A maternidade traz desafios no convívio social, mas também abre possibilidades para novos laços. Veja como lidar com essa questão, que pode gerar insegurança, isolamento e o sentimento de abandono Com a vivência da maternidade, muitas mulheres acabam reconfigurando o círculo social. Amizades antigas podem perder força – e até deixar de existir – enquanto outros laços surgem. Esse é um tema delicado, que carrega frustração, dúvidas, insegurança e, muitas vezes, a percepção de abandono. E é bem importante falar sobre isso, para que cada vez mais mães vejam que não estão sozinhas – mesmo em meio ao sentimento de solidão.
Amizade entre mães
Freepik
Taboola Recommendation
Amizades antigas e novas: o diálogo cria pontes
Há quem diga que a maternidade não afasta, apenas seleciona os verdadeiros amigos. Mesmo assim, se você sente que precisa abrir o coração com alguém importante que anda meio afastado, essa certamente é uma decisão válida.
“Se essa amizade faz sentido para a mãe e ela gostaria muito de tentar se reaproximar e trazer a pessoa mais para perto, é importante que ela fale e seja muito clara. Às vezes pode parecer óbvio, mas o óbvio também precisa ser dito”, aponta Gabrielle dos Reis Vieira, psicóloga especializada em família e casais.
Ela diz que, muitas vezes, os amigos sem filhos sentem que podem atrapalhar a nova rotina da amiga que se tornou mãe. “É preciso explicar e encontrar meios, entendendo que, talvez, vocês não terão o mesmo tipo de amizade. Porque não tem como dizer que a vida da mulher continua a mesma depois da chegada de um filho”. Ou seja, entender e aceitar que a amizade de vocês pode mudar é parte importante do processo, mas o diálogo franco é muito bem-vindo para acertar os ponteiros e não alimentar mágoas.
Grupo de apoio pós-parto reúne 15 amigas com bebês na mesma época
Feito isso, também é imprescindível compreender que a manutenção de um laço de afeto é uma via de mão dupla. “Você só pode ir até certo ponto e depende também da outra pessoa para manter uma relação”, frisa Gabrielle.
Por outro lado, a psicóloga aconselha que as mães tenham paciência consigo mesmas e com seus amigos, caso um planejamento não saia como esperado. Encaixar as agendas não é algo tão simples, especialmente para mães de crianças pequenas. Não deu certo desta vez? Continue tentando.
A chegada da maternidade também pode ser um bom momento para retomar antigas amizades, com mulheres que têm filhos da mesma idade que o seu ou que se tornaram mães antes de você. E vale a pena se envolver em grupos e atividades que facilitem a interação com outras mães. Isso traz benefícios também para a criança, pois amplia a interação social com outros pequenos.
Amizades das mães podem beneficiar as crianças, diz estudo
Na escolinha, no parque, em espaços que oferecem atividades recreativas e até mesmo na sala de espera do pediatra, Gabrielle incentiva que as mães puxem assunto entre si. “Às vezes precisa ser meio ‘cara de pau’ mesmo”, defende. O bom e velho “Oi, tudo bem? Sou nova por aqui e estou precisando conhecer pessoas” pode abrir portas. A psicóloga incentiva que as mães iniciem conversas nos ambientes citados, mas lembra que interações virtuais também são válidas. Grupos de WhatsApp da escolinha ou do seu bairro, por exemplo, são propícios para isso.
CRESCER lança grupos no WhatsApp para mães
A importância da amizade entre mães
Gabrielle usa duas palavras chave para explicar a importância da amizade entre mães: acolhimento e suporte. Ela aponta que, muitas vezes, as amigas são aquele ombro necessário fora do ambiente doméstico.
Afinal, na criação de um filho, nem sempre o casal está de acordo e momentos de atrito são parte da jornada. Uma rede de apoio formada por pessoas que vivem situações semelhantes é importante e traz conforto. “Um dos grandes perigos da maternidade é quando você acaba se isolando muito”, alerta a psicóloga.
Ela também ressalta que esses laços fazem com que a mãe se lembre de que não é apenas mãe. “A maternidade é muito bacana, mas cansa. É natural. Esse é um trabalho de 24h, sem férias”. Um olhar de fora, vindo de alguém da sua confiança, pode ser determinante para que você enxergue quando está sobrecarregada ou para que problemas cotidianos não passem a ser interpretados como maiores do que realmente são.
Sobrecarregadas, mães solo enfrentam transtornos de saúde mental
Como saber se estou me isolando demais?
Qual foi a última vez que você realmente se olhou no espelho? Gabrielle diz que essa é uma boa pergunta a ser feita para mães que podem estar passando por um período de isolamento, com sobrecarga e falta de autocuidado. Ela aponta que é essencial que a mulher reflita sobre o tempo que tem para tomar banho com tranquilidade, por exemplo.
