"As crianças são ensinadas a se virarem sozinhas", diz brasileira sobre curiosidades da vida em Quebec
Há dois anos no Canadá, a mãe de dois Mayara Cavalcante, de 35 anos, já está totalmente adaptada à nova vida. Mas não foi fácil para ela nem para a filha — as duas chegaram ao país sem falar a língua nativa. “Fiz a matrícula dela sozinha, na base da mímica”, revela Imagina conferir a previsão do tempo e se deparar com -23°C? Pois, essa é a rotina da brasileira Mayara Cavalcante, de 35 anos, que mora em Quebec, no Canadá. Lá, agora, é inverno. Época em que a paisagem é branca e as nevascas são abundantes. Mas isso não é um problema para a família, que já está completamente adaptada à vida no país.
“Aqui, pode chegar a dois anos”, diz brasileira sobre licença-maternidade no Japão
Em entrevista exclusiva à CRESCER, ela, que é mãe de Ester, 8 anos, e Luca, de apenas dois meses, contou como foi a decisão de sair do Brasil, a experiência de ter um filho tão longe da família e as principais diferenças culturais que se deparou por lá: “Vejo crianças — de 3, 4 e 5 anos — andando sozinhas, indo para as escolas sozinhas, indo brincar nos parques, nas montanhas de neve… e acho muito estranho”.
Mah Cavalcante tem dois filhos — Ester, de 8 anos, e Luca, de dois meses
Reprodução/Instagram
Taboola Recommendation
“Somos do interior de São Paulo e, no ano de 2022, meu marido, Emerson Thiago, 37 anos, ficou sabendo, por meio de um colega de trabalho, que na província de Quebec, a demanda de contratações para a área dele, que é de usinagem, estava em alta. Na época, ele já tinha formação e bastante experiência na área. Estávamos casados desde 2012, e sempre tivemos o desejo de morar fora. A oportunidade surgiu, então, decidimos fazer a tentativa.
Costumo dizer que a província de Quebec é o lado francês do Canadá. Aqui, a maioria das pessoas também aprende o inglês, mas a língua mais falada é o francês. Eu cheguei sem falar inglês ou francês e sem emprego. Meu marido já veio falando francês e empregado. Trinta dias depois, eu consegui um emprego como auxiliar de cozinha numa casa de idosos. As pessoas mais velhas são muito comunicativas e gostam de saber da vida de quem está trabalhando para eles. Eu comecei me comunicando de uma forma e de outra, primeiro em inglês, e, seis meses depois, já conseguia fazer as entrevistas sozinha, sem o auxílio do meu marido. Foi quando mudei de emprego. Hoje, trabalho na linha de produção de pães. Estamos aqui há 2 anos e três meses e já consigo me comunicar bem.
Quando chegou ao Canadá, Mah só tinha Ester, na época com 5 anos
Reprodução/Instagram
Adaptando à nova realidade
Minha filha veio com 5 anos e, eu, como mãe, acredito que quanto mais nova a criança, mais fácil a adaptação — tanto por questões de língua, pois a criança aprende muito mais rápido, quanto de vínculo e amizade. Quando chegamos, nós duas não falávamos absolutamente nada em francês. Na época, fiz a matrícula dela sozinha, na base da mímica. Quando ela começou na escola, os professores deram um celular — ela falava em português e o aplicativo traduzia para o francês. Foram cinco meses nesse processo até ela dizer para a professora que não precisava mais do celular.
A adaptação de Ester, de forma geral, foi fácil. O colegas foram muito receptivos — a abraçavam, convidavam para as festas, faziam ela se sentir parte do grupo. Hoje, ela faz aula de música, natação e estuda em período integral — das 8h30 às 15h30. O estudo é gratuito para todas as crianças a partir dos 5 anos. Se for preciso, ainda existe um serviço pago, das 6h às 8h30, para quem entra mais cedo no trabalho, e das 15h30 até o fim da tarde, para quem trabalha até mais tarde.
