O brasileiro Phelipe de Moura Ferreira mostrou marcas de violência ao relatar episódios de espancamentos enquanto tentava escapar da máfia chinesa em Mianmar, no Sudeste Asiático. Com os braços e as pernas roxos devido aos golpes, ele contou que foi agredido pelo menos 20 vezes durante os meses em que foi mantido refém em um esquema de tráfico humano.
Durante esse período, o jovem também enfrentou torturas, incluindo sessões de agachamentos forçados sobre uma base cheia de pregos, por não conseguir atingir a meta financeira diária exigida pelos criminosos: “Recebi três punições. A primeira foi fazer 100 agachamentos numa espécie de plataforma que tinha tipo pregos. Depois tive que fazer 300 agachamentos e na terceira 500”.
A fuga aconteceu na madrugada de domingo, 9 de fevereiro, quando Phelipe e outros 85 fugitivos, incluindo o brasileiro Luckas Viana, conseguiram escapar do cativeiro localizado no Triângulo de Ouro, uma área de fronteira entre a Tailândia, Laos e Mianmar. Phelipe revelou que, ao tentar fugir, escalou quatro montes de areia, mas os guardas do local o perseguiram, armados com machados e facões. Após a primeira fuga não ter dado certo, Phelipe foi levado para uma base militar, onde foi novamente agredido. Ele contou que teve suas mãos amarradas em uma beliche, momento em que sofreu mais uma série de espancamentos.

“Amarraram minha mão para trás na beliche e o chefe e o líder de equipe entrou dentro do quarto e espancou todo mundo. Acho que a gente foi espancado umas 20 vezes. Depois desse espancamento, eles continuaram entrando nesse alojamento, mas pararam de nos espancar. Depois disso, o grupo Karen disse que tentaria entrar em contato com os países de cada vítima para nos ajudar”, contou.
A segunda fuga só foi possível após um esforço conjunto da ONG Exodus Road Brasil, que atua no resgate de brasileiros nessa região, e do Exército Budista Democrático Karen (DKBA), grupo armado de dissidentes das Forças Armadas local.
Em vídeo, o brasileiro disse que era obrigado a se passar por uma modelo chinesa para aplicar golpes. As vítimas, especialmente brasileiras, eram atraídas por meio do Instagram e WhatsApp.


Ao chegar ao alojamento onde os trabalhos forçados eram realizados, Phelipe foi obrigado a passar quatro dias escrevendo um roteiro para uma falsa modelo. Sob pressão, ele inventou uma história de que ela era chinesa e morava em Bangkok. As vítimas eram atraídas por meio de uma plataforma de golpistas, onde os clientes eram induzidos a realizar tarefas financeiras.
“Eles [os criminosos] falaram que eu ficaria quatro dias escrevendo o scrip da modelo que ia usar para aplicar golpes nas pessoas. Todo dia eles torturaram pessoas. Colocavam música chinesa muito alta e levavam as pessoas para uma sala do RH, onde eram espancadas. Eu tinha meta para bater. A primeira foi de US$ 5 mil e antes da fuga estava em US$ 10 mil”, relatou.
Como aconteceu a fuga
Phelipe Ferreira avisou ao pai que tentaria escapar no fim de semana. Por mensagens enviadas, ele detalhou o plano: atravessar um rio com outras 85 pessoas e correr por dois quilômetros. Ele pediu orações e se despediu, caso algo desse errado. Veja:

