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14 Mar 2025, Fri

O Brutalista tem tom grandioso e expõe traumas da guerra – 18/02/2025 – Ilustrada


Tudo em “O Brutalista” é grandioso. O tom, os cenários, as ambições, as controvérsias e a duração, com três horas e meia que causaram a ressurreição dos intervalos nas salas de cinema. Não à toa, venceu o prêmio de direção no Festival de Veneza e agora chega à reta final do Oscar como um dos favoritos na disputa de melhor filme.

Dirigido por Brady Corbet, ator convertido em diretor que assina seu terceiro longa com a claquete na mão, “O Brutalista” ficcionaliza a trajetória de um arquiteto e designer húngaro que transforma a vida urbana americana no pós-Segunda Guerra.

László Tóth, o protagonista, não existiu, mas tem um pouco da vontade de integrar forma e função de Marcel Breuer, do jogo entre espaço e luz natural de Louis Kahn, da experimentação com formas geométricas robustas de Paul Rudolph e da lógica de repetição por meio de módulos pré-fabricados, como os de Erno Goldfinger.

Além da obra, que integra concreto, funcionalismo e imponência, o personagem fictício ainda compartilha com os arquitetos brutalistas um pouco da trajetória, numa betoneira de referências com raízes na infância de Corbet.

“Eu me interesso pelo tema desde muito novo, porque meu tio é arquiteto. Com o passar do tempo, percebi que há vários pontos de encontro entre a arquitetura e o cinema”, diz ele. “Eu penso nas minhas cenas como quartos numa planta —às vezes precisamos de amplitude e grandeza, outras, de intimidade e claustrofobia. Essa dualidade tem a ver com outro desejo, o de filmar uma história sobre a psicologia do pós-guerra.”

As referências todas foram assimiladas pela diretora de arte Judy Becker e, também, por um programa de inteligência artificial que ajudou na elaboração de alguns croquis e imagens digitais vistos ao fim do filme. A entrevista com Corbet aconteceu antes de o fato polêmico vir à tona, meses após uma greve hollywoodiana motivada, entre outras coisas, pela substituição de trabalhadores por máquinas.

O cineasta disse em comunicado, porém, que o uso de IA –na arquitetura e também para aperfeiçoar o sotaque de seus personagens húngaros– foi limitado, um pequeno auxílio para um filme que tinha orçamento curto, de pouco menos de US$ 10 milhões. Diante das controvérsias que engoliram outro dos favoritos da temporada, como “Emilia Pérez”, o debate em torno de “O Brutalista” acabou ruindo.

Corbet credita a totalidade do trabalho ao departamento de direção de arte, que materializou a visão ambiciosa e opulenta não só de Tóth, mas do magnata que, endinheirado, porém sem qualquer veia artística, o contrata para projetar seu legado, na forma de um centro de convivência na Pensilvânia.

Adrien Brody dá vida a Tóth, enquanto Guy Pearce fica com o patrão, Harrison Lee van Buren. Ambos estão indicados ao Oscar –o primeiro em melhor ator e o segundo, ator coadjuvante–, e Brody parece já estar com a estatueta em mãos, depois de vencer o Critics Choice, o Globo de Ouro e o Bafta, no último domingo. Ele também disputa o SAG Awards, o prêmio do sindicato dos atores, que anuncia seus vencedores neste domingo.

“O Brutalista” também vem pavimentando o caminho rumo aos prêmios de direção e de categorias técnicas como trilha sonora e fotografia, embora “Anora”, com os prêmios dos sindicatos dos diretores e produtores, e “Conclave” surjam cada vez mais como concorrentes à altura. Ao todo, o longa tem dez indicações.

Seu roteiro original, assinado por Corbet e Mona Fastvold, é outra aposta sólida para o prêmio, ao acompanhar László Tóth em dois atos, entrecortados por um intervalo de 15 minutos no qual um relógio se impõe na tela do cinema, acoplado a uma ficcional foto de família em preto e branco.

Na primeira parte, Corbet se concentra em mostrar o protagonista em busca do sonho americano, um tema recorrente nesta safra de filmes, apesar de o cineasta acreditar que este sonho já não é mais algo alcançável –há gente demais no planeta, diz.

