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14 Mar 2025, Fri

Maravilla Martínez é o rival do Botafogo que foi do lixo ao luxo com o Racing




Adrián Martínez, de 32 anos, trabalhou como coletor de lixo, foi preso injustamente e hoje é visto como um atacante único nos últimos anos de Racing Botafogo perde pro Racing o primeiro jogo da Recopa Sul-Americana
Falou em Maravilha para um botafoguense, pensou nos gols e na irreverência de Túlio. Pois um “xará de apelido” do ídolo alvinegro e de personalidade completamente diferente foi algoz do Botafogo. Trata-se de Adrián Maravilla Martínez, atacante do Racing que sofreu um pênalti e marcou um belo gol na vitória por 2 a 0 dos argentinos na partida de ida da Recopa Sul-Americana, na semana passada.
Botafogo e Racing decidem a Recopa nesta quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), no Nilton Santos. Se o Alvinegro conseguir vitória com saldo de dois gols, será realizada uma prorrogação com dois tempos de 15 minutos. Caso a igualdade persista, o campeão será apontado nos pênaltis.
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O que une Túlio a Martínez são os gols. O brasileiro sempre foi provocador e sorridente, enquanto o argentino é mais fechado. A vida foi dura com o atacante de 32 anos, nascido em Campana, em Buenos Aires. Trabalhou como coletor de lixo, mas hoje colhe os frutos e o luxo de ter terminado 2024 como artilheiro da Copa Sul-Americana, com 10 gols. Na temporada inteira, foram 30 em 49 partidas.
– O que posso te dizer é que Maravilla Martínez é um dos atacantes mais implacáveis do Racing em muitos anos. Tem 35 gols em 54 jogos, é um jogador muito inteligente, se mexe muito bem, é muito inteligente e tem uma leitura muito boa para as diagonais. Se entende perfeitamente com Maximiliano Salas e é versátil para fazer gols – afirmou Nicolas Montalá, que cobre o Racing no “Diário Olé” e no portal “Racing de Alma”.
Adrián Maravilla Martínez comemora gol marcado pelo Racing contra o Botafogo
EFE/ Juan Ignacio Roncoroni
– Define bem no cara a cara com o goleiro, cabeceia muito bem e tem muitos recursos para decidir em espaços reduzidos. Joga bem de costas para o gol e sobretudo se posiciona muito bem ante à linha de impedimento. É lutador e batalhador. Um atacante que mete medo no adversário e que tem muita fome de glória. Pressiona alto e disputa todas as bolas. A verdade é que é um atacante implacável – explicou o jornalista Nicolás Montalá.
Por que Maravilla e por que ele não gosta do apelido?
Adrián Martínez ganhou o apelido em referência ao boxeador Sérgio Maravilla Martínez, também argentino e campeão mundial de pesos médios em diferentes categorias.
Adrián virou Maravilla nos Defensores Unidos, time da Quarta Divisão da Argentina, em 2015. Quando chegou ao Racing, no início de 2024, ele pediu que não o chamassem de Maravilha a fim de evitar uma enorme pressão sobre os ombros. Em entrevista concedida ao “Olé” em fevereiro do ano passado, explicou o pedido ao jornalista Nicolás Montalá.
– Esse apelido soa forte. Se um clube diz “trouxemos Maravilla Martínez”, parece que chega alguém que fará algo diferente dos demais. Isso nunca me incomodou, mas quando você chega em um clube, parece que soa muito forte. Depois, você tem que bancar o apelido – afirmou.
Se Túlio Maravilha adorava o apelido e não se cansava de mencioná-lo na terceira pessoa, Maravilla Martínez é bem diferente.
– Me deram o apelido no Defensores Unidos, mas não era algo tão falado. Agora qualquer garotinho que passa por mim na rua me chama de Maravilla. No Instituto (time de Córdoba que defendeu antes de chegar ao Racing) também me acontecia isso. Em alguns lugares consegui esquivá-lo. É um apelido pesado para mim. Tenho vergonha de ser chamado de Maravilha, me dá vontade de dizer a eles: “Pare, não me diga assim (risos)” – disse, também na mesma entrevista ao “Olé”.
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Em 2022, o Instituto anunciou Martínez dessa forma: “Instituto comunica que “Maravilla” Martínez se soma ao plantel para temporada”
Instituto/Divulgação
Prisão injusta e início tardio no futebol
Antes de viver a maravilha de ser campeão sul-americano com Racing, Martínez sofreu muito. Quando o futebol profissional já não era mais uma realidade – tentara sem sucesso a sorte no Villa Dámine -, sofreu um acidente de moto que o fez perder o emprego de coletor de lixo em uma distribuidora. Passou a trabalhar com alvenaria ao lado de um tio.
