígenas, problemas logísticos e de infraestrutura e até a imprevisibilidade geopolítica, personificada na figura de Donald Trump, ameaçam o sucesso da conferência e podem frustrar a ambição da estrela do clã Barbalho.
Filho do senador e ex-governador, Jader Barbalho (MDB), Helder tem muitos familiares no poder: a mãe é deputada federal; o irmão, ministro do governo Lula, e o primo recém-eleito prefeito de Belém. Já a esposa é conselheira do Tribunal de Contas estadual.
Durante a pandemia, ele se opôs à política negacionista do então presidente Jair Bolsonaro e recebeu o apelido de “rei do norte”, com direito a memes alusivos a série Game of Thrones. Reeleito com ampla vantagem no primeiro turno, o governador está no segundo mandato e, aos 45 anos, já foi vereador, prefeito e ministro nos governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). O que lhe resta é um voo nacional.
O governador tenta encampar um discurso “verde”, mas, simultaneamente, apoia projetos criticados por ambientalistas. Barbalho é favorável à construção da Ferrogrão – planejada para transportar soja entre o Mato Grosso e o porto no rio Tapajós, no Pará; sinalizou positivamente à exploração de petróleo na foz do Amazonas e quer a construção da hidrovia no rio Tocantins, todos empreendimentos com impactos ambientais vultosos, que afetam os povos originários.
“É uma contradição latente. Ao mesmo tempo que faz um discurso verde, deixa a boiada passar”, critica Bruno Malheiro, pesquisador e professor da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará).
Autor dos livros Geografias do Bolsonarismo e Horizontes Amazônicos, e atento ao modus operandi do governador, Malheiro cita o protesto de diversos povos indígenas que ocorre em Belém desde 14 de janeiro, com a ocupação da secretaria de Educação.
Os indígenas exigem a revogação da Lei 10.820/2024, aprovada em dezembro, que altera a carreira do magistério no estado e abre caminho para a troca do ensino presencial por educação a distância (EAD) em escolas de áreas remotas, como comunidades quilombolas e terras indígenas.
“Esse processo de enfraquecimento da educação no campo, indígena e quilombola tem relação direta com o agronegócio, pois esvazia a possibilidade de resistência”, avalia. Para o professor, a retirada da educação presencial é uma forma de afastar os povos dos territórios e, assim, favorecer a dinâmica de expansão do agronegócio.
“Helder parece determinado a sabotar ele mesmo na COP-30. Sem os povos indígenas e repudiado pelo movimento social, o governo dá um tiro no pé”, disse em uma rede social o líder indígena, filósofo e escritor Ailton Krenak.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil entrou com uma ação no STF contra a lei. O Ministério Público Federal cobra que os povos indígenas tenham direito à consulta direta sobre a legislação.
A ocupação da secretaria escancara a contradição entre o discurso pró-Amazônia do governo e as ações que prejudicam os direitos dos povos originários e do campo.
Além da questão indígena, a realização da COP-30 precisa enfrentar graves entraves logísticos. A capital paraense tem gargalos históricos na gestão do lixo e no saneamento. Mas o maior dos problemas é a limitação de hospedagem. Há cerca de 18 mil leitos em Belém, mas são esperadas entre 40 mil e 70 mil pessoas.
Para suprir a demanda, o governo está improvisando com um plano de atracagem de navios de luxo no porto de Outeiro e a adaptação de escolas para hospedagem. Os navios devem comportar 4.500 leitos, e as escolas adaptadas, mais 5 mil leitos. Além disso, hotéis estão sendo construídos, e espera-se que o aluguel de casas e apartamentos por temporada gere quase 11,5 mil leitos.
A falta de planejamento atiçou a especulação imobiliária. Já se observam anúncios de diárias que ultrapassam 100 mil reais. Um apartamento de um quarto, a 10 quilômetros do Hangar onde acontecerá parte da conferência, está sendo alugado por 13 mil reais a diária.