Um judeu recém-chegado da Hungria após o fim do domínio nazista no Leste Europeu, Tóth vira designer numa loja de móveis em Nova York, até que recebe uma encomenda, transformar uma biblioteca classuda e ultrapassada numa sala de leitura inovadora.

O resultado desagrada à família Van Buren, mas depois é abraçado como pioneiro, à frente de seu tempo, o que o leva a estabelecer um vínculo próximo com o magnata. Ele enche os bolsos de Tóth e lhe dá acesso a advogados que preparam a cena para o segundo ato, quando sua mulher húngara enfim consegue emigrar para os Estados Unidos.

Quando a personagem vivida por Felicity Jones desembarca, numa cadeira de rodas à qual foi confinada devido à saúde abalada pelos campos de concentração, conhecemos outra face de Tóth, um homem autocentrado, indelicado, obcecado e machista, como muitos dos que o cercam.

“Viver nos anos 1950, não só para as mulheres, era algo muito difícil. É interessante que movimentos conservadores romantizem esse período, porque ele foi terrível. Falamos de uma geração que sofreu horrores na década passada e não sabia o que fazer com isso. Não se conversava sobre sentimentos, sobre traumas. Não havia terapia, algo que hoje nem damos o devido valor”, diz Corbet.

O relacionamento dos dois, em seu definhar, passa então a ser o foco do filme, bem como o de Tóth com Van Buren, que de financiador das artes e de grandes sonhos vai a narcisista numa visita dos dois a Carrara, na Itália, de onde querem extrair o mármore para suas obras faraônicas.

Corbet queria que a realidade, nesta segunda parte, fosse “líquida”, espelhando a fantasia inerente àquela comuna italiana –”você explora o planeta para possuir um material que não deveria ter sido tirado de lá, assim como esses personagens se exploram para possuir uns aos outros”, diz o diretor.

“Esse é o problema com o 1% mais rico, eles acham que podem tudo. Essa classe de bilionários, no fim, está completamente entediada. Você chega ao topo, mas o topo também é um platô. Você não tem mais para onde ir. Você compra um brinquedo novo, ele te deixa feliz por algum tempo e depois você se sente miserável de novo. Era importante ser muito direto nessa alegoria”, diz o diretor, resumindo o exuberante, fictício e falido sonho americano de “O Brutalista”.

Tudo em “O Brutalista” é grandioso. O tom, os cenários, as ambições, as controvérsias e a duração, com três horas e meia que causaram a ressurreição dos intervalos nas salas de cinema. Não à toa, venceu o prêmio de direção no Festival de Veneza e agora chega à reta final do Oscar como um dos favoritos na disputa de melhor filme.

Dirigido por Brady Corbet, ator convertido em diretor que assina seu terceiro longa com a claquete na mão, “O Brutalista” ficcionaliza a trajetória de um arquiteto e designer húngaro que transforma a vida urbana americana no pós-Segunda Guerra.

László Tóth, o protagonista, não existiu, mas tem um pouco da vontade de integrar forma e função de Marcel Breuer, do jogo entre espaço e luz natural de Louis Kahn, da experimentação com formas geométricas robustas de Paul Rudolph e da lógica de repetição por meio de módulos pré-fabricados, como os de Erno Goldfinger.

Além da obra, que integra concreto, funcionalismo e imponência, o personagem fictício ainda compartilha com os arquitetos brutalistas um pouco da trajetória, numa betoneira de referências com raízes na infância de Corbet.

“Eu me interesso pelo tema desde muito novo, porque meu tio é arquiteto. Com o passar do tempo, percebi que há vários pontos de encontro entre a arquitetura e o cinema”, diz ele. “Eu penso nas minhas cenas como quartos numa planta —às vezes precisamos de amplitude e grandeza, outras, de intimidade e claustrofobia. Essa dualidade tem a ver com outro desejo, o de filmar uma história sobre a psicologia do pós-guerra.”

As referências todas foram assimiladas pela diretora de arte Judy Becker e, também, por um programa de inteligência artificial que ajudou na elaboração de alguns croquis e imagens digitais vistos ao fim do filme. A entrevista com Corbet aconteceu antes de o fato polêmico vir à tona, meses após uma greve hollywoodiana motivada, entre outras coisas, pela substituição de trabalhadores por máquinas.