Para piorar, em 2014 foi preso injustamente, acusado de invadir a propriedade de um homem que assassinou seu irmão com armas de fogo e de incendiá-lo. Passou sete meses na prisão até ter inocência provada. Em alguns dias foi para o que chamamos aqui no Brasil de “solitária” e os argentinos chamam de “buzones”.
– Conheço muitas pessoas que acreditam em Deus. Até o Diabo, diz a Bíblia, crê em Deus e treme. Todos nós acreditamos que a questão é ver quem cumpre o testamento. Quando entendi isso, minha vida mudou completamente. E olha que eu passei dias em “buzones” (caixas de correio)… É como um banheiro pequeno, dois por dois metros, onde você levanta, dorme, faz tudo ali. Você não pode sair daquele quadradinho. Apenas um pouco de luz entra por uma pequena janela com grades atrás de você. Eu nunca saí de lá, só quando tem visita nas sextas-feiras. Fiquei preso lá até que me deram um chão – disse ao “Olé”.
Em uma das brigas na cadeia, Martínez revelou ao “Olé” que quase foi esfaqueado por conta de um problema relativo a qual preso poderia usar o telefone. Além disso, garante que dependeu da família para poder comer em várias oportunidades.
O recomeço no futebol veio após deixar a cadeia, já aos 22 anos e sem ter feito categoria de base. A oportunidade foi dada pelo Defensores Unidos, da Quarta Divisão da Argentina. Muitos gols o levaram ao Atlanta, da Terceira. E, mesmo num clube muito modesto, conseguiu aparecer com gols contra River Plate, time do coração dele, e Belgrano.
O sucesso o fez alcançar a elite no futebol do Paraguai, onde chegou para defender o Sol de América. Destacou-se e subiu de patamar, indo para o Libertad, clube pelo qual fez um hat-trick em seu primeiro jogo como titular na Copa Libertadores, na goleada por 5 a 1 sobre o The Strongest, em 13 de fevereiro de 2019.
Adrian Martínez com a camisa do Coritiba
Felipe Dalke/CFC
Auge no Racing e idolatria ainda distante
Antes de chegar ao Racing, ainda atuou pelo tradicional Cerro Porteño, do Paraguai, e teve passagem discreta pelo Coritiba. Voltou ao país onde nasceu em 2023, quando o Instituto de Córdoba o contratou para jogar pela primeira vez na elite da Argentina. Marcou 18 gols, balançou as redes de Boca, Independiente e Racing, que se interessou.
Em 2024, o Racing, a tradicional Academia do futebol hermano, pagou dois milhões dólares pelos direitos econômicos do canhoto de 1,80m. O retorno foi praticamente imediato: nos cinco primeiros jogos, cinco gols, três contra o San Lorenzo e dois diante do Newell’s Old Boys.
No primeiro clássico de Avellaneda, jogando na casa do rival, o Estádio Libertadores da América, marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Independiente. Dali em diante, não parou mais de marcar. Foram 30 anotados em 49 partidas. A identificação e o carinho com torcida do Racing cresceram muito.
Porém mais uma vez é preciso diferenciar os Maravilhas. Túlio era bocudo, comunicativo e praticamente um promotor dos grandes clássicos. Adrián Martínez não é carismático e fala pouco. Além disso, o fato de ter exigido publicamente um aumento salarial no meio do ano, algo que acabou conseguindo, não caiu muito bem com a diretoria e parte da torcida do Racing. Não enxergavam nele um sentimento de pertencimento.
– Ídolo ele ainda não é. A torcida o ama, o valoriza, o ovaciona e o aplaude, mas ídolo ainda não é. Não é um jogador carismático, mas a torcida valoriza muito a sua capacidade goleadora. Para ser ídolo leva tempo, ainda está há pouco tempo no Racing – explicou Nicolás Montalá.
Se pouco fala, Maravilla Martínez muito faz. Explodiu tarde no futebol, aos 32 anos, mas já tem em seu currículo um título de Copa Sul-Americana e a artilharia do torneio, algo que pouquíssimos atletas possuem. Será que mais uma taça vem aí? A resposta sairá pouco depois das 23h30 (de Brasília), no Estádio Nilton Santos.
