Conversas revelam terror da quadrilha que tomou bairros da Zona Oeste; bandidos debatiam até arrancar coração de vítima
RJ2 teve acesso exclusivo a material de investigações que elucidaram homicídios. Desde que a guerra pelo controle da região entre traficantes e milicianos começou, foram contabilizados quase 684 assassinatos. Vídeos e áudios obtidos pela polícia que o RJ2 teve acesso com exclusividade mostram os métodos violentos do Comando Vermelho na tomada do controle de 16 bairros da Zona Oeste do Rio, processo em andamento desde 2023.
Entre os áudios, há gravações dos bandidos debatendo se vão retirar o coração de uma vítima que tinham acabado de assassinar ou se iam “picotar” o corpo – e fazer um vídeo enquanto mutilavam o cadáver.
Praça Seca, Taquara, Freguesia, Tanque, Anil e Gardenia Azul são alguns dos bairros que ou eram controlados por milicianos ou não estavam sob domínio de criminosos.
O material que o RJ2 teve acesso faz parte de um conjunto de quase 15 mil arquivos entre fotos, vídeos e mensagens obtidas pela Delegacia de Homicídios na investigação que apurou as mortes dos médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, em 2023.
As informações ajudaram a polícia a identificar os autores de pelo menos outros oito assassinatos cometidos na região.
Em um dos áudios, conversando com o traficante Juan Breno Malta Rodrigues, o BMW, um dos responsáveis pelo chamado Complexo de Jacarepaguá, um assassino argumenta:
“Nós não ‘tem’ tempo pra tirar o coração, não, BMW. Porque, tipo assim, nós tá no meio do mato aqui, os ‘cana’ tá se movimentando. Nós ‘vai’ picotar essa ***** toda, vai enterrar e vida que segue”.
“O vídeo ‘nós’ vai fazer cortando os ‘pedaço’. Esse bagulho aí de coração, não sei nem como que tira isso”, continua o criminoso.
As investigações mostram que BMW acompanhava os crimes que ordenou em tempo real. Depois, recebeu a resposta do comparsa: “Já foi concluído o trabalho já”.
A polícia também achou áudios que mostram que há vezes em que o próprio criminoso comete os assassinatos.
“Cara-crachá com ele. Vinha andando, a tia vinha passando na hora, já mandei a tia parar, quando a tia parou, ele me olhou. Quando ele me olhou, filhão… Já dei só na cara. Coloquei cinco, seis. Ele já ficou tipo em pé. Tipo côco vazando. Já fui, já completei e ele já caiu”, disse BMW em um áudio.
Em outras gravações, descreve como foi um ataque: “Traçante, fogo, granada, rajada”.
O terror na região começou no início de 2023, quando um miliciano que integrava a quadrilha de Rio das Pedras mudou de lado e se aliou a traficantes do Comando Vermelho. O controle da comunidade Gardênia Azul foi disputado durante meses.
O conflito foi se alastrando por cada bairro da região numa guerra sangrenta por território.
“Desde 2023 teve um aumento significativo no número de homicídios nessa região. xeatamente por esse medo dessa investida, começa uma caça recíproca: traficante caçando miliciano, miliciano caçando traficante. E isso vai aumentando significativamente o número dos homicídios. E não só dos homicídios. As atividades secundárias envolvendo tanto milícia, quanto tráfico, também cresceram: as extorsões de comerciantes, extorsões de moradores. isso tudo é fonte de que dinheiro para que eles possam comprar mais armas, pagar mais soldados, investir dinheiro nessa guerra”, diz o delegado adjunto da Delegacia de Homicídios Leandro Costa.
Em um áudio investigado, BMW pode ser ouvido conversando com um dos bandidos que chefia o Comando Vermelho no Complexo da Penha: Carlos da Costa Neves, o Gardenal.
“Mano, Rio das Pedras tá em chama”, diz BMW. É possível ouvir risadas no mesmo áudio.
O deboche vem junto de orientações sobre como incomodar o grupo rival: “Deixar ‘nós’ tacar fogo numa van lá, lá no Rio das Pedras também, pra eles se ligar, tá ligado? Mandar tacar fogo numa van, pegou a visão? Dar uns tirinho. Aquele pique”, diz.
Naquele dia, moradores ficaram sob um intenso tiroteio nesssas localidades.
Rotina de terror para os moradores
Enquanto os traficantes se vangloriam de ataques, moradores sofrem no dia a dia.
