Opinião: defesa impede Lusa de almejar mais que empate e, até aqui, permanência
Portuguesa sofreu dois gols em seis dos sete jogos que disputou neste Paulistão; 2 a 2 com o Velo Clube, com mais falhas da zaga, deixou sensação de desperdício Velo Clube e Portuguesa empatam
Palmeiras, Novorizontino, Mirassol, São Paulo, Botafogo e Velo Clube. O que esses clubes têm em comum no Paulistão? Todos marcaram dois gols na Portuguesa. Uma constatação que impressiona mais quando se nota que são seis dos sete adversários.
O único clube que enfrentou a Lusa e não balançou as redes foi a Ponte Preta, naquele que foi o mais atípico dos jogos, em que dois atletas rubro-verdes foram expulsos ainda no primeiro tempo. Talvez a única partida em que a equipe, de fato, soube se defender.
É claro, nítido e evidente o problema. Não há narrativa ou retórica capazes de contestar esses números. Há, sim, uma flagrante e enorme fragilidade defensiva, que não foi sanada, mesmo a Portuguesa já tendo ultrapassado a primeira metade do campeonato.
Nesta terça-feira (4), pela sétima rodada do Paulistão, essas mesmas falhas defensivas fizeram a Lusa deixar a cidade de Rio Claro com um empate por 2 a 2 com o Velo Clube. Aquele empate com sabor de que dava para – e precisava – ter feito mais.
O técnico Cauan de Almeida voltava a ter o lateral direito Alex Silva e o volante Fernando Henrique à disposição após cumprirem suspensão. Em relação à rodada passada, a vitória por 3 a 2 sobre o Botafogo, promoveu a entrada de só um deles.
Rafael Santos no gol; Alex Silva na lateral direita e Lucas Hipólito na esquerda; Eduardo Biazus e Alex Nascimento no miolo de zaga; Tauã e Hudson como volantes; Cristiano com a camisa 10; na frente, Jajá Silva, Renan Peixoto e Maceió.
Até os 25 minutos do primeiro tempo, a partida estava relativamente equilibrada, mas com a Portuguesa criando chances de perigo. Aos 4, com Jajá e, no rebote, Cristiano. Aos 12, outra com Jajá. E, aos 25, com uma cabeçada de Eduardo Biazus.
Só que, na reposição, o Velo Clube fez ligação direta com o campo de ataque. Yuri Ferraz se aproveitou de um cochilo de Tauã e, de cabeça, deixou Jefferson Nem entrar livre no costado de Eduardo Biazus. O zagueiro viu como única opção fazer pênalti.
Velo Clube x Portuguesa
Dorival Rosa/Portuguesa
Rafael Santos ainda defendeu a cobrança de Daniel Amorim, mas os jogadores lusos estavam absolutamente desligados e despreocupados em marcar um eventual rebote. Jefferson Nem, o mesmo que sofreu a penalidade, empurrou para o gol sossegado.
Coube à Portuguesa correr atrás do prejuízo e ao Velo Clube, aos 38 minutos, retribuir o presente. Em falta cobrada por Cristiano, o goleiro Dalton deu um rebote surreal. Renan Peixoto, sempre ligado e acreditando, cutucou para dentro do gol: 1 a 1.
A torcida da Lusa foi para o intervalo com a sensação de que, com a igualdade no marcador, e o futebol apresentado até aquele cochilo defensivo, haveria o segundo tempo inteiro para tentar construir uma vitória. Era um cenário plausível.
Cauan de Almeida fez só uma mexida no intervalo, repondo uma posição: sacou o amarelado Tauã e colocou Fernando Henrique. Esperava-se, portanto, a repetição da postura daquele início de primeiro tempo. Só que a repetição foi outra.
Como já aconteceu mais de uma vez neste campeonato, a Portuguesa entrou totalmente desligada. Como que desconectada do jogo. Aos 6 minutos, Léo Campos cobrou lateral e mandou a bola na área, Daniel Amorim escorou de cabeça e Sillas marcou.
Não foi só mais um cochilo. Foi a reprise de algo que vem sendo corriqueiro. Daniel Amorim estava livre na área, sem marcação. Conseguiu se deslocar até a bola para cabecear. E, ao se deslocar, se colocar entre Alex Silva e Alex Nascimento.