A situação é tão grave que a conferência já está sendo chamada de “COP da Elite” e não mais “COP da Floresta”. A carestia pode excluir do encontro setores da sociedade civil, jovens e delegações de países mais pobres, ficando inacessível para quem não é endinheirado.
Para piorar o cenário, a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos colocou no topo da política um inimigo do meio ambiente. O radical de extrema-direita já retirou os EUA do Acordo de Paris, o tratado internacional sobre as mudanças climáticas, que estabelece metas para os países signatários reduzirem suas emissões de gases poluentes, para limitar o aquecimento global. Além disso, Trump deixou claro que não vai cooperar com a agenda ambiental.
O contexto geopolítico instável, com o fortalecimento da extrema-direita negacionista no mundo, torna a tarefa da COP-30 ainda mais desafiadora.
Além disso, a divisão da sociedade brasileira em relação à COP-30 se manifesta também na criação da chamada “COP do Agro”, um evento paralelo organizado por ruralistas em Marabá, no sudeste do Pará. Planejado para outubro, antecedendo a conferência oficial, o encontro visa defender o agronegócio e questionar a conferência da ONU.
Os organizadores da “COP do Agro” convidaram Donald Trump e defendem o protagonismo do produtor rural nas decisões sobre a Amazônia. O senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), que foi derrotado por Barbalho na última disputa para o governo do Pará, é um dos principais entusiastas da “COP do Agro” e afirma que a conferência da ONU é “controlada pelo ecoterrorismo ambiental”. Além de Marinho, mais de uma dezena de senadores, deputados federais e estaduais confirmaram presença.
Diante de tantos fatores, o risco de que a conferência se transforme em mais uma reunião internacional fracassada é real. Com isso, os planos de Barbalho perdem força.
A escolha de Belém como sede da COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, representa para o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), uma oportunidade de projetar seu nome nacionalmente e, quem sabe, se cacifar como um possível candidato à vice-presidência na chapa petista em 2026.
O caminho para transformar o encontro mundial em estratégia para suas ambições políticas, contudo, está cheio de obstáculos. Protestos indígenas, problemas logísticos e de infraestrutura e até a imprevisibilidade geopolítica, personificada na figura de Donald Trump, ameaçam o sucesso da conferência e podem frustrar a ambição da estrela do clã Barbalho.
Filho do senador e ex-governador, Jader Barbalho (MDB), Helder tem muitos familiares no poder: a mãe é deputada federal; o irmão, ministro do governo Lula, e o primo recém-eleito prefeito de Belém. Já a esposa é conselheira do Tribunal de Contas estadual.
Durante a pandemia, ele se opôs à política negacionista do então presidente Jair Bolsonaro e recebeu o apelido de “rei do norte”, com direito a memes alusivos a série Game of Thrones. Reeleito com ampla vantagem no primeiro turno, o governador está no segundo mandato e, aos 45 anos, já foi vereador, prefeito e ministro nos governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). O que lhe resta é um voo nacional.
O governador tenta encampar um discurso “verde”, mas, simultaneamente, apoia projetos criticados por ambientalistas. Barbalho é favorável à construção da Ferrogrão – planejada para transportar soja entre o Mato Grosso e o porto no rio Tapajós, no Pará; sinalizou positivamente à exploração de petróleo na foz do Amazonas e quer a construção da hidrovia no rio Tocantins, todos empreendimentos com impactos ambientais vultosos, que afetam os povos originários.
“É uma contradição latente. Ao mesmo tempo que faz um discurso verde, deixa a boiada passar”, critica Bruno Malheiro, pesquisador e professor da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará).
Autor dos livros Geografias do Bolsonarismo e Horizontes Amazônicos, e atento ao modus operandi do governador, Malheiro cita o protesto de diversos povos indígenas que ocorre em Belém desde 14 de janeiro, com a ocupação da secretaria de Educação.