Ao voltar os olhos para esses pequenos momentos do cotidiano, é possível que a mãe se dê conta de que as coisas não vão bem. A psicóloga enfatiza que a questão do autocuidado não tem a ver com estar maquiada ou se preocupar demasiadamente com a forma física, mas, sim, com o ato diário de olhar para si mesma e dar importância ao próprio bem-estar.
Como o autocuidado pode ajudar você a ser um pai ou mãe melhor
Você está deixando de fazer coisas e de frequentar lugares por causa da interação social? Esse é outro questionamento fundamental que Gabrielle destaca. Se a resposta for afirmativa, vale a pena refletir sobre o isolamento. “Uma coisa é evitar alguém específico, mas se você começa a fazer isso com várias pessoas, é um sinal de alerta”, afirma.
A psicóloga ainda chama a atenção para casos em que a mãe passa a desaprovar as atitudes de todas as pessoas com quem convive. “Das dez coisas que aquela pessoa fez hoje, se eu acho que nenhuma está boa, devo refletir”, aponta. Isso é comum de acontecer em relação ao parceiro ou parceira e com as avós da criança, por exemplo. “Nesse ponto, as amizades também são importantes. Porque geralmente quem percebe isso não é a mãe, são as pessoas que estão em volta dela”.
Como não odiar o seu marido depois de ter filhos?
Você não é apenas mãe – e está tudo bem!
É muito bacana encontrar mães com as quais você possa fazer atividades envolvendo as crianças e falar dos assuntos inerentes à maternidade. Mas também é importante ter momentos de convívio social sem a presença dos filhos.
Se a agenda está muito cheia, que tal tentar conciliar o horário da academia com alguma amiga, por exemplo? Ou até mesmo uma ida ao supermercado, enquanto a criança está aos cuidados de outra pessoa?
Sejamos realistas, aquela noite de drinks com as amigas não vai mais ter a mesma frequência de antes, mas isso não significa que um programa assim tenha que ser deletado da sua vida.
“É importante lembrar que as coisas continuam acontecendo e que isso também preenche a sua vida. Assim, você se sente uma pessoa mais interessante e feliz. E aí você volta mais completa para casa e para a sua maternidade”, pontua Gabrielle.
Por fim, é sempre bom lembrar: não se sinta culpada por precisar de um tempo para si – seja sozinha ou com as amigas. E peça ajuda à sua rede de apoio sempre que necessário. O seu bem-estar importa!
Amigas ficam grávidas ao mesmo tempo pela terceira vez e coincidência viraliza
A seguir, veja os relatos de algumas mães sobre o tema:
Thais Holanda, mãe da Isabella, de 3 anos
“Realmente, as amizades se ajustam depois da maternidade. Fazemos novos amigos, ficamos mais perto de pessoas que têm filhos (menores, da mesma idade e maiores) – para ser e buscar referência. Eu valorizei ainda mais a minha mãe, olhando para o tempo que ela dedicou durante a minha infância e da minha irmã.
Consegui cultivar amizades sem filhos, que se adequaram para estar com a gente em rolês mais tranquilos durante um tempo. Também há outros rolês que faço sem a Bella, pra lembrar que tenho mais papeis além da maternidade.”
Melhores amigas decidem dividir uma casa e criar os filhos juntas
Danielle Marangon, mãe do Lucca, de 3 anos
“A maioria das minhas amigas está no mesmo momento da maternidade que eu e isso fortaleceu nossos laços. Tenho amigas que antes eu via três vezes ao ano e hoje a gente se encontra uma vez por mês para que as crianças brinquem juntas.
As poucas amizades sem filhos também têm um papel importante, pois são meu escape. Com elas eu saio para jantar e falar sobre qualquer coisa, menos maternidade. Isso me ajuda muito.
Além disso, ter uma rede de apoio é ótimo para que você possa aproveitar um momento a sós com seu companheiro ou apenas com suas amigas.”
Filhos de melhores amigas se conhecem na infância e se casam 20 anos depois
Paula Roese Mesquita, mãe da Cora, de 2 anos
“Moro na Suécia e aqui é comum as mães tirarem um ano de licença maternidade. Vemos vários grupos de mães em lugares públicos e, entre as estrangeiras em licença, há bastante interação para iniciar amizades. Isso aconteceu comigo e foi uma experiência um tanto quanto curiosa.
Na clínica médica, quando eu estava grávida, uma gestante puxou papo comigo em inglês e, por coincidência, era brasileira também. Viramos amigas e ela me apresentou para outra brasileira grávida. Hoje, nos falamos praticamente todos os dias e elas são meu suporte emocional.
As duas se tornaram essenciais no meu processo de gravidez e, principalmente, de maternidade. Não sei como seria sem elas!”