O cineasta disse em comunicado, porém, que o uso de IA –na arquitetura e também para aperfeiçoar o sotaque de seus personagens húngaros– foi limitado, um pequeno auxílio para um filme que tinha orçamento curto, de pouco menos de US$ 10 milhões. Diante das controvérsias que engoliram outro dos favoritos da temporada, como “Emilia Pérez”, o debate em torno de “O Brutalista” acabou ruindo.

Corbet credita a totalidade do trabalho ao departamento de direção de arte, que materializou a visão ambiciosa e opulenta não só de Tóth, mas do magnata que, endinheirado, porém sem qualquer veia artística, o contrata para projetar seu legado, na forma de um centro de convivência na Pensilvânia.

Adrien Brody dá vida a Tóth, enquanto Guy Pearce fica com o patrão, Harrison Lee van Buren. Ambos estão indicados ao Oscar –o primeiro em melhor ator e o segundo, ator coadjuvante–, e Brody parece já estar com a estatueta em mãos, depois de vencer o Critics Choice, o Globo de Ouro e o Bafta, no último domingo. Ele também disputa o SAG Awards, o prêmio do sindicato dos atores, que anuncia seus vencedores neste domingo.

“O Brutalista” também vem pavimentando o caminho rumo aos prêmios de direção e de categorias técnicas como trilha sonora e fotografia, embora “Anora”, com os prêmios dos sindicatos dos diretores e produtores, e “Conclave” surjam cada vez mais como concorrentes à altura. Ao todo, o longa tem dez indicações.

Seu roteiro original, assinado por Corbet e Mona Fastvold, é outra aposta sólida para o prêmio, ao acompanhar László Tóth em dois atos, entrecortados por um intervalo de 15 minutos no qual um relógio se impõe na tela do cinema, acoplado a uma ficcional foto de família em preto e branco.

Na primeira parte, Corbet se concentra em mostrar o protagonista em busca do sonho americano, um tema recorrente nesta safra de filmes, apesar de o cineasta acreditar que este sonho já não é mais algo alcançável –há gente demais no planeta, diz.

Um judeu recém-chegado da Hungria após o fim do domínio nazista no Leste Europeu, Tóth vira designer numa loja de móveis em Nova York, até que recebe uma encomenda, transformar uma biblioteca classuda e ultrapassada numa sala de leitura inovadora.

O resultado desagrada à família Van Buren, mas depois é abraçado como pioneiro, à frente de seu tempo, o que o leva a estabelecer um vínculo próximo com o magnata. Ele enche os bolsos de Tóth e lhe dá acesso a advogados que preparam a cena para o segundo ato, quando sua mulher húngara enfim consegue emigrar para os Estados Unidos.

Quando a personagem vivida por Felicity Jones desembarca, numa cadeira de rodas à qual foi confinada devido à saúde abalada pelos campos de concentração, conhecemos outra face de Tóth, um homem autocentrado, indelicado, obcecado e machista, como muitos dos que o cercam.

“Viver nos anos 1950, não só para as mulheres, era algo muito difícil. É interessante que movimentos conservadores romantizem esse período, porque ele foi terrível. Falamos de uma geração que sofreu horrores na década passada e não sabia o que fazer com isso. Não se conversava sobre sentimentos, sobre traumas. Não havia terapia, algo que hoje nem damos o devido valor”, diz Corbet.

O relacionamento dos dois, em seu definhar, passa então a ser o foco do filme, bem como o de Tóth com Van Buren, que de financiador das artes e de grandes sonhos vai a narcisista numa visita dos dois a Carrara, na Itália, de onde querem extrair o mármore para suas obras faraônicas.

Corbet queria que a realidade, nesta segunda parte, fosse “líquida”, espelhando a fantasia inerente àquela comuna italiana –”você explora o planeta para possuir um material que não deveria ter sido tirado de lá, assim como esses personagens se exploram para possuir uns aos outros”, diz o diretor.

“Esse é o problema com o 1% mais rico, eles acham que podem tudo. Essa classe de bilionários, no fim, está completamente entediada. Você chega ao topo, mas o topo também é um platô. Você não tem mais para onde ir. Você compra um brinquedo novo, ele te deixa feliz por algum tempo e depois você se sente miserável de novo. Era importante ser muito direto nessa alegoria”, diz o diretor, resumindo o exuberante, fictício e falido sonho americano de “O Brutalista”.



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