Os indígenas exigem a revogação da Lei 10.820/2024, aprovada em dezembro, que altera a carreira do magistério no estado e abre caminho para a troca do ensino presencial por educação a distância (EAD) em escolas de áreas remotas, como comunidades quilombolas e terras indígenas.
“Esse processo de enfraquecimento da educação no campo, indígena e quilombola tem relação direta com o agronegócio, pois esvazia a possibilidade de resistência”, avalia. Para o professor, a retirada da educação presencial é uma forma de afastar os povos dos territórios e, assim, favorecer a dinâmica de expansão do agronegócio.
“Helder parece determinado a sabotar ele mesmo na COP-30. Sem os povos indígenas e repudiado pelo movimento social, o governo dá um tiro no pé”, disse em uma rede social o líder indígena, filósofo e escritor Ailton Krenak.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil entrou com uma ação no STF contra a lei. O Ministério Público Federal cobra que os povos indígenas tenham direito à consulta direta sobre a legislação.
A ocupação da secretaria escancara a contradição entre o discurso pró-Amazônia do governo e as ações que prejudicam os direitos dos povos originários e do campo.
Além da questão indígena, a realização da COP-30 precisa enfrentar graves entraves logísticos. A capital paraense tem gargalos históricos na gestão do lixo e no saneamento. Mas o maior dos problemas é a limitação de hospedagem. Há cerca de 18 mil leitos em Belém, mas são esperadas entre 40 mil e 70 mil pessoas.
Para suprir a demanda, o governo está improvisando com um plano de atracagem de navios de luxo no porto de Outeiro e a adaptação de escolas para hospedagem. Os navios devem comportar 4.500 leitos, e as escolas adaptadas, mais 5 mil leitos. Além disso, hotéis estão sendo construídos, e espera-se que o aluguel de casas e apartamentos por temporada gere quase 11,5 mil leitos.
A falta de planejamento atiçou a especulação imobiliária. Já se observam anúncios de diárias que ultrapassam 100 mil reais. Um apartamento de um quarto, a 10 quilômetros do Hangar onde acontecerá parte da conferência, está sendo alugado por 13 mil reais a diária.
A situação é tão grave que a conferência já está sendo chamada de “COP da Elite” e não mais “COP da Floresta”. A carestia pode excluir do encontro setores da sociedade civil, jovens e delegações de países mais pobres, ficando inacessível para quem não é endinheirado.
Para piorar o cenário, a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos colocou no topo da política um inimigo do meio ambiente. O radical de extrema-direita já retirou os EUA do Acordo de Paris, o tratado internacional sobre as mudanças climáticas, que estabelece metas para os países signatários reduzirem suas emissões de gases poluentes, para limitar o aquecimento global. Além disso, Trump deixou claro que não vai cooperar com a agenda ambiental.
O contexto geopolítico instável, com o fortalecimento da extrema-direita negacionista no mundo, torna a tarefa da COP-30 ainda mais desafiadora.
Além disso, a divisão da sociedade brasileira em relação à COP-30 se manifesta também na criação da chamada “COP do Agro”, um evento paralelo organizado por ruralistas em Marabá, no sudeste do Pará. Planejado para outubro, antecedendo a conferência oficial, o encontro visa defender o agronegócio e questionar a conferência da ONU.
Os organizadores da “COP do Agro” convidaram Donald Trump e defendem o protagonismo do produtor rural nas decisões sobre a Amazônia. O senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), que foi derrotado por Barbalho na última disputa para o governo do Pará, é um dos principais entusiastas da “COP do Agro” e afirma que a conferência da ONU é “controlada pelo ecoterrorismo ambiental”. Além de Marinho, mais de uma dezena de senadores, deputados federais e estaduais confirmaram presença.
Diante de tantos fatores, o risco de que a conferência se transforme em mais uma reunião internacional fracassada é real. Com isso, os planos de Barbalho perdem força.
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