Adrián Maravilla Martínez exibe o troféu da Sul-Americana
Arquivo Pessoal


Adrián Martínez, de 32 anos, trabalhou como coletor de lixo, foi preso injustamente e hoje é visto como um atacante único nos últimos anos de Racing Botafogo perde pro Racing o primeiro jogo da Recopa Sul-Americana
Falou em Maravilha para um botafoguense, pensou nos gols e na irreverência de Túlio. Pois um “xará de apelido” do ídolo alvinegro e de personalidade completamente diferente foi algoz do Botafogo. Trata-se de Adrián Maravilla Martínez, atacante do Racing que sofreu um pênalti e marcou um belo gol na vitória por 2 a 0 dos argentinos na partida de ida da Recopa Sul-Americana, na semana passada.
Botafogo e Racing decidem a Recopa nesta quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), no Nilton Santos. Se o Alvinegro conseguir vitória com saldo de dois gols, será realizada uma prorrogação com dois tempos de 15 minutos. Caso a igualdade persista, o campeão será apontado nos pênaltis.
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O que une Túlio a Martínez são os gols. O brasileiro sempre foi provocador e sorridente, enquanto o argentino é mais fechado. A vida foi dura com o atacante de 32 anos, nascido em Campana, em Buenos Aires. Trabalhou como coletor de lixo, mas hoje colhe os frutos e o luxo de ter terminado 2024 como artilheiro da Copa Sul-Americana, com 10 gols. Na temporada inteira, foram 30 em 49 partidas.
– O que posso te dizer é que Maravilla Martínez é um dos atacantes mais implacáveis do Racing em muitos anos. Tem 35 gols em 54 jogos, é um jogador muito inteligente, se mexe muito bem, é muito inteligente e tem uma leitura muito boa para as diagonais. Se entende perfeitamente com Maximiliano Salas e é versátil para fazer gols – afirmou Nicolas Montalá, que cobre o Racing no “Diário Olé” e no portal “Racing de Alma”.
Adrián Maravilla Martínez comemora gol marcado pelo Racing contra o Botafogo
EFE/ Juan Ignacio Roncoroni
– Define bem no cara a cara com o goleiro, cabeceia muito bem e tem muitos recursos para decidir em espaços reduzidos. Joga bem de costas para o gol e sobretudo se posiciona muito bem ante à linha de impedimento. É lutador e batalhador. Um atacante que mete medo no adversário e que tem muita fome de glória. Pressiona alto e disputa todas as bolas. A verdade é que é um atacante implacável – explicou o jornalista Nicolás Montalá.
Por que Maravilla e por que ele não gosta do apelido?
Adrián Martínez ganhou o apelido em referência ao boxeador Sérgio Maravilla Martínez, também argentino e campeão mundial de pesos médios em diferentes categorias.
Adrián virou Maravilla nos Defensores Unidos, time da Quarta Divisão da Argentina, em 2015. Quando chegou ao Racing, no início de 2024, ele pediu que não o chamassem de Maravilha a fim de evitar uma enorme pressão sobre os ombros. Em entrevista concedida ao “Olé” em fevereiro do ano passado, explicou o pedido ao jornalista Nicolás Montalá.
– Esse apelido soa forte. Se um clube diz “trouxemos Maravilla Martínez”, parece que chega alguém que fará algo diferente dos demais. Isso nunca me incomodou, mas quando você chega em um clube, parece que soa muito forte. Depois, você tem que bancar o apelido – afirmou.
Se Túlio Maravilha adorava o apelido e não se cansava de mencioná-lo na terceira pessoa, Maravilla Martínez é bem diferente.
– Me deram o apelido no Defensores Unidos, mas não era algo tão falado. Agora qualquer garotinho que passa por mim na rua me chama de Maravilla. No Instituto (time de Córdoba que defendeu antes de chegar ao Racing) também me acontecia isso. Em alguns lugares consegui esquivá-lo. É um apelido pesado para mim. Tenho vergonha de ser chamado de Maravilha, me dá vontade de dizer a eles: “Pare, não me diga assim (risos)” – disse, também na mesma entrevista ao “Olé”.
Initial plugin text
Em 2022, o Instituto anunciou Martínez dessa forma: “Instituto comunica que “Maravilla” Martínez se soma ao plantel para temporada”
Instituto/Divulgação
Prisão injusta e início tardio no futebol
Antes de viver a maravilha de ser campeão sul-americano com Racing, Martínez sofreu muito. Quando o futebol profissional já não era mais uma realidade – tentara sem sucesso a sorte no Villa Dámine -, sofreu um acidente de moto que o fez perder o emprego de coletor de lixo em uma distribuidora. Passou a trabalhar com alvenaria ao lado de um tio.