Além dela, tenho Luca, que nasceu há dois meses. Minha gestação foi de risco, pois tenho trombofilia. Então, necessito de um acompanhamento mais de perto, com medicações específicas. Felizmente, tive uma gestação tranquila. Nos primeiros meses, o acompanhamento foi normal, como se eu não tivesse nenhum problema. No total, fiz cerca de cinco ultrassons durante a gravidez inteira, enquanto no Brasil, foram cerca de vinte. Mas, na reta final, o acompanhamento foi mais intenso e, graças a Deus, deu tudo certo.
Em relação aos cuidados com as crianças, somos só nós dois — meu esposo e eu. Ele divide 50% das tarefas de casa comigo. Não temos rede de apoio, apenas amigos, dos quais nos aproximamos; são famílias de confiança que podemos deixar nossos filhos caso precise. Quando Luca nasceu, meu marido e eu dividimos os cuidados durante 35 dias. Depois, minha mãe veio do Brasil e nos ajudou por mais 35 dias. Ela acabou de voltar para casa e, agora, seguimos eu e ele novamente.
Aqui, a licença-maternidade pode chegar a 50 semanas e a paternidade a partir de cinco. Porém, há uma redução considerável no salário e é preciso ter um mínimo de horas trabalhadas para ter direito. Toda criança nascida na província tem direito a um valor mensal do governo, que é determinado conforme a renda dos pais. Os pequenos que nascem aqui também têm direito a cidadania canadense, mas isso não favorece ou facilita o processo imigratório dos pais.
Agora, no Quebec, é inverno
Reprodução/Instagram
Diferenças culturais
Atualmente, moramos em Thetford Mines, e aqui é tudo muito diferente. Aqui, as diferenças culturais são muitas. Desde pequenas, as crianças já são ensinadas a se virarem sozinhas na escola em diversas atividades. A criação de filhos é bem diferente. As mães são mais calmas e permissivas; vejo muitas crianças — de 3, 4 e 5 anos — andando sozinhas, indo para as escolas sozinhas, indo brincar nos parques, nas montanhas de neve… e acho muito estranho. Estamos aqui há dois anos, e minha filha não vai sair sozinha tão cedo. Então, para mim, isso é algo muito diferente.
É normal ver crianças andando sozinhas
Reprodução/Instagram
Elas estão muito acostumadas a brincar na rua sem a supervisão dos pais e, confesso, que ainda não acostumei. Já os adolescentes, a partir dos13 anos, já começam a trabalhar meio período. Então, vimos muito jovens com poder de compra. Eles costumam trabalhar, principalmente, nas férias de verão, que é um período de quase três meses. Aqui, você também encontra pessoas de todos os lugares do mundo.
Aprendemos muito sobre diferentes culturas — somos rodeados de filipinos, marroquinos, mexicanos, pessoas que vieram da França… é muito gostoso poder aprender, observar as diferenças culturais entre as pessoas e, consequentemente, todos os imigrantes se respeitam e aceitam os costumes uns dos outros. Um hábito daqui que pretendo levar para a vida é o fato de as pessoas não entrarem com sapatos dentro das casas. Deixamos as botas de neve no tapetão, que sempre tem nas portas, e, mesmo no calor, deixamos os chinelos ali.
A alimentação também chamou nossa atenção — o tempero é mais simples e suave em comparação à culinária brasileira e as pessoas não têm o hábito de comer tanto doce. No aniversário da minha filha, convidamos os nativos e fizemos brigadeiros e beijinhos — eles acharam horrível, porque é muito doce. Outra diferença é que os avós não têm o costume de morar com os filhos. As casas de idosos são muito comuns e, mesmo os que são mais independentes, passam o dia fazendo suas atividades, mas voltam para dormir nesses locais.
Por enquanto, não temos planos de mudar de país ou voltar para o Brasil. Gostamos muito daqui, da forma como podemos criar nossos filhos. Então, ir embora, por enquanto, não faz parte dos nossos planos.”