Após a fuga, os dois foram levados para um centro de detenção em Mianmar e, em seguida, transferidos para a Tailândia. Lá, deverão aguardar por cerca de 15 dias, enquanto as autoridades verificam se são realmente vítimas do tráfico. Após esse período, serão liberados.
Antônio Carlos Ferreira, pai de Phelipe, contou que o filho conseguiu enviar mensagens por um número desconhecido, quando a máfia não o monitorava. “Ele me avisou sobre a fuga e a ONG também. Estávamos só na expectativa e, graças a Deus, o meu filho foi resgatado. Estou muito feliz, muito feliz mesmo. Você não sabe o que estou sentindo neste momento”, disse Antônio ao g1.
Cíntia Meirelles, diretora da ONG The Exodus Road, explicou que a fuga foi organizada entre os reféns, que conseguiram avisar suas famílias e ativistas sem serem descobertos pelos mafiosos. A ONG estava em contato com autoridades tailandesas, negociando a liberação de 361 pessoas, e Phelipe e Luckas foram incluídos nesse resgate. De acordo com Meirelles, após a chegada à Tailândia, os dois brasileiros passarão por um processo legal em um centro de detenção e serão liberados.
“Os prisioneiros são torturados com choques, obrigados a segurar um galão de 30 litros de água por horas. Muitos têm a alimentação restringida e trabalham de 18 a 20 horas por dia”, relatou Cíntia, ao O Globo.
Relembre o caso
Em outubro de 2024, os brasileiros Luckas Viana dos Santos e Phelipe de Moura Pereira, se tornaram vítima de tráfico humano em Mianmar, após aceitar uma proposta de emprego internacional. Ele foi sequestrado rumo a uma “fábrica de golpes” no país asiático. Phelipe contou que tinha uma rotina de mais de 15 horas de trabalho forçado, sob ameaças e castigos.
“Compartilhe fotos minhas em todas as redes sociais, minha vida corre perigo. Fale a todos o que aconteceu, todos precisam saber”, escreveu Phelipe. Em outra mensagem, ele contou que foi punido com choques, após descobrirem um de seus pedidos de socorro: “Só quero ir embora. Me ajude, tenho muito medo de morrer. Fazem dois dias que não tomo banho. Nós trabalhamos mais de 15 horas por dia. Isso não é vida, não sei o que fazer. Eu quero ir embora ou morrer”.


“Eles vão tirar nossos órgãos. Como ficar calmo assim?”, escreveu Phelipe ao pai. Antônio revelou que o filho implorava para que o resgate chegasse logo, no entanto, ele se sentia “impotente” diante da falta de informações sobre o que estava sendo feito por parte das autoridades brasileiras e locais. Phelipe ainda contou à Antônio que acreditava que ele e Luckas seriam vendidos: “Eles tiraram umas fotos nossas. Acho que vão vender a gente”.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques
O brasileiro Phelipe de Moura Ferreira mostrou marcas de violência ao relatar episódios de espancamentos enquanto tentava escapar da máfia chinesa em Mianmar, no Sudeste Asiático. Com os braços e as pernas roxos devido aos golpes, ele contou que foi agredido pelo menos 20 vezes durante os meses em que foi mantido refém em um esquema de tráfico humano.
Durante esse período, o jovem também enfrentou torturas, incluindo sessões de agachamentos forçados sobre uma base cheia de pregos, por não conseguir atingir a meta financeira diária exigida pelos criminosos: “Recebi três punições. A primeira foi fazer 100 agachamentos numa espécie de plataforma que tinha tipo pregos. Depois tive que fazer 300 agachamentos e na terceira 500”.
A fuga aconteceu na madrugada de domingo, 9 de fevereiro, quando Phelipe e outros 85 fugitivos, incluindo o brasileiro Luckas Viana, conseguiram escapar do cativeiro localizado no Triângulo de Ouro, uma área de fronteira entre a Tailândia, Laos e Mianmar. Phelipe revelou que, ao tentar fugir, escalou quatro montes de areia, mas os guardas do local o perseguiram, armados com machados e facões. Após a primeira fuga não ter dado certo, Phelipe foi levado para uma base militar, onde foi novamente agredido. Ele contou que teve suas mãos amarradas em uma beliche, momento em que sofreu mais uma série de espancamentos.

“Amarraram minha mão para trás na beliche e o chefe e o líder de equipe entrou dentro do quarto e espancou todo mundo. Acho que a gente foi espancado umas 20 vezes. Depois desse espancamento, eles continuaram entrando nesse alojamento, mas pararam de nos espancar. Depois disso, o grupo Karen disse que tentaria entrar em contato com os países de cada vítima para nos ajudar”, contou.
A segunda fuga só foi possível após um esforço conjunto da ONG Exodus Road Brasil, que atua no resgate de brasileiros nessa região, e do Exército Budista Democrático Karen (DKBA), grupo armado de dissidentes das Forças Armadas local.
Em vídeo, o brasileiro disse que era obrigado a se passar por uma modelo chinesa para aplicar golpes. As vítimas, especialmente brasileiras, eram atraídas por meio do Instagram e WhatsApp.