Para piorar, em 2014 foi preso injustamente, acusado de invadir a propriedade de um homem que assassinou seu irmão com armas de fogo e de incendiá-lo. Passou sete meses na prisão até ter inocência provada. Em alguns dias foi para o que chamamos aqui no Brasil de “solitária” e os argentinos chamam de “buzones”.
– Conheço muitas pessoas que acreditam em Deus. Até o Diabo, diz a Bíblia, crê em Deus e treme. Todos nós acreditamos que a questão é ver quem cumpre o testamento. Quando entendi isso, minha vida mudou completamente. E olha que eu passei dias em “buzones” (caixas de correio)… É como um banheiro pequeno, dois por dois metros, onde você levanta, dorme, faz tudo ali. Você não pode sair daquele quadradinho. Apenas um pouco de luz entra por uma pequena janela com grades atrás de você. Eu nunca saí de lá, só quando tem visita nas sextas-feiras. Fiquei preso lá até que me deram um chão – disse ao “Olé”.
Em uma das brigas na cadeia, Martínez revelou ao “Olé” que quase foi esfaqueado por conta de um problema relativo a qual preso poderia usar o telefone. Além disso, garante que dependeu da família para poder comer em várias oportunidades.
O recomeço no futebol veio após deixar a cadeia, já aos 22 anos e sem ter feito categoria de base. A oportunidade foi dada pelo Defensores Unidos, da Quarta Divisão da Argentina. Muitos gols o levaram ao Atlanta, da Terceira. E, mesmo num clube muito modesto, conseguiu aparecer com gols contra River Plate, time do coração dele, e Belgrano.
O sucesso o fez alcançar a elite no futebol do Paraguai, onde chegou para defender o Sol de América. Destacou-se e subiu de patamar, indo para o Libertad, clube pelo qual fez um hat-trick em seu primeiro jogo como titular na Copa Libertadores, na goleada por 5 a 1 sobre o The Strongest, em 13 de fevereiro de 2019.
Adrian Martínez com a camisa do Coritiba
Felipe Dalke/CFC
Auge no Racing e idolatria ainda distante
Antes de chegar ao Racing, ainda atuou pelo tradicional Cerro Porteño, do Paraguai, e teve passagem discreta pelo Coritiba. Voltou ao país onde nasceu em 2023, quando o Instituto de Córdoba o contratou para jogar pela primeira vez na elite da Argentina. Marcou 18 gols, balançou as redes de Boca, Independiente e Racing, que se interessou.
Em 2024, o Racing, a tradicional Academia do futebol hermano, pagou dois milhões dólares pelos direitos econômicos do canhoto de 1,80m. O retorno foi praticamente imediato: nos cinco primeiros jogos, cinco gols, três contra o San Lorenzo e dois diante do Newell’s Old Boys.
No primeiro clássico de Avellaneda, jogando na casa do rival, o Estádio Libertadores da América, marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Independiente. Dali em diante, não parou mais de marcar. Foram 30 anotados em 49 partidas. A identificação e o carinho com torcida do Racing cresceram muito.
Porém mais uma vez é preciso diferenciar os Maravilhas. Túlio era bocudo, comunicativo e praticamente um promotor dos grandes clássicos. Adrián Martínez não é carismático e fala pouco. Além disso, o fato de ter exigido publicamente um aumento salarial no meio do ano, algo que acabou conseguindo, não caiu muito bem com a diretoria e parte da torcida do Racing. Não enxergavam nele um sentimento de pertencimento.
– Ídolo ele ainda não é. A torcida o ama, o valoriza, o ovaciona e o aplaude, mas ídolo ainda não é. Não é um jogador carismático, mas a torcida valoriza muito a sua capacidade goleadora. Para ser ídolo leva tempo, ainda está há pouco tempo no Racing – explicou Nicolás Montalá.
Se pouco fala, Maravilla Martínez muito faz. Explodiu tarde no futebol, aos 32 anos, mas já tem em seu currículo um título de Copa Sul-Americana e a artilharia do torneio, algo que pouquíssimos atletas possuem. Será que mais uma taça vem aí? A resposta sairá pouco depois das 23h30 (de Brasília), no Estádio Nilton Santos.
Adrián Maravilla Martínez exibe o troféu da Sul-Americana
Arquivo Pessoal



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