A maternidade traz desafios no convívio social, mas também abre possibilidades para novos laços. Veja como lidar com essa questão, que pode gerar insegurança, isolamento e o sentimento de abandono Com a vivência da maternidade, muitas mulheres acabam reconfigurando o círculo social. Amizades antigas podem perder força – e até deixar de existir – enquanto outros laços surgem. Esse é um tema delicado, que carrega frustração, dúvidas, insegurança e, muitas vezes, a percepção de abandono. E é bem importante falar sobre isso, para que cada vez mais mães vejam que não estão sozinhas – mesmo em meio ao sentimento de solidão.
Amizade entre mães
Freepik
Taboola Recommendation
Amizades antigas e novas: o diálogo cria pontes
Há quem diga que a maternidade não afasta, apenas seleciona os verdadeiros amigos. Mesmo assim, se você sente que precisa abrir o coração com alguém importante que anda meio afastado, essa certamente é uma decisão válida.
“Se essa amizade faz sentido para a mãe e ela gostaria muito de tentar se reaproximar e trazer a pessoa mais para perto, é importante que ela fale e seja muito clara. Às vezes pode parecer óbvio, mas o óbvio também precisa ser dito”, aponta Gabrielle dos Reis Vieira, psicóloga especializada em família e casais.
Ela diz que, muitas vezes, os amigos sem filhos sentem que podem atrapalhar a nova rotina da amiga que se tornou mãe. “É preciso explicar e encontrar meios, entendendo que, talvez, vocês não terão o mesmo tipo de amizade. Porque não tem como dizer que a vida da mulher continua a mesma depois da chegada de um filho”. Ou seja, entender e aceitar que a amizade de vocês pode mudar é parte importante do processo, mas o diálogo franco é muito bem-vindo para acertar os ponteiros e não alimentar mágoas.
Grupo de apoio pós-parto reúne 15 amigas com bebês na mesma época
Feito isso, também é imprescindível compreender que a manutenção de um laço de afeto é uma via de mão dupla. “Você só pode ir até certo ponto e depende também da outra pessoa para manter uma relação”, frisa Gabrielle.
Por outro lado, a psicóloga aconselha que as mães tenham paciência consigo mesmas e com seus amigos, caso um planejamento não saia como esperado. Encaixar as agendas não é algo tão simples, especialmente para mães de crianças pequenas. Não deu certo desta vez? Continue tentando.
A chegada da maternidade também pode ser um bom momento para retomar antigas amizades, com mulheres que têm filhos da mesma idade que o seu ou que se tornaram mães antes de você. E vale a pena se envolver em grupos e atividades que facilitem a interação com outras mães. Isso traz benefícios também para a criança, pois amplia a interação social com outros pequenos.
Amizades das mães podem beneficiar as crianças, diz estudo
Na escolinha, no parque, em espaços que oferecem atividades recreativas e até mesmo na sala de espera do pediatra, Gabrielle incentiva que as mães puxem assunto entre si. “Às vezes precisa ser meio ‘cara de pau’ mesmo”, defende. O bom e velho “Oi, tudo bem? Sou nova por aqui e estou precisando conhecer pessoas” pode abrir portas. A psicóloga incentiva que as mães iniciem conversas nos ambientes citados, mas lembra que interações virtuais também são válidas. Grupos de WhatsApp da escolinha ou do seu bairro, por exemplo, são propícios para isso.
CRESCER lança grupos no WhatsApp para mães
A importância da amizade entre mães
Gabrielle usa duas palavras chave para explicar a importância da amizade entre mães: acolhimento e suporte. Ela aponta que, muitas vezes, as amigas são aquele ombro necessário fora do ambiente doméstico.
Afinal, na criação de um filho, nem sempre o casal está de acordo e momentos de atrito são parte da jornada. Uma rede de apoio formada por pessoas que vivem situações semelhantes é importante e traz conforto. “Um dos grandes perigos da maternidade é quando você acaba se isolando muito”, alerta a psicóloga.
Ela também ressalta que esses laços fazem com que a mãe se lembre de que não é apenas mãe. “A maternidade é muito bacana, mas cansa. É natural. Esse é um trabalho de 24h, sem férias”. Um olhar de fora, vindo de alguém da sua confiança, pode ser determinante para que você enxergue quando está sobrecarregada ou para que problemas cotidianos não passem a ser interpretados como maiores do que realmente são.
Sobrecarregadas, mães solo enfrentam transtornos de saúde mental
Como saber se estou me isolando demais?
Qual foi a última vez que você realmente se olhou no espelho? Gabrielle diz que essa é uma boa pergunta a ser feita para mães que podem estar passando por um período de isolamento, com sobrecarga e falta de autocuidado. Ela aponta que é essencial que a mulher reflita sobre o tempo que tem para tomar banho com tranquilidade, por exemplo.