Ao chegar ao alojamento onde os trabalhos forçados eram realizados, Phelipe foi obrigado a passar quatro dias escrevendo um roteiro para uma falsa modelo. Sob pressão, ele inventou uma história de que ela era chinesa e morava em Bangkok. As vítimas eram atraídas por meio de uma plataforma de golpistas, onde os clientes eram induzidos a realizar tarefas financeiras.
“Eles [os criminosos] falaram que eu ficaria quatro dias escrevendo o scrip da modelo que ia usar para aplicar golpes nas pessoas. Todo dia eles torturaram pessoas. Colocavam música chinesa muito alta e levavam as pessoas para uma sala do RH, onde eram espancadas. Eu tinha meta para bater. A primeira foi de US$ 5 mil e antes da fuga estava em US$ 10 mil”, relatou.
Como aconteceu a fuga
Phelipe Ferreira avisou ao pai que tentaria escapar no fim de semana. Por mensagens enviadas, ele detalhou o plano: atravessar um rio com outras 85 pessoas e correr por dois quilômetros. Ele pediu orações e se despediu, caso algo desse errado. Veja:

Após a fuga, os dois foram levados para um centro de detenção em Mianmar e, em seguida, transferidos para a Tailândia. Lá, deverão aguardar por cerca de 15 dias, enquanto as autoridades verificam se são realmente vítimas do tráfico. Após esse período, serão liberados.
Antônio Carlos Ferreira, pai de Phelipe, contou que o filho conseguiu enviar mensagens por um número desconhecido, quando a máfia não o monitorava. “Ele me avisou sobre a fuga e a ONG também. Estávamos só na expectativa e, graças a Deus, o meu filho foi resgatado. Estou muito feliz, muito feliz mesmo. Você não sabe o que estou sentindo neste momento”, disse Antônio ao g1.
Cíntia Meirelles, diretora da ONG The Exodus Road, explicou que a fuga foi organizada entre os reféns, que conseguiram avisar suas famílias e ativistas sem serem descobertos pelos mafiosos. A ONG estava em contato com autoridades tailandesas, negociando a liberação de 361 pessoas, e Phelipe e Luckas foram incluídos nesse resgate. De acordo com Meirelles, após a chegada à Tailândia, os dois brasileiros passarão por um processo legal em um centro de detenção e serão liberados.
“Os prisioneiros são torturados com choques, obrigados a segurar um galão de 30 litros de água por horas. Muitos têm a alimentação restringida e trabalham de 18 a 20 horas por dia”, relatou Cíntia, ao O Globo.
Relembre o caso
Em outubro de 2024, os brasileiros Luckas Viana dos Santos e Phelipe de Moura Pereira, se tornaram vítima de tráfico humano em Mianmar, após aceitar uma proposta de emprego internacional. Ele foi sequestrado rumo a uma “fábrica de golpes” no país asiático. Phelipe contou que tinha uma rotina de mais de 15 horas de trabalho forçado, sob ameaças e castigos.
“Compartilhe fotos minhas em todas as redes sociais, minha vida corre perigo. Fale a todos o que aconteceu, todos precisam saber”, escreveu Phelipe. Em outra mensagem, ele contou que foi punido com choques, após descobrirem um de seus pedidos de socorro: “Só quero ir embora. Me ajude, tenho muito medo de morrer. Fazem dois dias que não tomo banho. Nós trabalhamos mais de 15 horas por dia. Isso não é vida, não sei o que fazer. Eu quero ir embora ou morrer”.


“Eles vão tirar nossos órgãos. Como ficar calmo assim?”, escreveu Phelipe ao pai. Antônio revelou que o filho implorava para que o resgate chegasse logo, no entanto, ele se sentia “impotente” diante da falta de informações sobre o que estava sendo feito por parte das autoridades brasileiras e locais. Phelipe ainda contou à Antônio que acreditava que ele e Luckas seriam vendidos: “Eles tiraram umas fotos nossas. Acho que vão vender a gente”.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques