E se humanos chegarem a Marte? O Brasil terá um pedaço? Saiba mais

Foto da Nasa mostra a superfície de Marte


De todos os planetas no Sistema Solar, o mais próximo de ser uma possível segunda casa para os humanos é Marte. Várias missões científicas têm sido realizadas no Planeta Vermelho e a Nasa planeja levar uma tripulação para lá em 2040 (embora até agora não tenha conseguido nem um jeito de tirar os robôs científicos que lá estão).

Com esta ideia de colonizar Marte estando ao mesmo tempo tão próxima e tão distante, aumentam também as dúvidas do que poderia ser feito se chegarmos lá. É possível colonizar o planeta que leva o nome do deus romano da ira e da guerra?

Quem será o dono de Marte?

Ninguém é dono do planeta e nem poderá ser. A pesquisadora Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), explica que nenhum país ou pessoa pode reivindicar a posse de qualquer corpo celeste.

“Sei que há sites, por exemplo, que vendem a posse de estrelas, mas isso não existe. São todos bens coletivos”, afirma ela. A “posse” foi definida no Tratado do Espaço Exterior de 1967: ele estabelece que explorações podem ser feitas em corpos celestes para o bem de todos, mas sem reivindicações de propriedade.

O Brasil teria um pedacinho?

O Brasil, mesmo sem missões próprias, poderia participar de explorações espaciais através de parcerias internacionais com missões de empresas ou de outros países. O astrofísico Thiago Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo da UFRJ e apoiado pelo Instituto Serrapilheira, explica que a maioria das missões espaciais, na verdade, ocorre de forma conjunta, devido aos seus altos custos.

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Marte possui um ar tão rarefeito que não é capaz de filtrar a radiação cósmica

Getty Images

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A temperatura em Marte é de aproximadamente -60ºC

Reprodução

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Atualmente, apenas robôs habitam o planeta

Nasa

Será possível viver lá?

A atmosfera de Marte não é compatível com a vida humana. O ar é composto principalmente por dióxido de carbono e com uma pressão mil vezes menor que a da Terra — é tão rarefeito que é 800 vezes mais “ralo” que no topo do Aconcágua, por exemplo. A temperatura também é desafiadora, ficando em uma média de -60ºC.

Sem trajes espaciais, cilindros de oxigênio e ambientes muito bem controlados, portanto, a sobrevivência humana em solo marciano seria impossível.

O astrobiólogo Douglas Galante, pesquisador da USP e do o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), explica que transformar Marte em um planeta habitável (processo de terraformação) exigiria milhões de anos e um investimento alto.

“Em teoria, Marte é terraformável, mas para fazer isso seria preciso restabelecer o campo magnético, introduzir água e oxigênio na atmosfera, equilibrar a radiação. São processos que demandariam até um milhão de anos para ter êxito e ainda nem temos essas tecnologias. Além disso, o gasto para fazer isso em escala planetária é incalculável. Então, se formos mesmo viver em Marte, provavelmente seremos confinados em condições controladas”, afirma.

Alguns pesquisadores têm pensado em alternativas para terraformar o planeta, mas as ideias incluem até explodir bombas nucleares no planeta com o objetivo de tentar aumentar sua pressão atmosférica para que, com sorte, a água possa se manter em estado líquido na superfície do planeta (o que hoje é impossível).


Os principais desafios de levar humanos para Marte

  1. Chegar lá: Marte está a uma distância de 55 milhões de quilômetros da Terra e é 145 vezes mais distante do que a Lua. Considerando que tivéssemos uma nave capaz de cobrir esta distância, na velocidade dos foguetes atuais, seriam necessários mais de três anos de viagem só para chegar lá.
  2. Estabelecer uma base: seria preciso fazer várias viagens antes com robôs para criar uma base segura para que humanos pudessem trabalhar no Planeta Vermelho. Tudo nela deveria ser trazido da Terra: até o terreno para plantar a comida que os pesquisadores eventualmente fossem comer e o ar que eles fossem respirar.
  3. Viver lá: adaptar o planeta para humanos é uma tarefa que os especialistas estimam que poderia levar até um milhão de anos. Por isso, aos pesquisadores que eventualmente fossem para lá viveriam como astronautas (usando roupas especiais) durante todo o tempo.
  4. Voltar de Marte: se já é difícil mandar uma nave tripulada daqui para lá, onde temos todos os recursos, imagina de lá para cá. O combustível do transporte, seja lá qual for, provavelmente teria que durar os dois trechos. Quase sete anos de combustível — já imaginou o tamanho deste tanque?

Desafios técnicos e financeiros da empreitada

Mesmo a solução mais factível, de construir ambientes controlados em Marte, ainda exige uma imensa e difícil engenharia. Gonçalves aponta que até mesmo a construção de pequenas estruturas habitáveis seria um empreendimento caro e arriscado.

“Mesmo coisas pequenas, como a montagem de um pequeno laboratório capaz de sustentar cinco ou dez pesquisadores, tem custo e risco altíssimos. Sou muito cético quanto às possibilidades de a gente realizar isso nos próximos anos. Não traria grande retorno científico e os custos seriam gigantescos”, completa o astrofísico Gonçalves.

O geólogo Álvaro Crosta, professor da Unicamp, concorda com a avaliação. Ele sustenta que há vários desafios para a manutenção de pessoas no planeta, incluindo a impossibilidade de cultivar alimentos no solo local e a presença da radiação cósmica no planeta.

“As adaptações necessárias para manter a vida humana em Marte já foram, em sua maioria, testadas em escala de laboratório e são viáveis do ponto de vista tecnológico — o problema é financeiro. Os custos para manter pessoas lá e trazê-las de volta à Terra ainda são extremamente elevados. Caso os seres humanos venham, eventualmente, a habitar Marte, isso provavelmente se daria de uma forma temporária, e não permanente. E as condições de habitabilidade seriam provavelmente parecidas com o que se viu no filme Perdido em Marte”, explica Crosta.

Cenário de vida em Marte seria parecido com o descrito no livro “Perdido Em Marte”, de Andy Weir

Um futuro distante

Embora filmes como Perdido em Marte retratem uma colonização realista em pequena escala, os especialistas ouvidos pelo Metrópoles, em geral, são céticos em relação a uma ocupação, mesmo que em pequena escala, do Planeta Vermelho nas próximas décadas.

“Tem muitas coisas para serem feitas antes disso, inclusive chegar lá, que hoje em dia é um grande problema. Precisamos chegar lá, depois descobrir como encurtar a viagem, para só depois pensar em uma eventual ocupação”, completa Daniela.

A ideia de transformar Marte em um novo lar para a humanidade, portanto, permanece um desafio distante. Mesmo que teoricamente seja possível, realizar o feito dependerá de avanços tecnológicos substanciais e de uma colaboração internacional robusta. Em um futuro mais próximo, Marte continuará sendo um planeta habitado só por robôs.

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De todos os planetas no Sistema Solar, o mais próximo de ser uma possível segunda casa para os humanos é Marte. Várias missões científicas têm sido realizadas no Planeta Vermelho e a Nasa planeja levar uma tripulação para lá em 2040 (embora até agora não tenha conseguido nem um jeito de tirar os robôs científicos que lá estão).

Com esta ideia de colonizar Marte estando ao mesmo tempo tão próxima e tão distante, aumentam também as dúvidas do que poderia ser feito se chegarmos lá. É possível colonizar o planeta que leva o nome do deus romano da ira e da guerra?

Quem será o dono de Marte?

Ninguém é dono do planeta e nem poderá ser. A pesquisadora Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), explica que nenhum país ou pessoa pode reivindicar a posse de qualquer corpo celeste.

“Sei que há sites, por exemplo, que vendem a posse de estrelas, mas isso não existe. São todos bens coletivos”, afirma ela. A “posse” foi definida no Tratado do Espaço Exterior de 1967: ele estabelece que explorações podem ser feitas em corpos celestes para o bem de todos, mas sem reivindicações de propriedade.

O Brasil teria um pedacinho?

O Brasil, mesmo sem missões próprias, poderia participar de explorações espaciais através de parcerias internacionais com missões de empresas ou de outros países. O astrofísico Thiago Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo da UFRJ e apoiado pelo Instituto Serrapilheira, explica que a maioria das missões espaciais, na verdade, ocorre de forma conjunta, devido aos seus altos custos.

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Marte possui um ar tão rarefeito que não é capaz de filtrar a radiação cósmica

Getty Images

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A temperatura em Marte é de aproximadamente -60ºC

Reprodução

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Atualmente, apenas robôs habitam o planeta

Nasa

Será possível viver lá?

A atmosfera de Marte não é compatível com a vida humana. O ar é composto principalmente por dióxido de carbono e com uma pressão mil vezes menor que a da Terra — é tão rarefeito que é 800 vezes mais “ralo” que no topo do Aconcágua, por exemplo. A temperatura também é desafiadora, ficando em uma média de -60ºC.

Sem trajes espaciais, cilindros de oxigênio e ambientes muito bem controlados, portanto, a sobrevivência humana em solo marciano seria impossível.

