VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem




Prefeitura afirma que a baixa adesão dos usuários foi um dos fatores para a desativação do modal. VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
Quem olha para Campinas (SP) sem a conhecer a fundo, pode até pensar que os meios de transporte sob trilhos fazem parte apenas do futuro da cidade. Porém, a história da metrópole com os vagões começou muito antes do Trem Intercidades.
🚈 Com 7,9 km de extensão por oito estações, um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) circulou por Campinas entre 1990 e 1995. Apesar de ter sido o 1º do país, de acordo com a Prefeitura, o sistema nunca alcançou o esperado em relação ao desempenho e ao número de usuários.
Após 30 anos da sua última viagem, nesta segunda-feira (17), especialistas explicaram ao g1 quais erros do projeto contribuíram para a desativação precoce. Hipóteses vão das estações em locais de baixa densidade demográfica, até a falta de integração com terminais de ônibus.
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VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
A construção do VLT foi executada pelo Governo do Estado de São Paulo e pela Prefeitura, em parceria com a empresa ferroviária estatal Fepasa. A linha englobou as estações:
Central, Barão de Itapura, Aurélia, Vila Teixeira (feitas na primeira etapa do projeto);
e Parque Industrial, Anhanguera, Pompéia e Campos Elíseos (inauguradas em 1993).
O trajeto contou com oito pontos de embarque e desembarque, mas o plano inicial era que fossem 11. O transporte foi desativado antes que as paradas no Curtume, em Joaquim Villac e no Bonfim fossem entregues.
👫 Ainda conforme a Prefeitura, o modal não conseguiu atingir o número de passageiros esperado. Com a capacidade de transportar até 75 mil pessoas, e com a demanda estimada em 20 mil passageiros diários, o sistema não ultrapassou quatro mil usuários por dia.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
💍 Planejamento casado entre solo e o transporte
A construção do VLT reutilizou a antiga malha ferroviária de um trem que passava na região. Naquele momento, o trilho estava obsoleto e sem usabilidade.
Vanessa Bello, professora de arquitetura da PUC-Campinas com especialidade em modais, define que foi “muito importante Campinas ser pioneira” na implementação do modal no Brasil, e que a reutilização da linha férrea foi uma “iniciativa inovadora para época”.
Apesar disso, afirma que a localidade das estações foi determinante para a baixa adesão da população.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
“O trecho da ferrovia [que foi adaptada para o VLT] era um trecho pouco habitado do ponto de vista de densidade residencial. Eram trechos ainda que tinham muitos vazios urbanos ao longo dele, próximo das estações, tinha muito uso industrial. Muitas estações desse trecho foram encaixadas na topografia”, explica Vanessa.
📝A professora avalia que o projeto falhou em não considerar a ligação de origem e destino do usuário para definir a localidade de cada estação. Os pontos de embarque e desembarque foram encaixados dentro do trajeto que a antiga linha.
“Faltou chegar ligar origem destino e ao longo das principais estações. Por isso, tem que fazer um planejamento casado entre o uso do solo e o transporte”, finaliza.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
🚌 Integração com terminais de ônibus
Nenhuma das oito estações fazia integração com algum terminal ou linha de ônibus. Diogenes Contijo, ex-diretor do departamento de estudos e projetos especiais da Fepasa, atuou no VLT entre 1990 e 1992. Ele afirma que, sem a vinculação com outro transporte local, “ele ia morrer mesmo”.
“[Ele não teve adesão] exatamente porque não era alimentado por um sistema circular de ônibus urbanos. Não houve essa integração. Se não há essa integração, ele vai morrer mesmo. Não terá demanda”, diz.
De acordo com Diogenes, a integração chegou a ser prevista e sugerida, mas nunca saiu do papel. “A prefeitura deveria ter feito um plano de integração com do sistema de ônibus junto às estações para ter a demanda suficiente para manter o sistema operacional”.
Ele reitera que a implementação do modal deve ser conjunta com uma facilidade e um estímulo para que a população passe a utilizá-lo, como bolsões de estacionamento de carros de passeio.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
🚗 Cultura das rodas e das rodovias
“É uma pena, Campinas poderia ter um modelo de transporte sob trilhos avançado e sofisticado”, confessa Diógenes ao expor que percebe um desinteresse em relação aos modais sob trilhos.
♻️ Assim como o caminho do VLT utilizou os trilhos de outro projeto, alguns trechos do seu leito foram reciclados. Pavimentados, eles foram adaptados como parte dos corredores do BRT Campo Grande e BRT Perimetral.
Vanessa lamenta que os transportes sob os trilhos não façam parte da vida da população, atualmente.
“Nós temos a região de Campinas em 3 milhões de pessoas, [o total] da população do Uruguai. Nós temos uma macro metrópole paulista com 30 milhões de pessoas, [o total da] população do Canadá. E nós não temos trem ligando […] Para mim, esse é o retrato do subdesenvolvimento”, afirma a professora Vanessa.
A professora também afirma que os trens oferecem menos riscos a vida que uma rodovia, e também dão maior qualidade de vida a população. “Manter um carro é um gasto excessivo com manutenção, com pedágio, com gasolina, com etanol, né? Então assim, essa classe média podia estar gastando esse dinheiro na qualidade de vida com outras coisas”
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
🤔 O que é um VLT?
O Veículo Leve sobre Trilhos, conhecido pela sigla VLT, é um transporte sob trilhos que funciona em um trajeto segregado, assim como um BRT e um metrô. Sob trilhos e ao nível da rua, ele foi pensado para transportar passageiros em uma viagem mais contínua e rápida, sem precisar parar em semáforos e enfrentar o trânsito.
Apesar da semelhança, o modal é diferente de um trem, que geralmente carrega consigo muitos vagões. Como o próprio nome já diz, ele tem a proposta de ser mais leve.
Campinas foi a primeira cidade a ter um exemplar, mas não foi a última. Após a experiência campineira, cidades como Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE) implementaram o modelo em suas ruas.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
VLT Campinas-Sumaré
A experiência de 1990 não será a última. O governo de São Paulo anunciou em março de 2024 a qualificação de um projeto implantar um novo VLT entre Campinas e Sumaré (SP). Com um trajeto completamente diferente, ele terá dois ramais
um de 22 quilômetros de extensão ligando Campinas, Hortolândia e Sumaré
outro de 22,4 km entre o Centro da metrópole e o Aeroporto de Viracopos, com ligação direta à estação do futuro trem intercidades
Os investimentos previstos são de R$ 2,6 bilhões, mas não há prazo para implantação.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
*Estagiária sob supervisão de Fernando Evans e Yasmin Castro.
VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e Região
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Prefeitura afirma que a baixa adesão dos usuários foi um dos fatores para a desativação do modal. VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
Quem olha para Campinas (SP) sem a conhecer a fundo, pode até pensar que os meios de transporte sob trilhos fazem parte apenas do futuro da cidade. Porém, a história da metrópole com os vagões começou muito antes do Trem Intercidades.
🚈 Com 7,9 km de extensão por oito estações, um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) circulou por Campinas entre 1990 e 1995. Apesar de ter sido o 1º do país, de acordo com a Prefeitura, o sistema nunca alcançou o esperado em relação ao desempenho e ao número de usuários.
Após 30 anos da sua última viagem, nesta segunda-feira (17), especialistas explicaram ao g1 quais erros do projeto contribuíram para a desativação precoce. Hipóteses vão das estações em locais de baixa densidade demográfica, até a falta de integração com terminais de ônibus.
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A construção do VLT foi executada pelo Governo do Estado de São Paulo e pela Prefeitura, em parceria com a empresa ferroviária estatal Fepasa. A linha englobou as estações:
Central, Barão de Itapura, Aurélia, Vila Teixeira (feitas na primeira etapa do projeto);
e Parque Industrial, Anhanguera, Pompéia e Campos Elíseos (inauguradas em 1993).
O trajeto contou com oito pontos de embarque e desembarque, mas o plano inicial era que fossem 11. O transporte foi desativado antes que as paradas no Curtume, em Joaquim Villac e no Bonfim fossem entregues.
👫 Ainda conforme a Prefeitura, o modal não conseguiu atingir o número de passageiros esperado. Com a capacidade de transportar até 75 mil pessoas, e com a demanda estimada em 20 mil passageiros diários, o sistema não ultrapassou quatro mil usuários por dia.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
💍 Planejamento casado entre solo e o transporte
A construção do VLT reutilizou a antiga malha ferroviária de um trem que passava na região. Naquele momento, o trilho estava obsoleto e sem usabilidade.
Vanessa Bello, professora de arquitetura da PUC-Campinas com especialidade em modais, define que foi “muito importante Campinas ser pioneira” na implementação do modal no Brasil, e que a reutilização da linha férrea foi uma “iniciativa inovadora para época”.
Apesar disso, afirma que a localidade das estações foi determinante para a baixa adesão da população.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
“O trecho da ferrovia [que foi adaptada para o VLT] era um trecho pouco habitado do ponto de vista de densidade residencial. Eram trechos ainda que tinham muitos vazios urbanos ao longo dele, próximo das estações, tinha muito uso industrial. Muitas estações desse trecho foram encaixadas na topografia”, explica Vanessa.
📝A professora avalia que o projeto falhou em não considerar a ligação de origem e destino do usuário para definir a localidade de cada estação. Os pontos de embarque e desembarque foram encaixados dentro do trajeto que a antiga linha.
“Faltou chegar ligar origem destino e ao longo das principais estações. Por isso, tem que fazer um planejamento casado entre o uso do solo e o transporte”, finaliza.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
🚌 Integração com terminais de ônibus
Nenhuma das oito estações fazia integração com algum terminal ou linha de ônibus. Diogenes Contijo, ex-diretor do departamento de estudos e projetos especiais da Fepasa, atuou no VLT entre 1990 e 1992. Ele afirma que, sem a vinculação com outro transporte local, “ele ia morrer mesmo”.
“[Ele não teve adesão] exatamente porque não era alimentado por um sistema circular de ônibus urbanos. Não houve essa integração. Se não há essa integração, ele vai morrer mesmo. Não terá demanda”, diz.
De acordo com Diogenes, a integração chegou a ser prevista e sugerida, mas nunca saiu do papel. “A prefeitura deveria ter feito um plano de integração com do sistema de ônibus junto às estações para ter a demanda suficiente para manter o sistema operacional”.
Ele reitera que a implementação do modal deve ser conjunta com uma facilidade e um estímulo para que a população passe a utilizá-lo, como bolsões de estacionamento de carros de passeio.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
🚗 Cultura das rodas e das rodovias
“É uma pena, Campinas poderia ter um modelo de transporte sob trilhos avançado e sofisticado”, confessa Diógenes ao expor que percebe um desinteresse em relação aos modais sob trilhos.
♻️ Assim como o caminho do VLT utilizou os trilhos de outro projeto, alguns trechos do seu leito foram reciclados. Pavimentados, eles foram adaptados como parte dos corredores do BRT Campo Grande e BRT Perimetral.
Vanessa lamenta que os transportes sob os trilhos não façam parte da vida da população, atualmente.
“Nós temos a região de Campinas em 3 milhões de pessoas, [o total] da população do Uruguai. Nós temos uma macro metrópole paulista com 30 milhões de pessoas, [o total da] população do Canadá. E nós não temos trem ligando […] Para mim, esse é o retrato do subdesenvolvimento”, afirma a professora Vanessa.
A professora também afirma que os trens oferecem menos riscos a vida que uma rodovia, e também dão maior qualidade de vida a população. “Manter um carro é um gasto excessivo com manutenção, com pedágio, com gasolina, com etanol, né? Então assim, essa classe média podia estar gastando esse dinheiro na qualidade de vida com outras coisas”
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
🤔 O que é um VLT?
O Veículo Leve sobre Trilhos, conhecido pela sigla VLT, é um transporte sob trilhos que funciona em um trajeto segregado, assim como um BRT e um metrô. Sob trilhos e ao nível da rua, ele foi pensado para transportar passageiros em uma viagem mais contínua e rápida, sem precisar parar em semáforos e enfrentar o trânsito.
Apesar da semelhança, o modal é diferente de um trem, que geralmente carrega consigo muitos vagões. Como o próprio nome já diz, ele tem a proposta de ser mais leve.
Campinas foi a primeira cidade a ter um exemplar, mas não foi a última. Após a experiência campineira, cidades como Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE) implementaram o modelo em suas ruas.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
Reprodução/EPTV
VLT Campinas-Sumaré
A experiência de 1990 não será a última. O governo de São Paulo anunciou em março de 2024 a qualificação de um projeto implantar um novo VLT entre Campinas e Sumaré (SP). Com um trajeto completamente diferente, ele terá dois ramais
um de 22 quilômetros de extensão ligando Campinas, Hortolândia e Sumaré
outro de 22,4 km entre o Centro da metrópole e o Aeroporto de Viracopos, com ligação direta à estação do futuro trem intercidades
Os investimentos previstos são de R$ 2,6 bilhões, mas não há prazo para implantação.
VLT em Campinas: do pioneirismo ao fracasso, especialistas apontam erros 30 anos após última viagem
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*Estagiária sob supervisão de Fernando Evans e Yasmin Castro.
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