Os dois, batendo cabeça, simplesmente assistiram à jogada sem nada fazerem. Eram nada menos do que sete jogadores da Lusa dentro da área, sem contar o goleiro, e só três do Velo Clube. Ainda assim, dois deles conseguiram trafegar com tranquilidade.
A sorte da Portuguesa foi que o Velo Clube não conseguiu ampliar logo em seguida, com Rafael Ribeiro, de cabeça, após cobrança de escanteio. Porque ali qualquer chance de pontuar teria ido pelos ares em menos de dez minutos de etapa final.
Velo Clube x Portuguesa
Dorival Rosa/Portuguesa
Cauan sacou o volante Hudson e colocou o meia-atacante Rildo, na tentativa de jogar a equipe para o ataque. A Lusa ao menos acordou após o gol e o susto, começou a ter mais a bola e a descer mais ao campo velista, mesmo que sem tantas chances.
Foi na base da insistência e do acreditar que o gol de empate saiu. Aos 25 minutos, mesmo marcado e sem muito espaço pela esquerda, Lucas Hipólito foi ao fundo e conseguiu cruzar. Renan Peixoto, sempre fuçador e brigador, teve o oportunismo e a confiança de se enfiar por entre os zagueiros e cabecear para o gol: 2 a 2.
Após o empate, Cauan ainda sacou o lateral esquerdo Lucas Hipólito para colocar outro, Pedro Henrique, e tirou o atacante Jajá para promover a estreia do volante Matheus Nunes. A Portuguesa até que tentou, mas já faltava pulmão e perna àquela altura.
Cristiano teve uma oportunidade aos 30 minutos, chutando da entrada da área. E o cara da noite, Renan Peixoto, quase se consagra aos 43 minutos, de calcanhar. Um pouquinho de sorte e a bola teria passado por entre as pernas do goleiro. Um pecado.
Fim de jogo. Um jogo “de seis pontos” na luta contra o rebaixamento. O alento dos dois foi não ter perdido pontos para o adversário. Mas, para o Velo, ficou a sensação de ter deixado escapar duas vezes e não matar quando podia. E, para a Lusa, ficou aquele sentimento de que a defesa compromete qualquer organização, empenho ou evolução.
Um sentimento de desperdício de chance e de pontos. Que, pelo menos, foi admitido pelo técnico Cauan de Almeida na entrevista coletiva. Ao contrário de outras vezes, o treinador se mostrou mais calmo e sóbrio, reconhecendo a necessidade de mudanças.
Alterações que já poderiam e deveriam ter acontecido. Seja de nomes, seja de disposição tática. Alex Nascimento conseguiu falhar em absolutamente todos os jogos em que atuou. Alex Silva, se não chegou à mesma marca, está bem perto disso.
Houve pouquíssimas evoluções defensivas desde o início do Paulistão. E aqui se fala de setor defensivo como um todo, sempre exposto, no mano a mano, marcando a distância. A formatação tática não mudou. No máximo, em razão das circunstâncias, mudaram os nomes. Ainda assim, sempre com os dois Alex titulares. É urgente tentar alternativas.
Uma vitória teria deixado a Portuguesa bem próxima de se livrar do risco de queda. Talvez até começar a pensar em pontos para uma eventual classificação (novamente mais graças ao regulamento do que graças a méritos próprios, há que se admitir).
Mas não. Esse empate com o Velo Clube, por ora, só mostra que a limitação técnica do elenco montado pela SAF permite um nível de competitividade baixo. Um nível, de fato, de briga pela permanência na elite estadual. A defesa tem pesado muito.
Agora virão dois jogos vitais: Inter de Limeira em casa e Água Santa fora. Mais dois concorrentes diretos. É preciso tentar resolver a vida nessas rodadas, para depois não depender de milagres contra Corinthians, São Bernardo FC ou até Noroeste.
Já passou da hora de estancar essa sangria na defesa. Já passou da hora de tentar alternativas. Já passou da hora de tratar o problema como merece. Tem custado caro, mas nas próximas rodadas pode custar tudo. Não há time ou torcida que resistam.
*Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 15 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site
Portuguesa sofreu dois gols em seis dos sete jogos que disputou neste Paulistão; 2 a 2 com o Velo Clube, com mais falhas da zaga, deixou sensação de desperdício Velo Clube e Portuguesa empatam
Palmeiras, Novorizontino, Mirassol, São Paulo, Botafogo e Velo Clube. O que esses clubes têm em comum no Paulistão? Todos marcaram dois gols na Portuguesa. Uma constatação que impressiona mais quando se nota que são seis dos sete adversários.
O único clube que enfrentou a Lusa e não balançou as redes foi a Ponte Preta, naquele que foi o mais atípico dos jogos, em que dois atletas rubro-verdes foram expulsos ainda no primeiro tempo. Talvez a única partida em que a equipe, de fato, soube se defender.
É claro, nítido e evidente o problema. Não há narrativa ou retórica capazes de contestar esses números. Há, sim, uma flagrante e enorme fragilidade defensiva, que não foi sanada, mesmo a Portuguesa já tendo ultrapassado a primeira metade do campeonato.
Nesta terça-feira (4), pela sétima rodada do Paulistão, essas mesmas falhas defensivas fizeram a Lusa deixar a cidade de Rio Claro com um empate por 2 a 2 com o Velo Clube. Aquele empate com sabor de que dava para – e precisava – ter feito mais.
O técnico Cauan de Almeida voltava a ter o lateral direito Alex Silva e o volante Fernando Henrique à disposição após cumprirem suspensão. Em relação à rodada passada, a vitória por 3 a 2 sobre o Botafogo, promoveu a entrada de só um deles.
Rafael Santos no gol; Alex Silva na lateral direita e Lucas Hipólito na esquerda; Eduardo Biazus e Alex Nascimento no miolo de zaga; Tauã e Hudson como volantes; Cristiano com a camisa 10; na frente, Jajá Silva, Renan Peixoto e Maceió.
Até os 25 minutos do primeiro tempo, a partida estava relativamente equilibrada, mas com a Portuguesa criando chances de perigo. Aos 4, com Jajá e, no rebote, Cristiano. Aos 12, outra com Jajá. E, aos 25, com uma cabeçada de Eduardo Biazus.
Só que, na reposição, o Velo Clube fez ligação direta com o campo de ataque. Yuri Ferraz se aproveitou de um cochilo de Tauã e, de cabeça, deixou Jefferson Nem entrar livre no costado de Eduardo Biazus. O zagueiro viu como única opção fazer pênalti.
Velo Clube x Portuguesa
Dorival Rosa/Portuguesa
Rafael Santos ainda defendeu a cobrança de Daniel Amorim, mas os jogadores lusos estavam absolutamente desligados e despreocupados em marcar um eventual rebote. Jefferson Nem, o mesmo que sofreu a penalidade, empurrou para o gol sossegado.
Coube à Portuguesa correr atrás do prejuízo e ao Velo Clube, aos 38 minutos, retribuir o presente. Em falta cobrada por Cristiano, o goleiro Dalton deu um rebote surreal. Renan Peixoto, sempre ligado e acreditando, cutucou para dentro do gol: 1 a 1.
A torcida da Lusa foi para o intervalo com a sensação de que, com a igualdade no marcador, e o futebol apresentado até aquele cochilo defensivo, haveria o segundo tempo inteiro para tentar construir uma vitória. Era um cenário plausível.
Cauan de Almeida fez só uma mexida no intervalo, repondo uma posição: sacou o amarelado Tauã e colocou Fernando Henrique. Esperava-se, portanto, a repetição da postura daquele início de primeiro tempo. Só que a repetição foi outra.
Como já aconteceu mais de uma vez neste campeonato, a Portuguesa entrou totalmente desligada. Como que desconectada do jogo. Aos 6 minutos, Léo Campos cobrou lateral e mandou a bola na área, Daniel Amorim escorou de cabeça e Sillas marcou.
Não foi só mais um cochilo. Foi a reprise de algo que vem sendo corriqueiro. Daniel Amorim estava livre na área, sem marcação. Conseguiu se deslocar até a bola para cabecear. E, ao se deslocar, se colocar entre Alex Silva e Alex Nascimento.