O astrobiólogo Douglas Galante, pesquisador da USP e do o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), explica que transformar Marte em um planeta habitável (processo de terraformação) exigiria milhões de anos e um investimento alto.

“Em teoria, Marte é terraformável, mas para fazer isso seria preciso restabelecer o campo magnético, introduzir água e oxigênio na atmosfera, equilibrar a radiação. São processos que demandariam até um milhão de anos para ter êxito e ainda nem temos essas tecnologias. Além disso, o gasto para fazer isso em escala planetária é incalculável. Então, se formos mesmo viver em Marte, provavelmente seremos confinados em condições controladas”, afirma.

Alguns pesquisadores têm pensado em alternativas para terraformar o planeta, mas as ideias incluem até explodir bombas nucleares no planeta com o objetivo de tentar aumentar sua pressão atmosférica para que, com sorte, a água possa se manter em estado líquido na superfície do planeta (o que hoje é impossível).


Os principais desafios de levar humanos para Marte

  1. Chegar lá: Marte está a uma distância de 55 milhões de quilômetros da Terra e é 145 vezes mais distante do que a Lua. Considerando que tivéssemos uma nave capaz de cobrir esta distância, na velocidade dos foguetes atuais, seriam necessários mais de três anos de viagem só para chegar lá.
  2. Estabelecer uma base: seria preciso fazer várias viagens antes com robôs para criar uma base segura para que humanos pudessem trabalhar no Planeta Vermelho. Tudo nela deveria ser trazido da Terra: até o terreno para plantar a comida que os pesquisadores eventualmente fossem comer e o ar que eles fossem respirar.
  3. Viver lá: adaptar o planeta para humanos é uma tarefa que os especialistas estimam que poderia levar até um milhão de anos. Por isso, aos pesquisadores que eventualmente fossem para lá viveriam como astronautas (usando roupas especiais) durante todo o tempo.
  4. Voltar de Marte: se já é difícil mandar uma nave tripulada daqui para lá, onde temos todos os recursos, imagina de lá para cá. O combustível do transporte, seja lá qual for, provavelmente teria que durar os dois trechos. Quase sete anos de combustível — já imaginou o tamanho deste tanque?

Desafios técnicos e financeiros da empreitada

Mesmo a solução mais factível, de construir ambientes controlados em Marte, ainda exige uma imensa e difícil engenharia. Gonçalves aponta que até mesmo a construção de pequenas estruturas habitáveis seria um empreendimento caro e arriscado.

“Mesmo coisas pequenas, como a montagem de um pequeno laboratório capaz de sustentar cinco ou dez pesquisadores, tem custo e risco altíssimos. Sou muito cético quanto às possibilidades de a gente realizar isso nos próximos anos. Não traria grande retorno científico e os custos seriam gigantescos”, completa o astrofísico Gonçalves.

O geólogo Álvaro Crosta, professor da Unicamp, concorda com a avaliação. Ele sustenta que há vários desafios para a manutenção de pessoas no planeta, incluindo a impossibilidade de cultivar alimentos no solo local e a presença da radiação cósmica no planeta.

“As adaptações necessárias para manter a vida humana em Marte já foram, em sua maioria, testadas em escala de laboratório e são viáveis do ponto de vista tecnológico — o problema é financeiro. Os custos para manter pessoas lá e trazê-las de volta à Terra ainda são extremamente elevados. Caso os seres humanos venham, eventualmente, a habitar Marte, isso provavelmente se daria de uma forma temporária, e não permanente. E as condições de habitabilidade seriam provavelmente parecidas com o que se viu no filme Perdido em Marte”, explica Crosta.

Cenário de vida em Marte seria parecido com o descrito no livro “Perdido Em Marte”, de Andy Weir

Um futuro distante

Embora filmes como Perdido em Marte retratem uma colonização realista em pequena escala, os especialistas ouvidos pelo Metrópoles, em geral, são céticos em relação a uma ocupação, mesmo que em pequena escala, do Planeta Vermelho nas próximas décadas.

“Tem muitas coisas para serem feitas antes disso, inclusive chegar lá, que hoje em dia é um grande problema. Precisamos chegar lá, depois descobrir como encurtar a viagem, para só depois pensar em uma eventual ocupação”, completa Daniela.

A ideia de transformar Marte em um novo lar para a humanidade, portanto, permanece um desafio distante. Mesmo que teoricamente seja possível, realizar o feito dependerá de avanços tecnológicos substanciais e de uma colaboração internacional robusta. Em um futuro mais próximo, Marte continuará sendo um planeta habitado só por robôs.

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