“O pessoal tá sangrando. Tá com medo. Toma casa, toma isso, toma aquilo, e não acontece nada. Nada, nada, nada, nada. Como é que pode?”, diz um morador da Zona Oeste.
“A Taquara tem imóveis que eram vendidos a R$ 1 milhão, R$ 1,2 milhão, R$ 1,5 milhão. Hoje, é R$ 400 mil e ninguém compra. Você está vendo pessoas se mudando, largando os bens, que construíram durante uma vida, pra trás. Um sonho de vida. Quantas vidas essa violência tá cortando?” questiona outro morador.
“Nesses dois anos tudo mudou para os moradores. Você vê muito roubo acontecendo, moradores sendo expulsos, lideranças aparecendo cada vez mais em Jacarepaguá, muito armamento ostentado nas áreas ocupadas – a consolidação dessa nova cultura em Jacarepaguá a cultura da violência do crime”, diz outro morador.
“Eles param veem a sua cara, se não te conhecer, ou se cismarem com a sua de falar alguma coisa, eles vão te enquadrar com fuzil, com pistola na sua cara”, lamenta.
“Se eles olharem para você, você porventura olhar estranho automaticamente [ele diz]: ‘Para, mé dá o telefone. Deixa eu olhar com você tá falando. Você é de onde?” Se você morar em área de outra toda facção, muito muito difícil você não ser ali espancado ou até mesmo morto”, diz um morador.
Parte dos crimes solucionados pela Delgacia de Homicídios a partir dos áudios obtidos são de pessoas que não tinham envolvimento com qualquer organização criminosa.
“Por vezes, as vítimas elas são apontadas por algum colaborador que não necessariamente faz parte do tráfico, mas tem alguma proximidade, alguma simpatia e aponta determinado morador ou prestador de serviço como informante, cobrador, que tem alguma ligação com a milícia, digamos, com os inimigos. Então, diante dessas informações, por vezes, eles capturam essa pessoa, passa por uma sessão de interrogatório, mandam desbloquear telefone”, conta o delegado.
“Estando convencidos que de fato eles têm alguma relação com a milícia, eles são executados. muita dessas vezes os corpos são ocultados, os corpos são enterrados, jogados na água. E muitas vezes. não chega nem a virar uma investigação oficial”, acrescenta.
RJ2 teve acesso exclusivo a material de investigações que elucidaram homicídios. Desde que a guerra pelo controle da região entre traficantes e milicianos começou, foram contabilizados quase 684 assassinatos. Vídeos e áudios obtidos pela polícia que o RJ2 teve acesso com exclusividade mostram os métodos violentos do Comando Vermelho na tomada do controle de 16 bairros da Zona Oeste do Rio, processo em andamento desde 2023.
Entre os áudios, há gravações dos bandidos debatendo se vão retirar o coração de uma vítima que tinham acabado de assassinar ou se iam “picotar” o corpo – e fazer um vídeo enquanto mutilavam o cadáver.
Praça Seca, Taquara, Freguesia, Tanque, Anil e Gardenia Azul são alguns dos bairros que ou eram controlados por milicianos ou não estavam sob domínio de criminosos.
O material que o RJ2 teve acesso faz parte de um conjunto de quase 15 mil arquivos entre fotos, vídeos e mensagens obtidas pela Delegacia de Homicídios na investigação que apurou as mortes dos médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, em 2023.
As informações ajudaram a polícia a identificar os autores de pelo menos outros oito assassinatos cometidos na região.
Em um dos áudios, conversando com o traficante Juan Breno Malta Rodrigues, o BMW, um dos responsáveis pelo chamado Complexo de Jacarepaguá, um assassino argumenta:
“Nós não ‘tem’ tempo pra tirar o coração, não, BMW. Porque, tipo assim, nós tá no meio do mato aqui, os ‘cana’ tá se movimentando. Nós ‘vai’ picotar essa ***** toda, vai enterrar e vida que segue”.
“O vídeo ‘nós’ vai fazer cortando os ‘pedaço’. Esse bagulho aí de coração, não sei nem como que tira isso”, continua o criminoso.
As investigações mostram que BMW acompanhava os crimes que ordenou em tempo real. Depois, recebeu a resposta do comparsa: “Já foi concluído o trabalho já”.
A polícia também achou áudios que mostram que há vezes em que o próprio criminoso comete os assassinatos.
“Cara-crachá com ele. Vinha andando, a tia vinha passando na hora, já mandei a tia parar, quando a tia parou, ele me olhou. Quando ele me olhou, filhão… Já dei só na cara. Coloquei cinco, seis. Ele já ficou tipo em pé. Tipo côco vazando. Já fui, já completei e ele já caiu”, disse BMW em um áudio.
Em outras gravações, descreve como foi um ataque: “Traçante, fogo, granada, rajada”.
O terror na região começou no início de 2023, quando um miliciano que integrava a quadrilha de Rio das Pedras mudou de lado e se aliou a traficantes do Comando Vermelho. O controle da comunidade Gardênia Azul foi disputado durante meses.
O conflito foi se alastrando por cada bairro da região numa guerra sangrenta por território.
“Desde 2023 teve um aumento significativo no número de homicídios nessa região. xeatamente por esse medo dessa investida, começa uma caça recíproca: traficante caçando miliciano, miliciano caçando traficante. E isso vai aumentando significativamente o número dos homicídios. E não só dos homicídios. As atividades secundárias envolvendo tanto milícia, quanto tráfico, também cresceram: as extorsões de comerciantes, extorsões de moradores. isso tudo é fonte de que dinheiro para que eles possam comprar mais armas, pagar mais soldados, investir dinheiro nessa guerra”, diz o delegado adjunto da Delegacia de Homicídios Leandro Costa.
Em um áudio investigado, BMW pode ser ouvido conversando com um dos bandidos que chefia o Comando Vermelho no Complexo da Penha: Carlos da Costa Neves, o Gardenal.
“Mano, Rio das Pedras tá em chama”, diz BMW. É possível ouvir risadas no mesmo áudio.
O deboche vem junto de orientações sobre como incomodar o grupo rival: “Deixar ‘nós’ tacar fogo numa van lá, lá no Rio das Pedras também, pra eles se ligar, tá ligado? Mandar tacar fogo numa van, pegou a visão? Dar uns tirinho. Aquele pique”, diz.
Naquele dia, moradores ficaram sob um intenso tiroteio nesssas localidades.
Rotina de terror para os moradores
Enquanto os traficantes se vangloriam de ataques, moradores sofrem no dia a dia.
“O pessoal tá sangrando. Tá com medo. Toma casa, toma isso, toma aquilo, e não acontece nada. Nada, nada, nada, nada. Como é que pode?”, diz um morador da Zona Oeste.
“A Taquara tem imóveis que eram vendidos a R$ 1 milhão, R$ 1,2 milhão, R$ 1,5 milhão. Hoje, é R$ 400 mil e ninguém compra. Você está vendo pessoas se mudando, largando os bens, que construíram durante uma vida, pra trás. Um sonho de vida. Quantas vidas essa violência tá cortando?” questiona outro morador.
“Nesses dois anos tudo mudou para os moradores. Você vê muito roubo acontecendo, moradores sendo expulsos, lideranças aparecendo cada vez mais em Jacarepaguá, muito armamento ostentado nas áreas ocupadas – a consolidação dessa nova cultura em Jacarepaguá a cultura da violência do crime”, diz outro morador.
“Eles param veem a sua cara, se não te conhecer, ou se cismarem com a sua de falar alguma coisa, eles vão te enquadrar com fuzil, com pistola na sua cara”, lamenta.
“Se eles olharem para você, você porventura olhar estranho automaticamente [ele diz]: ‘Para, mé dá o telefone. Deixa eu olhar com você tá falando. Você é de onde?” Se você morar em área de outra toda facção, muito muito difícil você não ser ali espancado ou até mesmo morto”, diz um morador.
Parte dos crimes solucionados pela Delgacia de Homicídios a partir dos áudios obtidos são de pessoas que não tinham envolvimento com qualquer organização criminosa.
“Por vezes, as vítimas elas são apontadas por algum colaborador que não necessariamente faz parte do tráfico, mas tem alguma proximidade, alguma simpatia e aponta determinado morador ou prestador de serviço como informante, cobrador, que tem alguma ligação com a milícia, digamos, com os inimigos. Então, diante dessas informações, por vezes, eles capturam essa pessoa, passa por uma sessão de interrogatório, mandam desbloquear telefone”, conta o delegado.
“Estando convencidos que de fato eles têm alguma relação com a milícia, eles são executados. muita dessas vezes os corpos são ocultados, os corpos são enterrados, jogados na água. E muitas vezes. não chega nem a virar uma investigação oficial”, acrescenta.
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