Os dois, batendo cabeça, simplesmente assistiram à jogada sem nada fazerem. Eram nada menos do que sete jogadores da Lusa dentro da área, sem contar o goleiro, e só três do Velo Clube. Ainda assim, dois deles conseguiram trafegar com tranquilidade.
A sorte da Portuguesa foi que o Velo Clube não conseguiu ampliar logo em seguida, com Rafael Ribeiro, de cabeça, após cobrança de escanteio. Porque ali qualquer chance de pontuar teria ido pelos ares em menos de dez minutos de etapa final.
Velo Clube x Portuguesa
Dorival Rosa/Portuguesa
Cauan sacou o volante Hudson e colocou o meia-atacante Rildo, na tentativa de jogar a equipe para o ataque. A Lusa ao menos acordou após o gol e o susto, começou a ter mais a bola e a descer mais ao campo velista, mesmo que sem tantas chances.
Foi na base da insistência e do acreditar que o gol de empate saiu. Aos 25 minutos, mesmo marcado e sem muito espaço pela esquerda, Lucas Hipólito foi ao fundo e conseguiu cruzar. Renan Peixoto, sempre fuçador e brigador, teve o oportunismo e a confiança de se enfiar por entre os zagueiros e cabecear para o gol: 2 a 2.
Após o empate, Cauan ainda sacou o lateral esquerdo Lucas Hipólito para colocar outro, Pedro Henrique, e tirou o atacante Jajá para promover a estreia do volante Matheus Nunes. A Portuguesa até que tentou, mas já faltava pulmão e perna àquela altura.
Cristiano teve uma oportunidade aos 30 minutos, chutando da entrada da área. E o cara da noite, Renan Peixoto, quase se consagra aos 43 minutos, de calcanhar. Um pouquinho de sorte e a bola teria passado por entre as pernas do goleiro. Um pecado.
Fim de jogo. Um jogo “de seis pontos” na luta contra o rebaixamento. O alento dos dois foi não ter perdido pontos para o adversário. Mas, para o Velo, ficou a sensação de ter deixado escapar duas vezes e não matar quando podia. E, para a Lusa, ficou aquele sentimento de que a defesa compromete qualquer organização, empenho ou evolução.
Um sentimento de desperdício de chance e de pontos. Que, pelo menos, foi admitido pelo técnico Cauan de Almeida na entrevista coletiva. Ao contrário de outras vezes, o treinador se mostrou mais calmo e sóbrio, reconhecendo a necessidade de mudanças.
Alterações que já poderiam e deveriam ter acontecido. Seja de nomes, seja de disposição tática. Alex Nascimento conseguiu falhar em absolutamente todos os jogos em que atuou. Alex Silva, se não chegou à mesma marca, está bem perto disso.
Houve pouquíssimas evoluções defensivas desde o início do Paulistão. E aqui se fala de setor defensivo como um todo, sempre exposto, no mano a mano, marcando a distância. A formatação tática não mudou. No máximo, em razão das circunstâncias, mudaram os nomes. Ainda assim, sempre com os dois Alex titulares. É urgente tentar alternativas.
Uma vitória teria deixado a Portuguesa bem próxima de se livrar do risco de queda. Talvez até começar a pensar em pontos para uma eventual classificação (novamente mais graças ao regulamento do que graças a méritos próprios, há que se admitir).
Mas não. Esse empate com o Velo Clube, por ora, só mostra que a limitação técnica do elenco montado pela SAF permite um nível de competitividade baixo. Um nível, de fato, de briga pela permanência na elite estadual. A defesa tem pesado muito.
Agora virão dois jogos vitais: Inter de Limeira em casa e Água Santa fora. Mais dois concorrentes diretos. É preciso tentar resolver a vida nessas rodadas, para depois não depender de milagres contra Corinthians, São Bernardo FC ou até Noroeste.
Já passou da hora de estancar essa sangria na defesa. Já passou da hora de tentar alternativas. Já passou da hora de tratar o problema como merece. Tem custado caro, mas nas próximas rodadas pode custar tudo. Não há time ou torcida que resistam.
*Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 15 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site
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