Silvio Almeida quebra silêncio em 1ª entrevista sobre Anielle Franco: ‘Ela se perdeu num personagem’; assista
Silvio Almeida quebrou o silêncio após ser acusado de importunação sexual pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Ao UOL, o ex-ministro dos Direitos Humanos explicou por que permaneceu em silêncio durante cinco meses e afirmou que todas as denúncias contra ele são falsas, incluindo as que foram recebidas pela ONG Me Too Brasil. Ele ainda se manifestou sobre ter sido afastado de seu cargo político e defendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Eu precisava entender o que estava acontecendo, cuidar da família, da saúde, ser abraçado pelos amigos. Também não havia disposição para que eu fosse ouvido. Criou-se um clima de hostilidade. Minha defesa era lida como forma de desrespeito às supostas vítimas. E as investigações são sigilosas. Por isso, resolvi me calar naquele momento. Mas chegou a hora de começar a falar“, declarou ele, sobre não ter comentado publicamente o ocorrido.
Encontros com Anielle
O ex-ministro rebateu as acusações de Anielle e descreveu os encontros dos dois. “Não convivemos durante a transição. Tenho lembrança de ter encontrado Anielle em duas ocasiões. Num jantar, em que minha esposa, grávida, ficou conversando com a ministra. Depois no dia em que fomos anunciados ministros. Não tenho lembrança de ter me encontrado com ela durante os trabalhos. Se aconteceu, foi um encontro rápido nos corredores, ou na saída do Centro Cultural Banco do Brasil, sede da transição, e eu estava com assessores. Fui apenas três vezes à sede. Eu tinha uma série de conferências pré-agendadas na Europa e coordenei o trabalho online“, afirmou.
Almeida negou que tenha feito sussurros eróticos no ouvido da ministra e passado a mão nas pernas dela por baixo da mesa, em uma reunião, em Brasília. “É óbvio que não. Imagine uma reunião em que estão dois ministros. Eu, sentado, na lateral da mesa; a ministra sentada na ponta, outras pessoas sentadas, o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e logo na minha frente, o diretor-geral da Polícia Federal. Eu passaria a mão nas pernas de uma ministra numa reunião na frente do diretor-geral da PF? Isso é um descalabro“, garantiu.
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Ele pontuou que houve uma discordância com Anielle durante a reunião, que tratava casos de racismo em aeroportos. “Surgiu uma divergência entre o que eu propunha e o que a ministra propunha. Visões diferentes de como tratar a questão. Entretanto, ela foi extremamente deselegante. Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: ‘Em todo lugar, você quer dar aula. Aqui não é lugar de dar aula’. Eu me calei. Tinha outro compromisso e saí da reunião. Minha secretária-executiva acompanhou o restante“, detalhou.
Segundo Almeida, ele conversou com seus assessores sobre como “era difícil trabalhar” com o Ministério da Igualdade Racial e com Anielle Franco. “Como ela foi desrespeitosa comigo. Ela fingia ter comigo uma intimidade que nunca teve, falando comigo daquele jeito. Achei inadequado e eu dei uma determinação no ministério: ‘Só vamos falar de questões relacionadas à política de igualdade racial dentro dos limites da competência do Ministério dos Direitos Humanos. Não vamos nos meter nas políticas de promoção da igualdade racial’“, relembrou.
Fofocas e “armadilhas”
O ex-ministro disse que a ministra estaria se sentindo “incomodada” com sua presença na área dela. “Só que eram fofocas. Eu não tinha tempo de lidar com fofoca, o que pode ter sido um erro meu. Não entendido que a política é feita de intriga. Tem gente especialista, dentro e fora do governo, em criar intriga e vazar para a imprensa. Tanto eu quanto Anielle Franco fomos enredados nessa imundice“, elaborou.
Ele também a acusou de cair em uma “armadilha”. “Não prestei atenção em coisas em que deveria ter prestado mais atenção. Ela, da mesma forma. Ela se perdeu num personagem. Para tentar me desgastar, ela participou desse espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim. O objetivo talvez fosse minar minha credibilidade, tirar meu espaço em certos círculos da elite carioca, da academia, com pessoas ligadas ao sistema de Justiça. Me queimar. Essa fofoca se tornou objeto de interesse do jornalismo“, pontuou.
“Isso se tornou um caso de interesse das autoridades policiais. E foi hipotecada uma crise enorme para o governo. Ela perdeu o controle da narrativa. Diante do tamanho da crise, sobraram para ela duas opções. Ou ela dizia que não aconteceu; ou dobrava a aposta na história inverídica, destruindo políticas importantes, a minha vida pessoal e da minha família. Ela escolheu o caminho da destruição“, refletiu.
Acusações da Me Too Brasil
Almeida também foi questionado sobre as outras denúncias contra ele. A professora Isabel Rodrigues foi às redes sociais e disse que tinha sido apalpada por ele por baixo da mesa. Uma ex-aluna também falou que foi assediada pelo ex-ministro. Ele, por sua vez, negou todas as acusações.
O ex-ministro falou que foi amigo “durante anos” de Rodrigues, mas os dois se afastaram após ele morar nos EUA. “De repente, ela aparece candidata (Isabel foi candidata a vereadora em Santo André), se declarando a 15ª vítima, sendo que sequer se sabia qual o número das supostas vítimas. Achei esquisito. E incongruente em relação às atitudes que teve comigo há pouquíssimo tempo. Entrou em contato querendo conversar. Falamos rapidamente sobre a candidatura dela, pouco antes de estourar, e quando isso estoura eu apareço como abusador“, declarou.
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Questionado sobre o motivo das mulheres supostamente, em sua versão, mentirem, ele disse: “Não sei. Não tenho como estar na cabeça delas. O que posso dizer é que não fiz isso. Não sei por que as pessoas mentem. E quem mente tem responsabilidade“.
Almeida contou que houve uma tentativa de interferência em uma licitação no ministério por parte do Me Too Brasil e apenas conhecia “superficialmente a presidente da ONG, Mariana Ganzarolli. “Curiosamente ela me enviou mensagens no ano passado, um pouco antes de acontecer tudo isso, querendo marcar reunião, me encontrar para conversar sobre assuntos do ministério. Dizia que tinha sido recebida por todos os ministros, menos por mim. Não respondi. Achei inadequado pedir agenda para o ministro de Estado fora dos canais oficiais para tratar de assuntos de interesse da organização dela“, revelou.
Prints, desculpas e Lula
Após as denúncias, veio a público uma troca de mensagens de WhatsApp em que Almeida fazia elogios ao vestido de Anielle. Para ele, as mensagens não foram inapropriadas. “Havia um contexto. A mensagem de logo antes tinha uma foto em que nós dois estávamos juntos, abraçados. Isso foi depois da reunião da Anac em que ela disse que passei a mão na perna dela. Ela me mandou a foto para postarmos juntos. Achei gentil e educado dizer que o vestido estava deslumbrante. Acho que ela não ficou ofendida, porque não me disse nada a respeito“, descreveu.
O ex-ministro esclareceu que não pedirá desculpas. “Não vou pedir desculpas se não fiz nada de errado. Não há conforto na injustiça“, declarou. Por fim, ele também falou se ficou decepcionado com Lula após a demissão. “Ele foi levado a uma situação incontornável. Não tinha alternativa“, afirmou.
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“Primeiro, senti uma desorientação. Quando as pessoas começam a falar de uma coisa que você não é, você passa a se perguntar quais foram suas atitudes na vida para que estejam te xingando desse jeito. Em relação ao respeito que eu eventualmente tinha, nunca me iludi com o status de celebridade. E estuprador? Nenhuma das supostas denúncias fala a respeito disso. Isso é coisa de gente má, perversa, canalha. Foi uma experiência de muito sofrimento. Primeiro, vem a tristeza, depois a indignação. Estou indignado. Todas as pessoas que estão se referindo a mim desse jeito vão ser responsabilizadas“, completou.