Mah com sua família
Reprodução/Instagram
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Há dois anos no Canadá, a mãe de dois Mayara Cavalcante, de 35 anos, já está totalmente adaptada à nova vida. Mas não foi fácil para ela nem para a filha — as duas chegaram ao país sem falar a língua nativa. “Fiz a matrícula dela sozinha, na base da mímica”, revela Imagina conferir a previsão do tempo e se deparar com -23°C? Pois, essa é a rotina da brasileira Mayara Cavalcante, de 35 anos, que mora em Quebec, no Canadá. Lá, agora, é inverno. Época em que a paisagem é branca e as nevascas são abundantes. Mas isso não é um problema para a família, que já está completamente adaptada à vida no país.
“Aqui, pode chegar a dois anos”, diz brasileira sobre licença-maternidade no Japão
Em entrevista exclusiva à CRESCER, ela, que é mãe de Ester, 8 anos, e Luca, de apenas dois meses, contou como foi a decisão de sair do Brasil, a experiência de ter um filho tão longe da família e as principais diferenças culturais que se deparou por lá: “Vejo crianças — de 3, 4 e 5 anos — andando sozinhas, indo para as escolas sozinhas, indo brincar nos parques, nas montanhas de neve… e acho muito estranho”.
Mah Cavalcante tem dois filhos — Ester, de 8 anos, e Luca, de dois meses
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Taboola Recommendation
“Somos do interior de São Paulo e, no ano de 2022, meu marido, Emerson Thiago, 37 anos, ficou sabendo, por meio de um colega de trabalho, que na província de Quebec, a demanda de contratações para a área dele, que é de usinagem, estava em alta. Na época, ele já tinha formação e bastante experiência na área. Estávamos casados desde 2012, e sempre tivemos o desejo de morar fora. A oportunidade surgiu, então, decidimos fazer a tentativa.
Costumo dizer que a província de Quebec é o lado francês do Canadá. Aqui, a maioria das pessoas também aprende o inglês, mas a língua mais falada é o francês. Eu cheguei sem falar inglês ou francês e sem emprego. Meu marido já veio falando francês e empregado. Trinta dias depois, eu consegui um emprego como auxiliar de cozinha numa casa de idosos. As pessoas mais velhas são muito comunicativas e gostam de saber da vida de quem está trabalhando para eles. Eu comecei me comunicando de uma forma e de outra, primeiro em inglês, e, seis meses depois, já conseguia fazer as entrevistas sozinha, sem o auxílio do meu marido. Foi quando mudei de emprego. Hoje, trabalho na linha de produção de pães. Estamos aqui há 2 anos e três meses e já consigo me comunicar bem.
Quando chegou ao Canadá, Mah só tinha Ester, na época com 5 anos
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Adaptando à nova realidade
Minha filha veio com 5 anos e, eu, como mãe, acredito que quanto mais nova a criança, mais fácil a adaptação — tanto por questões de língua, pois a criança aprende muito mais rápido, quanto de vínculo e amizade. Quando chegamos, nós duas não falávamos absolutamente nada em francês. Na época, fiz a matrícula dela sozinha, na base da mímica. Quando ela começou na escola, os professores deram um celular — ela falava em português e o aplicativo traduzia para o francês. Foram cinco meses nesse processo até ela dizer para a professora que não precisava mais do celular.
A adaptação de Ester, de forma geral, foi fácil. O colegas foram muito receptivos — a abraçavam, convidavam para as festas, faziam ela se sentir parte do grupo. Hoje, ela faz aula de música, natação e estuda em período integral — das 8h30 às 15h30. O estudo é gratuito para todas as crianças a partir dos 5 anos. Se for preciso, ainda existe um serviço pago, das 6h às 8h30, para quem entra mais cedo no trabalho, e das 15h30 até o fim da tarde, para quem trabalha até mais tarde.
Além dela, tenho Luca, que nasceu há dois meses. Minha gestação foi de risco, pois tenho trombofilia. Então, necessito de um acompanhamento mais de perto, com medicações específicas. Felizmente, tive uma gestação tranquila. Nos primeiros meses, o acompanhamento foi normal, como se eu não tivesse nenhum problema. No total, fiz cerca de cinco ultrassons durante a gravidez inteira, enquanto no Brasil, foram cerca de vinte. Mas, na reta final, o acompanhamento foi mais intenso e, graças a Deus, deu tudo certo.
Em relação aos cuidados com as crianças, somos só nós dois — meu esposo e eu. Ele divide 50% das tarefas de casa comigo. Não temos rede de apoio, apenas amigos, dos quais nos aproximamos; são famílias de confiança que podemos deixar nossos filhos caso precise. Quando Luca nasceu, meu marido e eu dividimos os cuidados durante 35 dias. Depois, minha mãe veio do Brasil e nos ajudou por mais 35 dias. Ela acabou de voltar para casa e, agora, seguimos eu e ele novamente.
Aqui, a licença-maternidade pode chegar a 50 semanas e a paternidade a partir de cinco. Porém, há uma redução considerável no salário e é preciso ter um mínimo de horas trabalhadas para ter direito. Toda criança nascida na província tem direito a um valor mensal do governo, que é determinado conforme a renda dos pais. Os pequenos que nascem aqui também têm direito a cidadania canadense, mas isso não favorece ou facilita o processo imigratório dos pais.
Agora, no Quebec, é inverno
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Diferenças culturais
Atualmente, moramos em Thetford Mines, e aqui é tudo muito diferente. Aqui, as diferenças culturais são muitas. Desde pequenas, as crianças já são ensinadas a se virarem sozinhas na escola em diversas atividades. A criação de filhos é bem diferente. As mães são mais calmas e permissivas; vejo muitas crianças — de 3, 4 e 5 anos — andando sozinhas, indo para as escolas sozinhas, indo brincar nos parques, nas montanhas de neve… e acho muito estranho. Estamos aqui há dois anos, e minha filha não vai sair sozinha tão cedo. Então, para mim, isso é algo muito diferente.
É normal ver crianças andando sozinhas
Reprodução/Instagram
Elas estão muito acostumadas a brincar na rua sem a supervisão dos pais e, confesso, que ainda não acostumei. Já os adolescentes, a partir dos13 anos, já começam a trabalhar meio período. Então, vimos muito jovens com poder de compra. Eles costumam trabalhar, principalmente, nas férias de verão, que é um período de quase três meses. Aqui, você também encontra pessoas de todos os lugares do mundo.
Aprendemos muito sobre diferentes culturas — somos rodeados de filipinos, marroquinos, mexicanos, pessoas que vieram da França… é muito gostoso poder aprender, observar as diferenças culturais entre as pessoas e, consequentemente, todos os imigrantes se respeitam e aceitam os costumes uns dos outros. Um hábito daqui que pretendo levar para a vida é o fato de as pessoas não entrarem com sapatos dentro das casas. Deixamos as botas de neve no tapetão, que sempre tem nas portas, e, mesmo no calor, deixamos os chinelos ali.
A alimentação também chamou nossa atenção — o tempero é mais simples e suave em comparação à culinária brasileira e as pessoas não têm o hábito de comer tanto doce. No aniversário da minha filha, convidamos os nativos e fizemos brigadeiros e beijinhos — eles acharam horrível, porque é muito doce. Outra diferença é que os avós não têm o costume de morar com os filhos. As casas de idosos são muito comuns e, mesmo os que são mais independentes, passam o dia fazendo suas atividades, mas voltam para dormir nesses locais.
Por enquanto, não temos planos de mudar de país ou voltar para o Brasil. Gostamos muito daqui, da forma como podemos criar nossos filhos. Então, ir embora, por enquanto, não faz parte dos nossos planos.”
Mah com sua família
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