Ao voltar os olhos para esses pequenos momentos do cotidiano, é possível que a mãe se dê conta de que as coisas não vão bem. A psicóloga enfatiza que a questão do autocuidado não tem a ver com estar maquiada ou se preocupar demasiadamente com a forma física, mas, sim, com o ato diário de olhar para si mesma e dar importância ao próprio bem-estar.
Como o autocuidado pode ajudar você a ser um pai ou mãe melhor
Você está deixando de fazer coisas e de frequentar lugares por causa da interação social? Esse é outro questionamento fundamental que Gabrielle destaca. Se a resposta for afirmativa, vale a pena refletir sobre o isolamento. “Uma coisa é evitar alguém específico, mas se você começa a fazer isso com várias pessoas, é um sinal de alerta”, afirma.
A psicóloga ainda chama a atenção para casos em que a mãe passa a desaprovar as atitudes de todas as pessoas com quem convive. “Das dez coisas que aquela pessoa fez hoje, se eu acho que nenhuma está boa, devo refletir”, aponta. Isso é comum de acontecer em relação ao parceiro ou parceira e com as avós da criança, por exemplo. “Nesse ponto, as amizades também são importantes. Porque geralmente quem percebe isso não é a mãe, são as pessoas que estão em volta dela”.
Como não odiar o seu marido depois de ter filhos?
Você não é apenas mãe – e está tudo bem!
É muito bacana encontrar mães com as quais você possa fazer atividades envolvendo as crianças e falar dos assuntos inerentes à maternidade. Mas também é importante ter momentos de convívio social sem a presença dos filhos.
Se a agenda está muito cheia, que tal tentar conciliar o horário da academia com alguma amiga, por exemplo? Ou até mesmo uma ida ao supermercado, enquanto a criança está aos cuidados de outra pessoa?
Sejamos realistas, aquela noite de drinks com as amigas não vai mais ter a mesma frequência de antes, mas isso não significa que um programa assim tenha que ser deletado da sua vida.
“É importante lembrar que as coisas continuam acontecendo e que isso também preenche a sua vida. Assim, você se sente uma pessoa mais interessante e feliz. E aí você volta mais completa para casa e para a sua maternidade”, pontua Gabrielle.
Por fim, é sempre bom lembrar: não se sinta culpada por precisar de um tempo para si – seja sozinha ou com as amigas. E peça ajuda à sua rede de apoio sempre que necessário. O seu bem-estar importa!
Amigas ficam grávidas ao mesmo tempo pela terceira vez e coincidência viraliza
A seguir, veja os relatos de algumas mães sobre o tema:
Thais Holanda, mãe da Isabella, de 3 anos
“Realmente, as amizades se ajustam depois da maternidade. Fazemos novos amigos, ficamos mais perto de pessoas que têm filhos (menores, da mesma idade e maiores) – para ser e buscar referência. Eu valorizei ainda mais a minha mãe, olhando para o tempo que ela dedicou durante a minha infância e da minha irmã.
Consegui cultivar amizades sem filhos, que se adequaram para estar com a gente em rolês mais tranquilos durante um tempo. Também há outros rolês que faço sem a Bella, pra lembrar que tenho mais papeis além da maternidade.”
Melhores amigas decidem dividir uma casa e criar os filhos juntas
Danielle Marangon, mãe do Lucca, de 3 anos
“A maioria das minhas amigas está no mesmo momento da maternidade que eu e isso fortaleceu nossos laços. Tenho amigas que antes eu via três vezes ao ano e hoje a gente se encontra uma vez por mês para que as crianças brinquem juntas.
As poucas amizades sem filhos também têm um papel importante, pois são meu escape. Com elas eu saio para jantar e falar sobre qualquer coisa, menos maternidade. Isso me ajuda muito.
Além disso, ter uma rede de apoio é ótimo para que você possa aproveitar um momento a sós com seu companheiro ou apenas com suas amigas.”
Filhos de melhores amigas se conhecem na infância e se casam 20 anos depois
Paula Roese Mesquita, mãe da Cora, de 2 anos
“Moro na Suécia e aqui é comum as mães tirarem um ano de licença maternidade. Vemos vários grupos de mães em lugares públicos e, entre as estrangeiras em licença, há bastante interação para iniciar amizades. Isso aconteceu comigo e foi uma experiência um tanto quanto curiosa.
Na clínica médica, quando eu estava grávida, uma gestante puxou papo comigo em inglês e, por coincidência, era brasileira também. Viramos amigas e ela me apresentou para outra brasileira grávida. Hoje, nos falamos praticamente todos os dias e elas são meu suporte emocional.
As duas se tornaram essenciais no meu processo de gravidez e, principalmente, de maternidade. Não sei como seria sem elas!”