Almeida vai prestar depoimento nesta terça-feira (25), na sede da Polícia Federal em Brasília, em inquérito que investiga o caso e segue em segredo de justiça.
Assista à entrevista:
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Silvio Almeida quebrou o silêncio após ser acusado de importunação sexual pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Ao UOL, o ex-ministro dos Direitos Humanos explicou por que permaneceu em silêncio durante cinco meses e afirmou que todas as denúncias contra ele são falsas, incluindo as que foram recebidas pela ONG Me Too Brasil. Ele ainda se manifestou sobre ter sido afastado de seu cargo político e defendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Eu precisava entender o que estava acontecendo, cuidar da família, da saúde, ser abraçado pelos amigos. Também não havia disposição para que eu fosse ouvido. Criou-se um clima de hostilidade. Minha defesa era lida como forma de desrespeito às supostas vítimas. E as investigações são sigilosas. Por isso, resolvi me calar naquele momento. Mas chegou a hora de começar a falar“, declarou ele, sobre não ter comentado publicamente o ocorrido.
Encontros com Anielle
O ex-ministro rebateu as acusações de Anielle e descreveu os encontros dos dois. “Não convivemos durante a transição. Tenho lembrança de ter encontrado Anielle em duas ocasiões. Num jantar, em que minha esposa, grávida, ficou conversando com a ministra. Depois no dia em que fomos anunciados ministros. Não tenho lembrança de ter me encontrado com ela durante os trabalhos. Se aconteceu, foi um encontro rápido nos corredores, ou na saída do Centro Cultural Banco do Brasil, sede da transição, e eu estava com assessores. Fui apenas três vezes à sede. Eu tinha uma série de conferências pré-agendadas na Europa e coordenei o trabalho online“, afirmou.
Almeida negou que tenha feito sussurros eróticos no ouvido da ministra e passado a mão nas pernas dela por baixo da mesa, em uma reunião, em Brasília. “É óbvio que não. Imagine uma reunião em que estão dois ministros. Eu, sentado, na lateral da mesa; a ministra sentada na ponta, outras pessoas sentadas, o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e logo na minha frente, o diretor-geral da Polícia Federal. Eu passaria a mão nas pernas de uma ministra numa reunião na frente do diretor-geral da PF? Isso é um descalabro“, garantiu.
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Ele pontuou que houve uma discordância com Anielle durante a reunião, que tratava casos de racismo em aeroportos. “Surgiu uma divergência entre o que eu propunha e o que a ministra propunha. Visões diferentes de como tratar a questão. Entretanto, ela foi extremamente deselegante. Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: ‘Em todo lugar, você quer dar aula. Aqui não é lugar de dar aula’. Eu me calei. Tinha outro compromisso e saí da reunião. Minha secretária-executiva acompanhou o restante“, detalhou.
Segundo Almeida, ele conversou com seus assessores sobre como “era difícil trabalhar” com o Ministério da Igualdade Racial e com Anielle Franco. “Como ela foi desrespeitosa comigo. Ela fingia ter comigo uma intimidade que nunca teve, falando comigo daquele jeito. Achei inadequado e eu dei uma determinação no ministério: ‘Só vamos falar de questões relacionadas à política de igualdade racial dentro dos limites da competência do Ministério dos Direitos Humanos. Não vamos nos meter nas políticas de promoção da igualdade racial’“, relembrou.
Fofocas e “armadilhas”
O ex-ministro disse que a ministra estaria se sentindo “incomodada” com sua presença na área dela. “Só que eram fofocas. Eu não tinha tempo de lidar com fofoca, o que pode ter sido um erro meu. Não entendido que a política é feita de intriga. Tem gente especialista, dentro e fora do governo, em criar intriga e vazar para a imprensa. Tanto eu quanto Anielle Franco fomos enredados nessa imundice“, elaborou.
Ele também a acusou de cair em uma “armadilha”. “Não prestei atenção em coisas em que deveria ter prestado mais atenção. Ela, da mesma forma. Ela se perdeu num personagem. Para tentar me desgastar, ela participou desse espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim. O objetivo talvez fosse minar minha credibilidade, tirar meu espaço em certos círculos da elite carioca, da academia, com pessoas ligadas ao sistema de Justiça. Me queimar. Essa fofoca se tornou objeto de interesse do jornalismo“, pontuou.
“Isso se tornou um caso de interesse das autoridades policiais. E foi hipotecada uma crise enorme para o governo. Ela perdeu o controle da narrativa. Diante do tamanho da crise, sobraram para ela duas opções. Ou ela dizia que não aconteceu; ou dobrava a aposta na história inverídica, destruindo políticas importantes, a minha vida pessoal e da minha família. Ela escolheu o caminho da destruição“, refletiu.
Acusações da Me Too Brasil
Almeida também foi questionado sobre as outras denúncias contra ele. A professora Isabel Rodrigues foi às redes sociais e disse que tinha sido apalpada por ele por baixo da mesa. Uma ex-aluna também falou que foi assediada pelo ex-ministro. Ele, por sua vez, negou todas as acusações.
O ex-ministro falou que foi amigo “durante anos” de Rodrigues, mas os dois se afastaram após ele morar nos EUA. “De repente, ela aparece candidata (Isabel foi candidata a vereadora em Santo André), se declarando a 15ª vítima, sendo que sequer se sabia qual o número das supostas vítimas. Achei esquisito. E incongruente em relação às atitudes que teve comigo há pouquíssimo tempo. Entrou em contato querendo conversar. Falamos rapidamente sobre a candidatura dela, pouco antes de estourar, e quando isso estoura eu apareço como abusador“, declarou.
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Almeida contou que houve uma tentativa de interferência em uma licitação no ministério por parte do Me Too Brasil e apenas conhecia “superficialmente a presidente da ONG, Mariana Ganzarolli. “Curiosamente ela me enviou mensagens no ano passado, um pouco antes de acontecer tudo isso, querendo marcar reunião, me encontrar para conversar sobre assuntos do ministério. Dizia que tinha sido recebida por todos os ministros, menos por mim. Não respondi. Achei inadequado pedir agenda para o ministro de Estado fora dos canais oficiais para tratar de assuntos de interesse da organização dela“, revelou.
Prints, desculpas e Lula
Após as denúncias, veio a público uma troca de mensagens de WhatsApp em que Almeida fazia elogios ao vestido de Anielle. Para ele, as mensagens não foram inapropriadas. “Havia um contexto. A mensagem de logo antes tinha uma foto em que nós dois estávamos juntos, abraçados. Isso foi depois da reunião da Anac em que ela disse que passei a mão na perna dela. Ela me mandou a foto para postarmos juntos. Achei gentil e educado dizer que o vestido estava deslumbrante. Acho que ela não ficou ofendida, porque não me disse nada a respeito“, descreveu.
O ex-ministro esclareceu que não pedirá desculpas. “Não vou pedir desculpas se não fiz nada de errado. Não há conforto na injustiça“, declarou. Por fim, ele também falou se ficou decepcionado com Lula após a demissão. “Ele foi levado a uma situação incontornável. Não tinha alternativa“, afirmou.
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“Primeiro, senti uma desorientação. Quando as pessoas começam a falar de uma coisa que você não é, você passa a se perguntar quais foram suas atitudes na vida para que estejam te xingando desse jeito. Em relação ao respeito que eu eventualmente tinha, nunca me iludi com o status de celebridade. E estuprador? Nenhuma das supostas denúncias fala a respeito disso. Isso é coisa de gente má, perversa, canalha. Foi uma experiência de muito sofrimento. Primeiro, vem a tristeza, depois a indignação. Estou indignado. Todas as pessoas que estão se referindo a mim desse jeito vão ser responsabilizadas“, completou.
Almeida vai prestar depoimento nesta terça-feira (25), na sede da Polícia Federal em Brasília, em inquérito que investiga o caso e segue em segredo de justiça.
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